Loas a Nossa Senhora da Nazaré

 

Fotografia: José Guerra

 

O Louvor não é próprio de débeis e a festa do Círio da Nossa Senhora da Nazaré favorece a ocasião de restauro da veste do louvor, com que admiramos e nos enchemos interiormente (…) As Festas da Nossa Senhora da Nazaré favorecem uma alma nova na Ericeira, que partilhamos com quem nos visita.

 

Estas palavras do Cónego Armindo Garcia, Pároco de S. Pedro da Ericeira, podem ser lidas nas páginas iniciais do livrete distribuído em Setembro de 2016, por ocasião da chegada Veneranda Imagem à terra dos ouriços. Aqui iremos partilhar uma faceta desta devoção tão enraizada entre os jagozes.

No âmbito das Festas em Honra da Nª Sra da Nazaré, cujas comemorações de despedida se iniciam hoje, já tivemos oportunidade de aprofundar a tradição do Círio da Prata Grande, entrevistar elementos da Comissão de Festas e mostrar as melhores imagens da procissão que percorreu as ruas da Ericeira. Agora debruçamo-nos sobre as Loas, tradição em que “anjos” ou “pagens” (personificados por crianças) “deitam loas à Senhora”.

Nª Sra Nazaré 2016 - ph. José Guerra

Com origem provável nos hinos litúrgicos teatralizados nos antigos autos da Idade Média, surgiam sob uma multiplicidade de denominações – entre as quais, Cânticos, Hinos Devotos ou Louvores –, sempre com um carácter meio recitado, meio cantado.

Se a Loa mais antiga à Senhora da Nazaré, recolhida por Leite de Vasconcellos, data do Século XVIII, há temas que se repetem e atravessam as gerações, como o respeito pela tradição herdada de pais e avós – a título de exemplo, nas Canções Devotas da Ericeira, datadas de 1881, lê-se o seguinte: “Para cumprir o legado / Por nossos pais deixado / Avante caminhemos / Com a Virgem a nosso lado”.

Nossa Senhora da Nazaré Ericeira - ph. Círio da Prata Grande

De acordo com Heitor Baptista Pato, no capítulo dedicado à “tradição das loas” no citado livrete, “as loas dos círios integram basicamente cinco momentos: a saída do círio da freguesia que vai receber a bandeira (Ericeira); a chegada ao destino, antes e depois da entrega da bandeira pela freguesia antecendente na ordem do giro (São Pedro da Cadeira); a recespção da bandeira ; os lugares de paragem no percurso de regresso (Encarnação, Picanceira, Sobral da Abelheira, Barreiralva, Murgeira, Paz, Sobreiro, Achada, Cabeça Alta e Seixal); e versos para serem recitados na cerimónias religiosas (missa e procissão).”

Assim, antes de se ouvirem na Ericeira as loas de despedida da Senhora, destacamos alguns trechos do cântico (com autoria de Maria da Conceição Matias dos Reis) ouvido em 2016 durante a procissão:

(Todos / Refrão) Ó povos escutai / O canto da nossa alegria / Com a Ericeira Entoai / Loas à Virgem Maria

(Anjo I) Vens à rua, ó Ericeira! / Segui todos em procissão, / E mostrai desta maneira / Como honrais a tradição

(Anjo III) Pelas ruas engalanadas / Vai Maria a passar, / Nossas casas abençoadas / Nossa terra, nosso Mar!

(Anjo IV) Vem a onda e onda vai / No mar da nossa vida, / És Maria ao pé do Pai / Nosso farol e Mãe querida!

(Anjo V) Maria de Nazaré / Abençoai a Ericeira, / Aumentai a nossa Fé / Dai-lhe força verdadeira

(Anjo VI) Ó Senhora do nosso encanto, / Ó Rainha do doce olhar, / Guardai sob vosso manto / Os nossos homens do mar!

(Anjos I, II e III) A todos que vivem na Ericeira / Dai esperança no dia a dia, / Com alegria verdadeira / Em Vós confiamos, Maria!

(Anjos IV, V e VI) E vós, ó forasteiros, / Que nos acompanhais neste dia, / Vizinhos ou estrangeiros / Louvai a Virgem Maria!

(Todos) Ela é a nossa Mãe querida / Todos acolhe com amor, / Protectora nas marés da vida / Na alegria ou na dor!

Nª Sra. Nazaré 2016 - ph. José Guerra