Ode a Inês Maria Meneses

 

Texto: Joana Martins | Fotografia: DR

 

Não falarei do seu trajecto ou do seu timbre, tão facilmente identificável por aqueles que acompanham o seu trabalho. Já dedicou à rádio anos suficientes para que quem tenha propensão para gostar do que ela faz, já o possa ter apreciado e reconhecido.

Falo da cadência com que as palavras lhe saem ritmadas e falo da entoação que lhes dá. A musicalidade que empresta ao discurso parece imune à pressa dos dias, como se criasse o ritmo certo para que cada palavra se pudesse consumar no seu devido propósito. Como se a forma tivesse, sempre, tanta importância como o conteúdo. Porque afinal o conteúdo só pode ser adivinhado quando a forma é cumprida.

quando a Inês fala, a palavra conta

Falando, ela canta as palavras, para que nenhuma seja engolida sob a acusação de menor importância. Todos os vocábulos contam e todos merecem ser ditos com o compasso que precisam para se firmarem. Como se fosse essencial esse tempo que lhes dá para os plantar num subsolo, onde o ouvinte as vai colher, inteiras.

E as interrogações? São claramente interrogações. Não se apresentam senão como interrogações. Como se nada houvesse nelas senão o prazer de se revelarem em curiosidade, em vontade genuína de saber. Se a Inês faz uma pergunta, quem a ouve reconhece a musicalidade primeva da pergunta não sujeita ao desgaste dos tempos, tão propício a limar arestas e fazer convergir todas as formas de discurso numa monotonia monocórdica que tudo veste. Com a Inês não. A Inês protege da erosão a forma do seu discurso. Qual travão numa engrenagem, assegurando que o andamento que ritma a locução não ignora o que as palavras podem precisar.

Mesmo quando fala de assuntos porventura menos interessantes, menos intelectuais, menos complexos, menos…, ela dá à palavra a mesmíssima eloquência. Fala como se falasse sempre do assunto mais interessante, mais entusiasmante, mais fascinante, mais… Quando a Inês fala, a palavra conta.

Ah! E as interjeições! As interjeições da Inês. Aquele entoar que soa como o puro discurso da criança que ainda se espanta, dando a valorização devida ao acontecimento narrado, mesmo que já repetido nas vidas todas que por ela passam.

Ouvimos por aí que os brasileiros falam português com açúcar. A Inês também. Não que o seu discurso seja sempre doce, não, mas o modo como trata as palavras, sim, é.

Bem haja Inês.