Fotografia: Rafael Saldanha / Facebook
A exposição fotográfica “Raízes”, assinada pelo fotógrafo brasileiro Rafael Saldanha, estabelece um elo emocional e cultural profundo entre Portugal e o Brasil ao homenagear pescadores artesanais de duas localidades que partilham História: a vila portuguesa da Ericeira e a cidade brasileira de Penha, em Santa Catarina.
A mostra, que se encontra em exibição na Galeria de Arte do Paço Municipal, em Navegantes, no Brasil, até ao dia 15 de Maio, é um convite à contemplação das raízes comuns que ligam os dois lados do Atlântico (em 2023 celebraram-se os 200 anos da colónia Nova Ericeira) através do mar, da pesca e da tradição.
uma ponte entre continentes, uma celebração da herança luso-brasileira e uma afirmação daquilo que permanece quando tudo ao redor muda
Promovida pela Fundação Cultural de Navegantes, a exposição é composta por fotografias captadas ao longo de mais de dez anos, retratando com sensibilidade o quotidiano de comunidades pesqueiras que preservam um modo de vida ancestral.
Na Ericeira, vila costeira marcada por séculos de relação íntima com o oceano, e em Penha, terra de pescadores e tradição marítima, Rafael Saldanha encontrou histórias semelhantes — de resistência, trabalho e pertença.
Cada imagem desta mostra revela a conexão profunda destas comunidades com o oceano: redes lançadas com destreza, barcos tradicionais preparados para a faina e rostos marcados pelo sol e pelo tempo, que contam silenciosamente histórias de gerações inteiras.
São fragmentos visuais que, juntos, constroem um testemunho poético e documental sobre a vida à beira-mar e um legado que une Brasil e Portugal para além da língua — na partilha de uma cultura marítima que ainda resiste às mudanças impostas pelo progresso e pela industrialização.
o pescador enfrenta a imprevisibilidade da natureza, o vento, as ondas, a chuva, o frio
Mais do que uma homenagem estética, a mostra transforma a pesca artesanal num símbolo de identidade e continuidade entre dois povos. A escolha de Ericeira e Penha não é por acaso: ambas partilham não só uma geografia atlântica mas também o espírito de comunidades que vivem daquilo que o mar oferece — e que, apesar das distâncias físicas, aproximam-se no gesto, na tradição e na luta pela preservação do seu modo de vida.
Rafael Saldanha, conhecido pelo trabalho dedicado à documentação de práticas culturais ameaçadas, imprime no projecto “Raízes” uma visão carregada de respeito e lirismo.
A sua arte transcende o simples registo: é uma construção visual da memória, um tributo ao valor humano da pesca artesanal e um apelo silencioso para que não deixemos desaparecer o que ainda se interliga— como nações, como culturas e como povos do mar.
“Raízes” é uma ponte entre continentes, uma celebração da herança luso-brasileira e uma afirmação daquilo que permanece quando tudo ao redor muda: a força das tradições e o espírito dos que vivem em comunhão com o oceano.
Segundo o fotógrafo, “durante todos estes anos a conviver com os pescadores artesanais, percebi logo nas primeiras vezes em que naveguei com eles, o quão árdua é a luta diária para garantir o sustento. O pescador enfrenta a imprevisibilidade da natureza, o vento, as ondas, a chuva, o frio, e tudo isso influencia directamente a sua rotina de trabalho. E, apesar de todo o esforço, há dias em que o mar não está para peixe, e ele volta para casa com o balaio vazio”.
Leia aqui o artigo da AZUL sobre o livro “Raízes”, de Rafael Saldanha.
Esta publicação também está disponível em | This article is also available in: Inglês