Selectcity

Artur Gama - ph. Selectcity

 

Texto: Paulo Galvão | Fotografias: Arquivo/Selectcity

A exportar da Ericeira para o mundo.

 

Foi numa esplanada junto à sua casa do Chiado que combinámos uma entrevista com Artur Gama Claudino, CEO da Selectcity, numa das suas cada vez mais raras permanências de uma semana em Portugal.

Artur Gama Claudino admite que o curso de Ciência Política e Relações Internacionais o terá ajudado a transformar a Selectcity numa grande empresa exportadora. Os últimos anos foram passados em boa parte fora do país, sobretudo em África, onde se tem desenvolvido o negócio da empresa. Mas também é necessário estar presente em feiras um pouco por todo o mundo, visitar o escritório de São Paulo e realizar outro tipo de contactos, daí que os dois passaportes que lhe foram atribuídos talvez não sejam suficientes para o que falta de 2014. “Dou-me bem no meio dos mercados de rua seja em Angola, na Guiné ou na Nigéria, ou a comer comida estranha. Gosto de ir à aventura e de ir descobrindo como vivem as pessoas para quem trabalhamos” – refere o CEO da Selectcity, que visitou África pela primeira vez em 1996, com amigos africanos da sua turma da faculdade, estando longe de imaginar que aquele continente mudaria para sempre a sua vida. Hoje, com 39 anos, Artur Gama lidera uma empresa de trading que em quatro anos se tornou num caso sério de sucesso. O núcleo duro é composto por apenas cinco funcionários – “tenho uma equipa muito competente a trabalhar comigo”, afirma antes de revelar que outras 300 pessoas dependem directa ou indirectamente do desempenho desse círculo restrito. Da primeira vez que foi a Angola, Artur Gama Claudino apercebeu-se que as pessoas não tinham ainda uma identificação com as marcas que existiam. “Por exemplo nós, em Portugal, sabemos que existem duas grandes marcas de cerveja e que existe uma identificação automática da marca por parte do consumidor. Em África isso não existia, porque eles consumiam aquilo que havia.” Esse terá sido o dínamo de todo o processo de internacionalização desta pequena grande empresa cuja sede está situada em pleno “Jogo da Bola”, na Ericeira, e que pretende chegar a vários continentes.

 

Como é que foi pensada a vossa aproximação ao mercado africano?

Primeiro começámos por criar marcas próprias, aproximando-as o mais possível da cultura africana, quer nos sabores quer na imagem, e demos-lhes no fundo mais qualidade do que aquela a que estavam habituados, porque na verdade o que acontecia era que, tipicamente, os produtos que seguiam para África eram sempre de muito fraca qualidade e as pessoas consumiam aquilo que havia. Nós acabámos por fazer o inverso e foi assim que começámos a conquistar mercado. Paralelamente, fomos ter com as marcas líderes em Portugal e pedimos para sermos os seus representantes junto dos nossos clientes, mantendo sempre a mesma estratégia de produtos de qualidade que tínhamos para os nossos produtos.

 

E de que produtos estamos a falar?

Começou por ser vinho, cerveja, esparguete, chouriço e salsichas; depois massa de tomate, depois bolachas, leite, iogurtes, açúcar, arroz, etc.

Temos em África 114 referências de produto

E hoje estamos a falar de quantos tipos de produto?

Hoje temos em África 114 referências de produto no mercado.

 

E qual foi a evolução da empresa em termos de exportações?

No primeiro ano fizemos 25 contentores, no segundo ano fizemos 120, no terceiro 400 contentores e no quarto ano 700 contentores para África.

 

E neste ano de 2014?

Vamos chegar aos 1000 contentores.

 

Essa foi a estratégia para o mercado angolano.

