«A distância em que ela vem, de espaço e tempo… diz tudo»

 

Texto e Fotografia: Filipa Teles Carvalho

 

Lurdes Silva faz parte da actual Comissão de Festas em Honra da Nossa Senhora da Nazaré na Ericeira. Nasceu em Santo Isidoro, mas vive na vila há 57 anos. De muitas palavras e mais risos, vem de uma infância “difícil” até uma actualidade onde dedica muita da sua vitalidade ao serviço da fé e das suas celebrações.

 

Para quem ainda não sabe, o que são estes festejos em Honra da Nossa Senhora da Nazaré?

Isto já vem de há muitos anos. Havia uma paróquia aqui perto, a Igreja Nova. Começou aí. Depois veio para Mafra, veio para Santo Isidoro – que é a minha terra – e depois andou aí por mais umas tantas e veio parar à Ericeira. E de 17 em 17 anos temos cá a Nossa Senhora da Nazaré e estes grandes festejos.

 

E porquê de 17 em 17 anos?

Tem a ver com as freguesias. Primeiro eram só duas freguesias e depois aderiram mais até totalizar as 17. E agora não recebe mais freguesias para não alterar os 17 anos. São do Concelho de Mafra, Torres, Sintra… já há mais a quererem entrar mas agora não entram mais porque iria alterar tudo.

 

Como é que é feita a preparação das festas?

As pessoas têm que se juntar, programar, têm que se reunir, têm que trabalhar muito – cada um nas suas áreas. Tudo é preparado bastante tempo antes, uns três anos ou mais.

 

Como é que se espera que seja este ano?

Que seja bom, que corra bem, que esteja bom tempo. Que tudo ajude, um bocadinho de cada lado. São festas comemorativas, importantes.

“Fortes vão ser as missas e as procissões. A chegada, a entrega da Nossa Senhora. Esse é o ponto fundamental. E depois a partida. Na partida é chocante”

A fé tem aqui um grande papel?

Sim, é uma fé muito grande. Nossa Senhora da Nazaré vem de D. Fuas Roupinho, a partir daí. E depois, na Igreja Nova, começou tudo com uma senhora que estava muito doente. O marido prometeu que se a mulher ficasse boa fazia uma festa à Nossa Senhora da Nazaré. E assim continuou. Já lá vão muitos anos.
Ao longo dos anos foram-se juntando novas freguesias.

 

Na sua opinião, e como membro da Comissão, pode dar-nos uma ideia de quais são os pontos fortes da celebração deste ano?

Existe um programa, mas realmente fortes vão ser as missas, todos os dias, as celebrações; um dia é pelas crianças, outro dia é pelos doentes, outro dia é pelos festeiros, outro dia é pelos festeiros já falecidos e mais. E são as procissões, a chegada, a entrega da Nossa Senhora. Esse é o ponto fundamental.

 

Para quem tem fé esse ponto é muito emocionante, suponho…

Sim. É a chegada e depois a partida. Na partida é chocante. Quem assistir à chegada e depois à partida pensa: “daqui a 17 anos não estou cá.” Principalmente pessoas que estejam doentes ou sejam menos jovens.

 

Há muita comoção?

Sim, vê-se e sente-se. Toda a gente chora. Porque aquilo é comovente, entregar à freguesia seguinte.

 

Espera-se muita gente… tem alguma ideia de quantas pessoas?

Avançar números é difícil. Mas traz muita gente de todo o lado. Se a festa da Nossa Senhora da Boa Viagem já implica uns milhares de pessoas, a Nossa Senhora da Nazaré muito mais. Começa logo pelos parques de estacionamento, que vão ser lá em cima ao pé do LIDL e do ALDI. É fora da vila que as pessoas têm que estacionar os carros. Depois vai haver um autocarro que transporta as pessoas para baixo. Ainda é um bom bocado de caminho, especialmente para pessoas mais velhas e crianças…

 

Portanto vamos ver uma Ericeira…

Inundada…(risos).

“Que seja bom, que corra bem, que esteja bom tempo. Que tudo ajude, um bocadinho de cada lado. São festas comemorativas, importantes.”

Há muita fé, aqui na Ericeira, em relação à Nossa Senhora da Nazaré?

Sim. Embora já se tenha em relação à Nossa Senhora da Boa Viagem… A Nossa Senhora da Boa Viagem é para toda a gente que precisa e que vai viajar. Chamam-lhe a Nossa Senhora dos Pescadores, a verdade é que eles estão no mar e estão sempre a viajar. É por isso. Mas é para toda a gente. Mas esta (Nazaré) é uma Nossa Senhora em que a distância em que ela vem em espaço e tempo… diz tudo. Por exemplo, o meu filho quis casar antes da Nossa Senhora se ir embora. Tem influência na vida de algumas pessoas.

 

Conhece histórias de fé marcantes?

É capaz de haver mas eu não tenho conhecimento, pelo menos que me lembre. O nosso padre costuma dizer que a Ericeira é uma terra muito devota porque tem imagens de tudo o que é santos nas paredes, em toda a vila. Isso quer dizer alguma coisa. Mas a religião vai-se perdendo neste mundo em que estamos a viver. A igreja mesmo assim está cheia, uns com mais fé que outros… eu ainda sou daquelas que arranjo a igreja, faço isto e aquilo, mas vou podendo cada vez menos. Acontece muito que depois de as pessoas ficarem sozinhas – alguns enviúvam – chegam-se mais à religião, aprofundam mais a sua fé. Às vezes está mais adormecida, mas nos momentos difíceis acorda, vive-se mais.

 

Esta festa movimenta muita coisa…

Sim, tudo. Nós que andamos a trabalhar para a preparar, o comércio em si – implica quase tudo e todos. É muita gente e faz mexer muita coisa.

 

Estas festas não se fazem sem os contributos de particulares, de empresas, de várias entidades. Estão a ser generosos este ano?

Sim, embora aqui… – digamos que temos o comércio normal – não é terra que tenha fábricas ou assim. Também por isso é mais complicado. Mas olhe, cada um vai dando aquilo que pode ou que consegue, ou que quer, ou faz um esforço… sei lá. As pessoas vão dando.

 

E que outras formas de angariação de fundos é que a Comissão de Festas encontrou?

É trabalhar muito, é fazer almoços, jantares, rifas, é fazer isto e aquilo; é tudo o que tiver hipótese… é favas fritas, tudo. A gente pega-se a tudo.