Um desabafo à beira-mar

 

Texto: Catarina Baleia | Fotografia: Sónia Nunes

 

Como é possível que os marcadores do tempo nos estejam a deixar loucos? Saudavelmente loucos! Ainda nos resta alguma saúde mental para conseguir aguentar e seguir em frente.

A questão é: até quando e como? Poderia estar a referir-me à saúde mental como me refiro ao confinamento.

Uma pedrada no charco do mar que observo é aquilo que sinto.

Para onde podemos ir se não temos uma meta? Passou um ano, e é impossível que todos os erros que aconteceram no plano traçado para Portugal tenha sido apenas ausência de responsabilidade cívica. É impossível que seja apenas culpa do Natal.

até quando e como?

Com tanta informação paradoxal, os cidadãos ficam sem saber como agir.

Para muitos o desconfinamento tarda, e tarda porque não sabemos nada.

A informação que nos chega, além de decisões paradoxais, é ruidosa, com uma linguagem muitas vezes inacessível.

Estamos a desenterrar fantasmas que vão esmagar a dignidade humana.

Temos o dever, neste momento, de estabelecer os nossos limites, estabelecer a nossa noção, agir com base nela, estruturarmos os nossos passos de forma a reestruturarmos os nossos alicerces.

Temos sido pacientes! Por uns pagam outros, e por todos quem pagará?

Olhando o mar, sabemos que somos uma formiga no topo da montanha, facilmente aniquilável, mas estamos no topo, ou seja, está tanto do futuro nas nossas mãos…

O desconfinamento tarda, tarda bastante para quem conta o dinheiro que já escasseia, para quem até a data recebeu nada ou quase nada dos meses que encerraram o ano passado e daqueles que abriram 2021.

Não se trata apenas de uma questão económica, trata-se também da educação, de saúde, sociedade e por aí fora.

não merecíamos este novo abalo, temendo em dobro pela nossa saúde e economia

Que país pode sossegar quando não investe na educação nem na cultura e deixa chegar a sua saúde a uma situação de ruptura?

Para que todos possamos contribuir para voltar a nadar neste mar, ou seja, para nos levantarmos de uma segunda queda, não vamos caçar bruxas nem culpados, vamos fazer ouvir as nossas metas, em cada comunidade, não esquecendo a realidade, buscando a verdade, fazendo com que este paradoxo vivido seja clarificado, exigindo os nossos direitos e acima de tudo mantendo o bom senso no que toca a comportamentos e acções.

Não merecíamos este novo abalo, temendo em dobro pela nossa saúde e economia.

Todos sentimos o mesmo ao olhar este mar: que o mundo é tão vasto e neste momento tão devastador.

Sejam menos burocráticos, sejam mais humanos!! Se alguém nos puder ouvir…