Fotografia: Câmara Municipal de Mafra
Foi recentemente inaugurado no coração de Mafra, próximo do Palácio Nacional, um novo espaço museológico que se irá constituir como um autêntico guardião do rico legado cultural da região: o Centro de Interpretação “Barro de Mafra”.
Com a sua inauguração, a Câmara Municipal tem como objectivo não só preservar e divulgar como também valorizar a história e a arte da cerâmica local, incluindo o trabalho de olaria e o figurado de barro, considerados como alguns dos traços culturais mais emblemáticos do concelho.
dos primeiros vestígios pré e proto-históricos até à construção do Palácio Nacional de Mafra
Fruto de um investimento de 265 mil euros, este Centro de Interpretação inclui obras efetuadas nas instalações municipais, assim como museografia e instalação de conteúdos multimédia, da autoria de Manuel Gandra e Maria Manuel Bringel.
Um testemunho vivo do esforço conjunto de anos de pesquisa: desde recolhas no terreno até visitas às unidades de produção oleiras, passando pelo registo áudio das memórias dos oleiros e barristas, cada detalhe foi meticulosamente cuidado para capturar a essência e a história por trás dessas formas de arte tradicionais.
As peças expostas, generosamente doadas ou cedidas por oleiros locais, oferecem uma perspectiva abrangente da evolução da cerâmica em Mafra ao longo dos séculos. Dos primeiros vestígios pré e proto-históricos, testemunhados por campanhas de prospecção arqueológica, passado pelo período foral de 1189 e 1513, durante a Idade Média, até à construção do Palácio Nacional de Mafra So século XVIII, a História cerâmica da região é rica e multifacetada.
Inicialmente limitada a peças utilitárias, como bilhas, garrafas, salgueiras, fogareiros, alguidares, tachos, frigideiras, loiça para servir à mesa, vasos ou tigelas, a produção cerâmica local ganhou novos contornos a partir do século XX.
Mesmo diante das transformações trazidas pela industrialização, os oleiros de Mafra souberam adaptar-se, explorando novas técnicas e estilos para atender à demanda dos mercados nacional e internacional. Foi nessa época que surgiu a cerâmica figurativa, destacando-se o mestre José Franco como o seu precursor.
A importância dos oleiros na identidade cultural de Mafra é inegável. O Centro de Interpretação presta homenagem a cerca de 20 destes mestres, recordando as suas contribuições e legados. Entre eles, destaca-se o já referido José Franco, cujo trabalho foi fundamental na criação da Aldeia Típica de José Franco, um museu ao ar livre dedicado à preservação e recriação da identidade cultural da região. Situada no Sobreiro, esta aldeia continua a atrair milhares de turistas todos os anos, testemunhando o contínuo fascínio pela arte cerâmica de Mafra.
O reconhecimento da importância da cerâmica para Mafra transcende as fronteiras municipais. Em 2017, o município foi um dos fundadores da Associação Portuguesa de Cidades e Vilas Cerâmicas e, em 2021, integrou o Agrupamento Europeu Territorial das Cidades Cerâmicas e a Academia Internacional de Cerâmica. Estas associações visam promover a troca de conhecimentos e experiências, assim como fortalecer o papel de Mafra como um centro de excelência na preservação e promoção da arte cerâmica.
O Centro de Interpretação da Cerâmica de Mafra não é apenas um local de visita obrigatória para os amantes da arte e da história, mas também uma celebração vibrante do património cultural e da tradição oleira de Mafra. Ao abrir as suas portas, este espaço convida os visitantes a mergulhar num mundo de criatividade, destreza e história, onde cada peça conta uma história única e duradoura sobre a rica herança cultural desta região.