Matheus Nunes: do Ericeirense para o Sporting

 

Fotografia: Sporting CP

 

Sabia que um dos novos “meninos bonitos” do Sporting Clube de Portugal fez a sua formação desportiva no Grupo Desportivo União Ericeirense – GDUE?

É verdade: Matheus Nunes, uma das revelações da Primeira Liga de Futebol Nacional pós-retoma do campeonato, foi um “Guerreiro do Mar” durante várias épocas desportivas – conheça aqui o percurso deste jogador de apenas 21 anos.

Matheus Luiz Nunes nasceu a 27 de Agosto de 1998 no Rio de Janeiro, Brasil, e o GDUE foi a sua casa desde que chegou a Portugal, aos 13 anos.

Foi no Ericeirense que o médio fez toda a sua formação enquanto jogador. E foi também no Henrique Tomás Frade que embalou para agarrar o seu sonho.

Em 2017-18 o Ericeirense sagrou-se campeão da Divisão de Honra da AF Lisboa e subiu à Pro-Nacional, com uma excelente época desta actual promessa dos “leões” de Alvalade.

No início da época seguinte, surgiu uma oportunidade. Com a ida do treinador principal Luís Freire para o Estoril Praia, o nome de Matheus foi sugerido como possibilidade para os sub-23 do clube da Linha.

A partir daí, a ascensão foi quase meteórica. Em meia época, com 12 jogos na Liga Revelação e oito na equipa principal, o médio box-to-box convenceu o Sporting a oferecer 500 mil euros por 50 por cento do passe – ficando com opção de compra de mais 40 por cento, por 500 mil euros.

Na equipa de sub-23 dos leões, Matheus Nunes tornou-se peça essencial, ao mesmo tempo que foi sendo chamado várias vezes a trabalhar com a equipa principal, quer por Marcel Keizer como por Leonel Pontes e Silas.

a ascensão foi quase meteórica

Rúben Amorim, treinador do Sporting, tem apostado no jogador, tal como o presidente Frederico Varandas, que até arriscou uma premonição que ficou célebre no mundo do futebol: «Só Matheus Nunes vai pagar Rúben Amorim», o que equivalerá a cerca de 10 milhões de euros.

Rúben Franco recorda-se bem do dia em que o médio lhe apareceu a pedir para treinar nos iniciados do Ericeirense, já com a época a decorrer.

Ao site Mais Futebol, o ex-treinador do GDUE disse o seguinte: «Nessa altura, todos os que viessem eram úteis. Mas logo no primeiro treino todos percebemos que ele era um jogador muito acima da média para a nossa realidade. Além disso, mesmo não podendo jogar, dava tudo em todos os treinos, como se pudesse ser titular ao fim semana», recorda.

A inscrição, porém, só pôde ser feita no ano seguinte, já com uma autorização da FIFA, que teve de viajar até ao Brasil para ser assinada pelo pai de Matheus e devolvida a Portugal, para onde o adolescente se tinha mudado com a mãe.

A partir daí, a formação de Matheus desenvolveu-se naturalmente. E os sinais da sua qualidade ficavam cada vez mais claros.

«Com a competição, ele tornou-se ainda melhor. Era, sem dúvida, um diamante em bruto que tínhamos nas mãos. Trabalhámos o aspecto em que era menos bom: era muito ele e a bola, e não percebia bem o jogo. Mas era muito perspicaz e, tecnicamente, fenomenal», descreve Rúben Franco.

A qualidade era tanta que, anos depois, quando o técnico assumiu a equipa principal do Ericeirense não hesitou nem um minuto em chamar Matheus para jogar nos seniores.

desde cedo a sua qualidade fez clubes internacionais repararem nele

«Ele era júnior de primeiro ano, mas eu nunca liguei ao bilhete de identidade. Não começou logo a época a titular, mas houve um jogo em que entrou e partiu aquilo tudo e depois foi sempre titular», recorda Franco.

A partir daí a qualidade que mostrou, ainda que num escalão distrital do futebol nacional, fez alguns clubes repararem nele.

No final dessa primeira época a jogar nos seniores, Matheus Nunes esteve uma semana a treinar à experiência nos ingleses do Leicester, convencidos pelo vídeo que pode ver abaixo.

O jovem acabaria, porém, traído pelo inesperado título da equipa de Ranieri. «Eu acompanhei-o durante essa semana e ele fez bons treinos, tecnicamente deslumbrou toda a gente, mas esse foi o ano em o Leicester foi campeão e aquilo era a loucura total por causa disso. Talvez não lhe tenham dado a devida atenção por tudo aquilo que estava a acontecer», acredita Rúben Franco.

Pela mesma altura, Matheus esteve a treinar à experiência no Lille e também no Sp. Braga. «Reconheciam-lhe qualidade, mas diziam que não era aquilo que procuravam», recorda o técnico.

Assim, na época seguinte, continuou a ser o Ericeirense o clube que representou e onde um dos grandes conselheiros foi Humberto Salvador, dirigente e ex-capitão do Ericeirense que chegou também a partilhar o balneário com Matheus.

o jovem jogador chegou a trabalhar numa das pastelarias Pão da Vila

«Sempre acreditei nele, porque além da qualidade técnica tinha muita cabeça. E por isso lutei sempre para ajudar a que ele tivesse uma oportunidade no futebol, onde a qualidade nem sempre basta, como sabemos todos,», defendeu perante o Mais Futebol.

Entre jogar no Ericeirense e servir à mesa e balcão numa das pastelarias de Humberto – actual proprietário do Pão da Vila –, também nessa época Matheus Nunes esteve a treinar à experiência no Benfica B, onde  disseram que ele tinha valor, mas que não estava preparado para a exigência de uma II Liga e da equipa B dos encarnados.

«Ele é muito focado. Basta ver que nos últimos dois anos, ganhou 15 quilos de massa muscular. Acho que isso diz muito do quanto ele quer singrar no futebol. Este é um mundo feito de oportunidades, e tudo indica que ele terá a dele, até porque o clube vai ter de apostar na prata da casa», realça Humberto Salvador.

Outro sinal que o amigo de Matheus vê do foco do jogador prende-se com a reacção do jovem às palavras de Frederico Varandas.

Matheus Nunes parece preparado para brilhar

«Ainda no fim de semana brincava com ele, porque havia um jornal que o apelidava de ‘monstro’, e agora o presidente diz isto. Mas ele não liga. Hoje falei com ele sobre isso e não me parece que se sinta pressionado. O que ele me disse foi o mesmo de sempre: ‘eu quero é mostrar o meu futebol’», revela.

Cerca de dois anos depois de ter sido “chumbado” pelo Benfica, Matheus Nunes parece preparado para brilhar do outro lado da Segunda Circular… e não só!