Fotografia: Susana Rodrigues
Texto: Hugo Rocha Pereira
Blaya, conhecida bailarina e MC dos Buraka Som Sistema, actua hoje no Sumol Summer Fest, na Ericeira, onde começou a semana a convite da AZUL. A manhã de segunda-feira foi bem preenchida: a cantora mostrou toda a sua energia e desenvoltura numa aula de Stand Up Paddle – podem ver o vídeo aqui – e antes do almoço aproveitámos para realizar uma entrevista que teve como mote a Ericeira e as actuações no festival de música. Outros motivos de conversa foram os Buraka (cujo concerto de despedida se aproxima a passos largos) e a dança – seja twerk ou kudafro, o que interessa é passar a mensagem de que qualquer pessoa pode exprimir-se bem, independentemente de como seja o seu corpo.
Já tinhas feito SUP? Como foi a experiência?
Não, nunca tinha feito SUP, foi a primeira vez. Foi muito divertido, é fácil. É assim, com ondas deve ser uma coisa muito difícil, mas assim com a água calminha é bastante fácil. Ainda por cima, pratico desporto e gosto muito de desafios. Já tinha feito surf… surf não tem nada a ver com SUP, apesar de serem ambas feitas com pranchas e água, mas gosto mais de SUP do que de surf. Gostei imenso da experiência, foi muito bom.
O SUP tem uma variante chamada Sup Wave em que dá para apanhar ondas…
Isso eu não tentei, nem estou preparada para isso. Gostava de ter feito umas corridas, que eu gosto de desafios, mas quem sabe um dia experimente assim com ondas, não sei. Vamos ver.
Já conhecias a Ericeira…
Já. Estive aqui a fazer uma sessão fotográfica para a Doghouse, e depois também estive aqui a “surfar” [risos]. Foi para aí há 5 anos, mais ou menos. Eu comecei a surfar, tinha assim a mania, então vinha para aqui com uma amiga. Ela morava aqui, e eu praticava nas manhãs… Mas depois desisti.
Lembras-te para que praias costumavam ir? E tiveram aulas ou iam sozinhas?
Que me lembre, fomos para Ribeira d’Ilhas e outra vez fomos para a Foz Lizandro. Foi sempre com aulas. A minha amiga não fazia surf! Eu vinha para casa dela. Porque ela, na altura, namorava com um dos professores da escola de surf. E depois fui para o Brasil, comprei uma prancha de surf, mas o problema é que a prancha que me venderam não era para principiantes e então eu desisti logo.
À noite, quem sabe, talvez ainda vá ter com o Riot ao palco, para dar uma rimas e puxar pelo público.
Como têm sido as tuas experiências no Sumol Summer Fest, quer em nome individual, quer com os Buraka?
Tem sido sempre excelente, tanto a dar aulas como em concerto, é sempre uma boa energia. Ainda por cima o ano passado tive oportunidade de estar em Ribeira d´Ilhas e ir ali à areia chamar o pessoal: “Ok, bora lá, pessoal, fazer a aula”, falar com o pessoal, tentar incentivá-los a fazer a aula, porque nestes espaços abertos as pessoas têm muita vergonha. E nestes eventos, como o Sumol Summer Fest, temos mesmo que apanhar todas as oportunidades para sermos felizes e para fazermos o que realmente gostamos, para estarmos com um sorriso na cara. Estou aqui num festival super fixe, tem mar, tem tudo. Estou aqui a ver os surfistas passar, e não vou fazer aula, não me vou divertir, não vou suar mais um bocadinho?!
Queres falar um bocadinho das actuações agendadas para este ano?
No Soundset de Ribeira d’Ilhas vou ter os meus workshops, que vão durar 30 minutos, e depois o Riot vai lá estar a passar música e eu vou fazer de MC, animar o pessoal. E depois à noite, quem sabe, talvez ainda vá ter com o Riot ao palco, quando for o set dele, para dar uma rimas e puxar pelo público.
Nasceste no Brasil, mas vieste para Portugal muito cedo. Ainda tens muita relação com o Brasil?
Sim, eu nasci no Brasil, dois meses depois vim com a minha mãe. O meu pai veio primeiro e eu depois vim com a minha mãe. Às vezes vou lá passar férias, toda a minha família é brasileira, por isso toda eu tenho raízes brasileiras. Claro que a minha cultura é um bocadinho mais portuguesa do que brasileira, porque vivo com a cultura portuguesa desde sempre. Só que o meu sangue é brasileiro. E os meus pais sempre me ajudaram muito a ser mais confortável comigo própria, a dançar quando eu quisesse. Depois também cresci com música brasileira, e o meu pai adora musica brasileira e dança. Já a minha mãe detesta barulho. Eu herdei muito a energia da parte do meu pai.
