Tiago Pires em “Dias Bárbaros”

Tiago Pires. - ph. Delarsille

 

Fotografia: Delarsille

 

O nome de Tiago ‘Saca’ Pires, que continua a ser considerado o melhor surfista português de sempre, é referido em algumas páginas de “Barbarian Days – A Surfing Life”.

Se fazem surf ou apreciam este desporto/estilo de vida, é um crime ainda não terem lido o livro escrito por William Finnegan, mas independentemente da relação que tenham com as ondas trata-se duma obra que tem argumentos de sobra para satisfazer o leitor mais exigente e enriquecer a mais erudita das bibliotecas.

Não é por acaso que esta obra, galardoada com vários prémios de literatura e jornalismo, foi distinguida em 2015 (o ano da sua primeira edição) com o prémio Pulitzer na categoria de biografias.

Relatando uma vida guiada pela busca de ondas (o hobby de William Finnegan, jornalista da revista The New Yorker), “Dias Bárbaros” – conforme a tradução da edição brasileira – consegue como nenhum outro livro estreitar o “abismo de incompreensão entre a experiência do surf e a linguagem que desenvolvemos para a descrever ao leitor comum, que não faz surf” – Finnegan levou mais de 20 anos a escrever esta biografia, boa parte dos quais à procura dessa linguagem, do material narrativo que pudesse construir essa ponte, conforme confessou em entrevista concedida à Visão Surf publicada este Verão.

Voltando à presença de ‘Saca’ nesta obra, ela surge ligada à Madeira, cujas ondas ocupam um extenso capítulo de “Barbarian Days”. Após passagens por destinos tão distintos como o Hawaii, Califórnia, Austrália ou África do Sul, William Finnegan “descobre” a ilha portuguesa quando já tinha cerca de 40 anos, dedicando mais de cinquenta páginas a esta paixão alicerçada em ondas grandes e poderosas.

Tiago Pires era um talento raro, com bolas de aço

Tiago Pires é referido pela primeira vez na página 371. Após declarar que naquela época (finais do anos 90 do Século XX) os maiores impulsionadores do surf madeirense eram os surfistas continentais de Portugal, para quem a ilha se tornara o seu North Shore havaiano, Finnegan escreve o seguinte: “Surfistas profissionais do continente voavam para a Madeira sempre que estava previsto entrar uma ondulação. Um tipo novo, Tiago Pires, era claramente um talento raro, com bolas de aço”, terminando por referir a carreira de ‘Saca’ no escalão principal da ASP, actual World Surf League.

Mais adiante, na página 391, o surfista lusitano volta a surgir em cena, desta feita durante uma sessão na Ponta Pequena. Após ter surfado sozinho durante uma hora, o autor do livro viria a receber a companhia de três profissionais portugueses, um dos quais o seu máximo representante, Tiago Pires, cuja performance impressionou novamente William Finnegan. O escritor refere ainda que os dois foram “sugados” em conjunto pela maior onda que surgiu nessa tarde, sendo de seguida castigados pela série de ondas que vinha atrás, antes de concluir que ‘Saca’ continuou como se nada fosse mas que ele ficou abalado pela situação.

Na já referida entrevista da Visão Surf existe também um tópico cuja relação com a Ericeira, embora não seja directa, é por demais evidente, tendo em conta que aqui foi consagrada há quase 9 anos a primeira Reserva Mundial de Surf do velho continente, onde já existe um Regulamento e um Plano de Gestão.

Questionado por João Valente (Director da saudosa Surf Portugal) sobre se “acredita que as ondas perfeitas sejam espaços passíveis de protecção ambiental, como os espaços naturais americanos?”, William Finnegan formula a seguinte resposta:

“É uma ideia relativamente nova, mas já anda a ser implementada nalguns sítios, o que é encorajador. Precisamos criar uma massa crítica de modo a forçar os governos a ouvirem ideias sobre a gestão territorial e desenvolvimento do litoral que não favoreçam somente empreiteiros e interesses económicos. Acredito ser possível. O litoral é um recurso limitado e valioso do ponto de vista imobiliário, o que o torna mais difícil de proteger do que muitas partes do Oeste selvagem americano, mas é a mesma luta.”