Texto e fotografia: Sérgio Miguel Santos Silva
Na passada Sexta-feira, numa gasolineira que tinha disponível todos o tipos de combustível e não muita fila, a principal dificuldade, contaram-me, era a serradura que os funcionários tinham que ir atirando ao chão para ensopar o combustível que os clientes – na ânsia de armazenar em depósitos individuais, e com capacidade imaginária, todo o combustível do país ou, quem sabe, do mundo – iam atirando ao chão. O mesmo combustível que preocupava o país quase inteiro. Isto podia ser uma parábola sobre Portugal 2019 mas não é. As parábolas são pequenas histórias em linguagem figurada e eu estou a falar de figurões.
encheram-se de combustível para guardar os automóveis nas garagens
Ignorei majestosamente a situação de crise energética declarada pelo governo e pelo executivo do meu município. Saí pela manhã e pelo asfalto, a queimar a mais preciosa das substâncias, por motivos meramente recreativos. As estradas estavam vazias, não de combustível mas de automóveis e respectivos condutores. O que levou, por exemplo, a que houvesse nas praias do Magoito ou de São Julião pouquíssimas pessoas, num dia que será, muito provavelmente, um dos melhores dias de praia das últimas semanas. Portanto, encheram-se de combustível para guardar os automóveis nas garagens e ficar a ver o Somos Portugal na televisão. Não vale a pena estar a ser repetitivo e falar novamente de parábolas.
Pelo que alguém me disse que estavam, certamente, com medo do fim do mundo. Mas respondi que não, não é medo do fim do mundo. Os portugueses são uma malta habituada a adversidades e não é isso que os preocupa. O que preocupa é que o fim do mundo aconteça logo num dia em que possam ter o carro na reserva e não consigam ir longe numa data tão importante.
jerricã é uma bonita palavra que já merecia entrar no discurso mediático
Vou ainda dizer-vos mais uma coisa. Passei por várias bombas que não só tinham combustível como também não tinham filas. São boas notícias. Significa que estamos prontos para enfrentar a greve. E o caos, a escassez, a fome, a doença e a morte. Ou o fim do mundo.
Há ainda uma coisa que tem de ser dita. Estou muito feliz, não só com estas boas notícias, mas porque jerricã é uma bonita palavra que já merecia entrar no discurso mediático.