Fotografia: Márcio Barreira
Não se deixem enganar pelo título (conveniente e desenjoativo) de inspiração ciclística: os principais protagonistas do Sumol Summer Fest não foram os músicos do cartaz: os momentos de maior fervor e entusiasmo vividos ontem no recinto montado em pleno Ericeira Camping deveram-se à Selecção Nacional de Futebol, apurada para os quartos-de-final do Euro’2016 num jogo transmitido nos ecrãs gigantes do palco Sumol a partir das 20:00. Como o Portugal-Croácia apenas se decidiu no prolongamento (devido ao empate a zero após os 90 minutos), o restante alinhamento do festival de música sofreu atrasos, pelo que batiam as três da manhã quando Robin Schulz subiu ao Palco Sumol para encerrar a noite.
Na realidade, tudo girou em torno da Selecção, depois e antes do jogo: logo para começar, a sueca Elliphant teve de tocar mais cedo do que o previsto, não se incomodando com o Sol que brilhava bem alto para debitar a sua pop com influências EDM (ora puxando ao dubstep, ora enveredando por batidas techno) perante um público não muito numeroso mas interessado.
De seguida entrariam em cena os reis da noite: mal foram emitidas as primeiras imagens da Selecção Nacional o espaço em frente ao palco principal encheu-se de festivaleiros transformados em adeptos que cantaram o hino com fervor e acompanharam de forma emotiva a partida. O golo solitário de Ricardo Quaresma levou o recinto ao delírio e os gritos de “Portugal! Portugal!!” ecoaram durante largos minutos pelo recinto. Portugal seguia em frente e o Summer Fest continuava dentro de momentos.
Caberia a Jimmy P assegurar a transição. Acompanhado pela sua banda ou tendo Valete como convidado (entre as músicas rimadas pelo rapper da Damaia houve “Assalto à Casa Branca” e “Roleta Russa”), o filho do ex-futebolista Jorge Plácido deixou boa parte do público feminino “On Fire”. Seguiram-se os noruegueses Madcon, que vieram para fazer a festa e cumpriram a promessa, com uma sonoridade upbeat que por vezes faz lembrar os Blackeyed Peas. Logo a abrir deram os parabéns a Portugal pela vitória futebolística e mantiveram o nível de euforia ao longo do espectáculo, que teve o hit “Beggin’” como um dos pontos altos.
Tinie Tempah, um dos principais fenómenos de popularidade do cartaz, era um dos nomes mais aguardados da noite. DJ Charlesy abriu-lhe o caminho com malhas hip hop que não enganam (como “Jump Around” de House of Pain) e depois seria o único parceiro de palco do rapper britânico de origem nigeriana, que rimou e actuou sobre os beats. Tempah procurou compensar a ausência de banda enchendo o palco com uma performance que apostou nas projeções visuais, na interacção com o público e em êxitos como “Mamacita” ou “Girls Like”.
Numa noite dominada pelo hip hop, tanto no palco Sumol como no alternativo (selecção criteriosa de nomes consagrados e novos valores nacionais: de Bispo a Slow J, passando por Cruzfader), coube ao DJ e produtor alemão Robin Schuz encerrar a noite com a sua house music de paladar tropical.
O Sumol Summer Fest renovou a aposta numa mudança de paradigma, passando do reggae para um híbrido de estilos musicais: neste cartaz houve muito hip hop e electrónica, mas também kizomba e outros géneros cuja coerência nem sempre ficou bem perceptível. A vontade de acompanhar as tendências do target juvenil poderá vir a dar frutos no futuro, mas para tal será bom que o festival defina e afirme a sua nova identidade de forma mais consistente.