Fotografia: AZUL
É já no próximo dia 9 de Maio que se celebra a Quinta-feira da Ascensão, efeméride marcada por uma tradição profundamente enraizada na tradição da Ericeira e concelho de Mafra – o “Dia da Espiga” é mesmo o feriado municipal.
Este dia é fortemente celebrado pelos habitantes da região. Incontáveis grupos de pessoas (entre familiares e amigos) juntam-se, logo na véspera, em locais como a Foz do Lizandro ou o Parque de Campismo, montando autênticos acampamentos: estendem-se mantas, montam-se grelhadores erguem-se tendas e acendem-se fogueiras.
a Quinta-feira da Ascensão é também conhecida como o “dia da hora”, um momento sagrado em que o tempo parece congelar
Durante esta noite e todo o dia seguinte a animação é contínua e transversal: dos mais novos aos mais antigos se faz a festa. Não é por acaso que este é o feriado favorito dos jagozes e uma data que chama a curiosidade dos forasteiros pela sua autenticidade.
A tradição manda que esta jornada se inicie logo pela manhã, com um passeio para colher espigas de vários cereais, flores campestres e pequeno ramos de oliveira. Estes elementos, cuidadosamente escolhidos, irão entrelaçar-se num ramo, conhecido como espiga, que carrega consigo não só o simbolismo da abundância, mas também votos de paz, alegria, amor e vida.
Seguindo o ritual, este ramo deverá ser colocado por detrás da porta de entrada de casa, assim atraindo as referidas bênçãos da terra para o lar – essa espiga aí deverá permanecer até ser substituída pela recolhida no ano seguinte. É também desta forma que a tradição se mantém, com o antigo em sintonia com o contemporâneo.
O Dia da Espiga é também conhecido como o “dia da hora”, um momento sagrado em que o tempo parecia congelar. Ao meio dia tudo se aquietava – as águas dos ribeiros não corriam, o leite não coalhava, o pão não levedava e as folhas cruzavam-se. Era nessa hora que se colhiam as plantas para fazer o ramo da espiga, num gesto que transcendia a mera tradição, evocando uma conexão mais profunda com a natureza e os seus ciclos.
O Dia da Espiga é, assim, mais do que uma celebração – é uma homenagem à História, à Natureza e à Comunidade. É um lembrete de que, mesmo nestes tempos modernos as raízes do passado ajudam a sustentar-nos, a guiar-nos e a conectar-nos uns aos outros e ao mundo que nos rodeia.
Enquanto os anos passam e o mundo muda de forma constante e frenética, o Dia da Espiga permanece uma constante num oceano de transformações, recordando-nos a importância de honrar as tradições, celebrar a natureza e cultivar os laços familiares e comunitários.
Na Ericeira e no restante concelho de Mafra esta data transcende um simples marco no calendário, recordando-nos que são as coisas mais simples que carregam maior significado, e é nestas vivências que encontramos a verdadeira grandiosidade.