Não fizeste parte dos Buraka desde do início, mas passado pouco tempo parecia que eras uma peça-chave da banda desde o inicio. Fala-nos um pouco da tua experiência nos Buraka Som Sistema.
Os Buraka começaram em 2006. Eu entrei em 2008, apenas como bailarina, ao mesmo tempo que a Pongo Love. À medida que o tempo foi passando, como ela não podia cantar no estrangeiro por ser menor, eu comecei a ir por ela. Aqui em Portugal comecei por cantar o “Aqui Para Vocês” e, à medida que tempo foi passando, fui cantando mais músicas nos Buraka e ocupando ali um espaço muito importante para mim. E foi assim a minha adolescência toda. Foi desde os 20 até agora aos 29. Vamos ter agora um último concerto e depois vamos parar por tempo indeterminado, vamos ver, vamos refrescar as nossas ideias.
Fui cantando mais músicas nos Buraka e ocupando ali um espaço muito importante para mim.
E como vai a gestão das emoções enquanto se aproxima o último concerto, marcado para 1 de Julho?
É claro que eu fico triste, fico a pensar… mas fico mais triste por não estar com eles, por não ter os concertos e não estarmos todos juntos, porque na verdade já estamos há 10 anos juntos. Já é mesmo muito tempo. Agora cada um vai para o seu lado, cada um vai fazer as suas coisas. Apesar de nos darmos todos bem, ninguém se chateia, mas cada um precisa de se focar nos seus próprios projectos. E, se por acaso tivermos outras ideias, telefonamos, mandamos mensagem, juntamo-nos outra vez e pronto.
E quais são os teus planos para o pós-Buraka?
Vou investir no meu projecto a solo, vou começar a escrever as minhas coisas e a pegar em algumas coisas que já tinha gravado. Vou agora concentrar-me, vou ter mais tempo para isso. Depois tenho imensos projetos a nível social, para ajudar as pessoas… Tenho um evento que se chama “Afro Battle”, que é só afro house e kuduro, para meter os miúdos dos bairros a participar. Este ano correu muito bem e para o ano vamos lá estar outra vez, em Março. Tenho outro projecto que se chama Dance Project Tour. Somos quatro professores, viajamos por Portugal a dar aulas de quatro estilos diferentes. Tenho ainda outro projecto que são as BSM, comigo e mais duas raparigas a dançar Afro House, Kuduro, Funk…
Tu transfiguras-te quando actuas ou és mesmo assim?
Faz parte da minha personalidade, mas um artista quando trabalha tem que mudar um bocadinho o seu “eu”. Então, claro que em palco dou o dobro do que realmente sou, porque estou num sítio mais alto, num sítio mais afastado das pessoas, estou num sítio com imensas pessoas de diferentes personalidades: então tenho que agarrar todas as personalidades de maneira diferente quando entro em palco. Meto sempre na cabeça que estou ali para agradar às pessoas, independentemente de estar bem ou mal. Eu tento sempre dar o meu máximo, e quanto mais as pessoas me dão, mais eu dou. Gosto de entrar em palco e dançar da maneira mais estranha possível, para aquela pessoa que está ali no público perceber: “se ela dança assim, eu também vou dançar”. É mais ou menos isso que faço: deixar as pessoas o mais confortáveis possível para usufruírem do concerto.
Preferes dançar kuduro ou twerk?
São duas coisas completamente diferentes: o twerk é mais dirigido para mulheres e trabalha muito a autoestima de uma mulher, enquanto o kudafro é muito mais na onda de energia. Boa energia, felicidade e boa dinâmica. Por exemplo, o twerk é mais localizado e o kudafro é mais cardio, por isso são duas coisas completamente diferentes. Eu não tenho assim nenhuma preferência… São as duas danças [que gosto]. Se me perguntares a que me deixa mais feliz, talvez seja o kudafro porque é o mais dinâmico, mais mexido.
Uma vez disseste que gostas que te entendam pelas palavras e pelo corpo. Sendo MC e bailarina, isso quer dizer que te interessa mais a mensagem do que o veículo?
Sim, é sempre a mensagem, sempre o interior, nunca o exterior. Por exemplo, uma pessoa mais tímida pode exprimir-se muito bem com o corpo e não tem que ser necessariamente elegante. Pode ter todas as formas possíveis e pode expressar-se muito bem como seu corpo. Então, o que eu faço é basicamente isso, dou o corpo e a voz àqueles que têm aquele bloqueio na cabeça de “ai, eu não posso fazer, eu não consigo fazer”. Uma pessoa pode exprimir-se muito bem independentemente de como seja o seu corpo. É isso que eu quero retratar sempre: “ok, ‘bora’, deixa o corpo falar”.