Ao olharmos para o novo mapa das autarquias depois das eleições do passado Domingo percebemos que, a partir da fronteira do Cadaval e continuando para Sul, só voltamos a encontrar meia dúzia de concelhos “laranja” no Algarve.
A única excepção é o Concelho de Mafra, que surge neste mapa como uma espécie de bastião social-democrata.
Existem diversas leituras políticas a fazer das eleições de Domingo a nível nacional, mas a que parece não levantar dúvidas é o facto de que, quem votou, castigou.
O plano de austeridade a que o país tem estado sujeito terá sido decisivo para os melhores resultados de sempre do PS (sem estar coligado) e, sobretudo, para a subida um tanto ou quanto surpreendente da CDU. O voto de protesto favoreceu sobretudo os comunistas, que voltam a conquistar Loures, Évora e Beja e, de uma forma inesperada, retiram Silves ao PSD. Hoje, o Alentejo, o Ribatejo e o Algarve estão mais vermelhos.
Nos concelhos vizinhos de Mafra, tudo mudou à excepção de Torres Vedras, que continua entregue ao carismático socialista Carlos Miguel. De resto, Sintra passou para Basílio Horta (PS), Arruda dos Vinhos passou do PSD para o PS, e Loures e Sobral de Monte Agraço são agora liderados pela CDU.
Podemos questionar-nos sobre os motivos que estão na origem da força do PSD no concelho de Mafra, que venceu as eleições com maioria absoluta. Em última análise, a resposta será só uma: José Ministro dos Santos. Apesar da generalidade da população da Ericeira considerar que o ex-Presidente da Câmara foi, no mínimo, uma figura pouco próxima da terra, a verdade é que Ministro dos Santos e o PSD conseguiram, quase sempre, eleger presidentes de junta na vila piscatória.
Mas se a população tinha como pouco próxima a relação do ex-Presidente com a localidade, o mesmo não se pode dizer de freguesias como a Encarnação, Milharado ou mesmo Mafra. Nestes casos, o voto no PSD é garantido, como o foi neste Domingo, em dez das onze freguesias do concelho.
Hélder Sousa Silva entrou nas eleições como um candidato forte, com amplo apoio dos militantes. A apresentação da sua candidatura contou com a presença de Jorge Moreira da Silva, vice-presidente do PSD e, já no encerrar da campanha, com a visita de Pedro Passos Coelho num jantar comício, realizado na Malveira.
Assim, existem duas conclusões a retirar dos resultados de Domingo no que a Mafra diz respeito: o voto de protesto teve um efeito quase imperceptível; e o que ficou expresso em cada boletim de voto foi o legado de Ministro dos Santos – auto-estrada A21; ETARs; Reserva Mundial de Surf; desemprego de 9,1%, abaixo da média nacional; uma boa rede de escolas. No fundo, um concelho com um muito satisfatório índice de qualidade de vida (56º do ranking nacional em 2012).
Mas não há só boas notícias: a dívida da Câmara Municipal de Mafra é gigantesca; é evidente o excesso de construção; a água privatizada é uma das mais caras do país e na Ericeira perdeu-se o mundial de Surf para outras paragens.
Com todos estes elementos, não resta ao novo presidente da câmara outra alternativa que não seja gerir a dívida da autarquia e, com o que sobrar, dotar as freguesias com orçamentos que lhes permitam trabalhar condignamente. Esse desígnio está agora facilitado na Ericeira com a vitória de Filipe Abreu. A mesma cor política e a amizade que une os dois vencedores das eleições só podem trazer benefícios para a vila onde o mar é mais azul, mas esse é um juízo que só poderá ser feito daqui a quatro anos.