Biblioteca do Palácio de Mafra entre as mais belas do mundo

 

Fotografia: Massimo Listri / Taschen

 

A biblioteca do Palácio Nacional de Mafra, que já foi distinguida como uma das mais espectaculares do mundo, surge agora entre as mais bonitas a nível global.

A recente distinção surge no livro “The World’s Most Beautiful Libraries”, editado pela conceituada Taschen.

O volume de 560 páginas, com o preço de 150€, é uma edição trilingue (escrita em inglês, alemão e francês) em que a fotografia de Massimo Listri assume o protagonismo.

Neste coffee table book, editado em 2018, encontram-se mais duas bibliotecas de origem portuguesa, sendo que uma delas “mora” no Brasil: o Real Gabinete Português de Leitura, no Rio de Janeiro, instituição que recentemente passou por grandes dificuldades e cuja actividade se deve hoje em boa parte a portugueses e luso-descendentes; a outra é a Biblioteca Joanina, em Coimbra.

A biblioteca do palácio-convento de Mafra, desenhada pelo arquitecto Manuel Caetano de Sousa e completada em 1771, “é considerada uma das mais magníficas bibliotecas do rococó em todo o mundo” e mantém “intacta a sua aparência histórica”, começa por escrever Elisabeth Sladek, lembrando em seguida que, tal como a de Coimbra, é um projecto de D. João V que só é dado por terminado no reinado do seu filho, D. José I.

Entre os seus fundos compostos por 36 mil volumes Sladek destaca as partituras originais para o “famoso conjunto de seis órgãos da basílica do palácio”, único no mundo, e a bula papal de 1745, assinada por Bento XIV, que permite a esta biblioteca ter em três das suas estantes de um branco acinzentado com alguns apontamentos de dourado, hoje já muito desmaiados, uma série de obras que se encontravam no índex de livros proibidos pela Santa Sé. Muitos destes títulos arrumados sob o tema “Miscelânia vária” estão ligados às chamadas ciências ocultas, como a alquimia, e à astronomia, como os de Giordano Bruno, filósofo e teólogo italiano condenado à fogueira pela Inquisição, acusado de heresia por defender, entre outras coisas, que a Terra girava à volta do sol.

Mário Pereira, director deste monumento sublinha que é a conjugação da “estética” com a “qualidade do acervo” que torna a biblioteca verdadeiramente especial. “Tornou-se comum para nós ver a biblioteca entre as mais belas do mundo, sobretudo na imprensa anglo-saxónica, e quase sempre nas quatro ou cinco primeiras. É claro que é bom estar entre os mais bonitos, mas aqui o que conta é esta simbiose quase perfeita entre o contentor e o conteúdo”, diz, explicando: “Se o espaço é bonito ou não, se merece estar entre os mais apelativos ou não, é subjectivo, mas a qualidade do seu acervo é um dado absolutamente objectivo. Esta biblioteca é, sem sombra de dúvida, uma das mais importantes do mundo no que toca a obras impressas entre o século XV e a primeira metade do XVIII.”

The World’s Most Beautiful Libraries

A obra apresenta ao leitor 55 espaços, alguns deles com áreas de acesso muitíssimo restrito, como a Biblioteca Apostólica Vaticana, na cidade dos Papas, fundada por volta de 1450 (o actual edifício é do final do século XVI) e paradigma da associação destas instituições à investigação e à produção de conhecimento ao longo dos séculos.

Com 17 bibliotecas, Itália é de longe o país que mais atrai a objectiva de Massimo Listri, encontrando-se instituições dispersas por mais de dez países.

Num texto introdutório a que deu o título de “Memória do Mundo”, o historiador Georg Ruppelt escreve que «As bibliotecas são repositórios tanto dos factos do mundo real como dos dos muitos mundos alternativos da imaginação. E é por isso que conservam a mente humana em toda a sua riqueza e beleza, em toda a sua perfeição e crueldade, em tudo o que tem de luz e de trevas.”