Exacto. Tendo 114 produtos no mercado, é natural que haja produtos com maior sucesso do que outros, ou seja, nem todos têm o mesmo percurso. Por exemplo, o nosso vinho começou a ser muito, mas mesmo muito conhecido, ao ponto de um dos maiores importadores de Angola, com uma rede de distribuição enorme, ter ouvido falar do nosso trabalho e querer começar a trabalhar connosco na área dos vinhos, distribuindo o produto para o país inteiro. Quando isso aconteceu, um desses produtos passou quase a ser uma prioridade para a empresa, sendo que exportamos tanto desse produto como de todos os outros juntos.

 

E como foi feita a entrada noutros países?

As relações que fomos estabelecendo e o trabalho que fomos fazendo de tratar sempre com a máxima seriedade, quer os nossos clientes, quer os distribuidores, assim como os produtores, começaram a ter repercussões nas redes de distribuição um pouco por todo o Oeste Africano, onde começámos a ser conhecidos, e o que acontece é que todos eles querem trabalhar connosco.

A estratégia é conseguir adaptar os nossos produtos às especificidades dos mercados

E qual é a estratégia de aproximação a esses mercados?

A estratégia é conseguir em conjunto com os nossos distribuidores adaptar os nossos produtos às especificidades dos mercados, pois todos os países são diferentes apesar da proximidade geográfica. A colonização fez com que hábitos e costumes em relação aos produtos sejam diferentes: por exemplo, os países francófonos têm uma maior proximidade com o vinho do que os anglófonos, e o nosso papel é fazer com que os nossos produtos possam chegar a todas as culturas. E para isso precisamos de trabalhar numa verdadeira parceria com os nossos agentes locais; e daí a necessidade de passar tanto tempo em África junto deles.

 

Portanto, o vinho é o vosso produto mais bem sucedido em África…

Sim, neste momento é e muito se deve a termos inventado, em 2012, um sistema de vinho em garrafas “mini” com sistema easy open que é um sucesso. Nunca ninguém pensou que acabaria por ter tanto impacto e tanto consumo como tem.

 

Angola é a âncora?

Sim, Angola foi onde tudo começou. Agora exportamos também para a Guiné Conacri, onde em Abril vai haver um festival de música patrocinado por uma das nossas marcas. Será a primeira edição do Imperial Eagle Music Fest. Exportamos também para o Senegal, Libéria, Congo, Serra Leoa, Nigéria e Gana.

 

Onde são feitos os vossos produtos?

No mundo inteiro. Em Portugal fazemos vinho, óleo, azeite, azeitonas, salsichas, chouriço, cerveja e água. Na Turquia fazemos bolachas, esparguete e outro tipo de massas; na China fazemos fraldas e insecticida; na Tailândia fazemos conservas de sardinha e atum. O arroz vem do Vietname e também da Tailândia. Do Brasil açúcar, chupa-chupas, detergentes e bolachas, etc.

A nossa expectativa é sermos os maiores exportadores nacionais de vinho em termos de volume

Uma vez que o vinho representa 50% das exportações da empresa, estamos a falar de que volume?

Estamos a falar de 6,5 milhões de litros de vinho, só no ano passado, o que nos torna num dos maiores exportadores de vinho do país.

 

E quais são as expectativas de crescimento da Selectcity?

A nossa expectativa é sermos os maiores exportadores nacionais de vinho em termos de volume. Tudo depende do que vier a acontecer noutros países em que queremos entrar, na Ásia e na América do Sul. A empresa cresceu tão rápido que nós próprios ainda não sabemos bem quais são os melhores países para entrar, mas uma coisa é certa: o nosso foco está em África e é aí que queremos crescer e ser líderes.

 

Faz sentido uma empresa com este perfil ter sede na Ericeira?

Faz todo o sentido! Os clientes adoram a Ericeira quando nos visitam, assim como os fornecedores quando vêm a reuniões. Já estivemos no Parque das Nações, em Lisboa, mas há dois anos decidimos mudar para a Ericeira. Nada nos impede de fazer seja o que for por estarmos sedeados aqui. É a melhor terra do mundo.

Artur Gama - ph. Selectcity

O CEO da Selectcity numa das suas viagens a Angola.