Texto: Ricardo Miguel Vieira | Fotografias: DR
O maior fenómeno de popularidade canina na história da Ericeira completou 9 primaveras na semana passada. Boris é um bulldog inglês altamente carismático, de tal forma que, além de ser o símbolo da loja Doghouse, já foi protagonista de artigos em revistas nacionais e estrangeiras. Mas esta será a primeira entrevista que concede a um órgão de comunicação social. E foi sem reservas que Boris falou à AZUL desta condição de ícone pop, deixando ainda algumas revelações surpreendentes sobre a sua vida privada.
Boris, tens agora 9 anos de idade. Isso são 63 pela matemática dos humanos. Como é que te sentes?
Super bem. Sou feliz, independente, acarinhado, toda a gente me conhece. Sejam 9 ou 63 anos, sinto-me como um milhão de euros.
O que fazes no teu dia-a-dia?
Os meus dias são muita tranquilos. Acordo de manhã e vou para a loja chillar. Depois de comer, dou um giro pela street, controlo o Jogo da Bola e recebo mil festas por dia… Enfim, acho que melhor vida é impossível.
Como é que patrulhas aqui esta zona?
Fácil. Aqui no Jogo da Bola é tudo meu, principalmente árvores e esquinas. Deste perímetro não costumo sair muito. Volta e meia passo no Café Central ou no Salvador para marcar presença, mas fico-me por aí, que os ossos já não dão para longas distâncias.
Sejam 9 ou 63 anos, sinto-me como um milhão de euros.
Como é que te sentes por ser a cara da Doghouse?
Esta loja não era nada sem mim! Além disso, já sou um ícone da Ericeira. Há pessoal que vem à Ericeira e não sabe o nome da loja. Então diz, “é a loja do cão”. Há sempre muita gente à minha volta, principalmente no Verão. Sempre a flasharem-me com as suas máquinas fotográficas digitais e putos a abraçarem-me para as fotografias e a dizerem-me fofices como se eu não percebesse. Enfim, é o preço da fama: as pessoas passam por mim e dizem, “epá, este cão já é um marco aqui da Ericeira, todas as pessoas que vêm à vila têm de o visitar.”
Realmente os humanos curtem mexer e tocar em tudo. Quantas festas achas que levas no Verão?
Assim de cabeça, diria que levo uma média de mil festas por dia. Há dias em que meto aquele ar de “estou farto disto”, mas parece que ainda atrai mais gente. No Verão fazem fila à porta. As outras pessoas que vão passando olham e pensam “mas o que será que se passa ali?” Depois a reacção é sempre a mesma, “ah está aqui um cão!”, como se nunca tivessem visto tal criatura, e juntam-se à festa.
E, olha lá… qual é o truque para atrair as fêmeas?
Ainda não percebeste o quão importante e famoso sou?! Agora soma isso ao meu swag e aí tens a resposta. É coisa natural, rapaz, não se ensina.
Por falar em fêmeas, andam por aí a ladrar que já tens sucessora. Não tens ciúmes?
Qual sucessora, meu, estás-te a passar? Ela é a minha futura namorada. As cadelinhas fazem fila desde bem novas. O que ali o Arsénio [o meu dono] está a tentar é que ela cresça mais um bocado para eu depois lhe poder dar uma ninhada. Sabes bem que sou insubstituível, esta personalidade não se encontra nem nos filmes. Não tenho ciúmes dela, mas admito que já não a posso ver à frente e ainda nem namoramos. É chata que dói.
Sempre pode aparecer aí outra cadela. Talvez uma estrangeira. Por falar nisso, tu já apareceste numa revista francesa, não foi?
É verdade. Uma rapariga francesa veio passar a despedida de solteira na Ericeira – deve ter pensado duas vezes em casar depois de me conhecer. Ela era jornalista duma dessas revistas cor-de-rosa em França. Então tirou uma fotografia aqui agarrada ao meu pêlo e acabou por aparecer numa revista.
Como é que te sentes por isso?
Eh… É mais do mesmo, mas sinto sempre orgulho. O ano passado já tinha aparecido na Time Out Lisboa e já nem falo das centenas de imagens minhas que circulam pela internet. Basicamente, sou imortal.
Andas um bocado mais gordo. Qual é a tua dieta?
A minha raça já vem com problemas de articulações de origem. A minha futura namorada, sempre a chatear-me o pêlo, lá me deu cabo de uma pata, por isso engordei. Agora ando a frutas, iogurtes naturais, cascas de ovo e, claro, a ração do costume que o Arsénio guarda na arrecadação da loja.
Basicamente, sou imortal.
Que coisas é que te chateiam de verdade?
Não há coisa pior que deixar um cão sem comer. E quando assim é, perco as estribeiras. Há dias em que o Arsénio está aqui a dar baile aos clientes e eu nem faço cerimónias: começo às cabeçadas à porta da arrecadação onde está a comida e a ladrar até que ele faça o que eu quero. Fora isso, agora tenho o hábito de ladrar a tudo e mais alguma coisa. Vê bem, ouvi o Arsénio a dizer a um gajo qualquer, noutro dia, que achava que era da idade. Que, como cão, fui absorvendo muita coisa que os humanos me passaram e que estou a tentar comunicar com eles. Bem, é um facto que tenho um ladrar para pedir comer, outro para ir à rua, outro para brincar, outro para pedir biscoitos e outro para controlar a zona…
Como é que seria o teu dia perfeito?
Para mim o dia perfeito é passado na loja com o Arsénio. Isto se for Verão. No Inverno está frio, então fico por casa a dormir a manhã toda. No Verão acordo mais cedo que ele. Sabes como é, as fêmeas andam por aí sem aquelas fatiotas rídiculas contra a chuva e o vento, é outro ambiente. Mas, para mim, qualquer dia passado com o Arsénio é perfeito. Já estou com ele desde que tenho dois meses e vou para todo o lado com ele. Ia para o antigo trabalho dele num escritório; vou às finanças e ao banco – até já me deixam lá entrar, tal não é o respeito; vou aos fornecedores com ele; andamos juntos na night… E daí, por esta conversa, acho que o dia perfeito do Arsénio é se eu estiver com ele. De qualquer modo, sou super feliz. Nunca ando preso, recebo festas de toda a gente e sou independente. Vou para onde quero e me apetece. Um dia preguei um susto ao Arsénio: como gosto de Sol, costumo sentar-me onde ele estiver a bater. Um dia fui sentar-me no tapete da loja da Billabong. Mandaram-lhe uma fotografia minha com o crachá da marca a dizer: “Temos um novo patrão.” O Arsénio já estava a ver o negócio dele ir por água abaixo.