Fotografia: Márcio Barreira
Texto: Hugo Rocha Pereira
Estando em pleno Euro’2016 (que hoje vai fazer parar, literalmente, o Sumol Summer Fest), é inevitável recorrermos a algumas metáforas futebolísticas, a começar pelo título da reportagem.
Gabriel o Pensador, cabeça-de-cartaz do primeiro dia do festival de música da Ericeira, fechou o palco principal e mostrou estar verdadeiramente em casa. A sua relação com a Ericeira tem-se aprofundado a olhos vistos este ano (basta checkar o Facebook para o comprovar) e o concerto foi um reflexo desse à-vontade e prazer em tocar numa terra que lhe diz muito. O rapper brasileiro abriu o alinhamento com duas faixas de forte crítica social (a recente “Chega” e a clássica “F.D.P.”), encheu o ar de maresia com “Cachimbo da Paz”, contou histórias de surf e tocou versões de Bob Marley (“Three Little Birds”; “Could You Be Loved”), lembrando o historial reggae do Sumol Summer Fest e a influência deste género musical na sua carreira artística. Pelo meio falou de amigos avistados no meio da plateia, como os ilustres Tiago Oliveira, Miguel Fortes – haveria ainda de dedicar uma música aos filhos deste – e João Valente, referências do surf português, dentro ou fora de água. E levou o público ao rubro em vários momentos, com hits como “Solitário Surfista” e “2, 3, 4, 5, Meia, 7, 8” ou improvisando num freeestyle que se prolongou por largos minutos, levando toda a plateia a abanar os braços no ar. “Gabriel o Pensador já é de casa” e foi o grande vencedor da jornada inaugural do SSFest’2016, realizado na Reserva Mundial de Surf da Ericeira.
O dia começara com vista para uma das ondas mais emblemáticas da WSR, Ribeira d’Ilhas, que acolheu um Soundset protagonizado por Blaya (workshops de dança) e Riot, com um set de Zouk Bass. O Palco Sumol, no interior do Ericeira Camping, abriria em português, com Trevo (estreantes nestas andanças, não acusaram a pressão, cativaram o público e mostraram potencial para outros voos) e Regula, que fez subir ao palco vários convidados: Sam the Kid, Holly Wood e Fábia Maria, que apresentou uma cover de “Toni do Rock”.
Continuando nas proximidades musicais (hip hop, entenda-se, mas também soul e house), Azealia Banks entrou em cena para elevar o patamar das performances, com bailarinas, coreografias, show visual e muita dinâmica. A artista vinda no Harlem fez jus ao estilo aventureiro, enérgico e sem complexos que traz colado à pele: “love me or leave me”. E o público adorou.
Entre Azealia e Gabriel, o palco foi ocupado por um especialista em questões sentimentais, tão romântico que chamou um casal ao palco, oferecendo-lhe flores. Podia ser Impulse, mas tratava-se mesmo de Nelson Freitas, que trouxe calor e ritmos africanos à Ericeira, desfilando êxitos como o inevitável “Bo Tem Mel”, recebido com um misto de berros e suspiros. O cantor de origem cabo-verdiana, que teve como convidados Mikkel Solnado e Richie Campbell, não se cansou de puxar pelo público e, na recta final, apresentou a banda, dando aos músicos que o acompanham espaço para brilhar em solos instrumentais: ousaram, inclusivamente, uma aproximação afro ao hino de estádio (já não metíamos uma bucha futebolística há algum tempo) “Seven Nation Army”, dos White Stripes.
Este dia, que apresentou um recinto compostinho, principalmente a partir da actuação de Regula, teve no palco Sumol Remix Sound Academy um nicho de público mais pequeno em quantidade mas bastante fervoroso e conhecedor das tendências electrónicas contemporâneas, como é o caso de Nigga Fox (encaminhou-nos para as margens mais actuais tendo como ponto de partida um impulso tribal) ou Riot, que apresentou um set abrangente, com remixes de hits globais como “Hotline Bling” de Drake.
Hoje, segundo e derradeiro dia da 8ª edição do Sumol Summer Fest, há vários nomes fortes (Tinie Tempah e Robin Schulz, por exemplo) e atracções extra-musicais, como o jogo Portugal-Croácia, a decidir quem se apura para os quartos-de-final do Euro’2016, com transmissão nos ecrãs gigantes do palco Sumol a partir das 20:00. Portugal Summer Fest Allez!!