«A Ericeira tem sido especialmente afectada por esta pandemia»

 

Fotografia: DR

 

A actual pandemia provocada pelo novo Coronavírus, causador da doença Covid-19, é sinónimo da maior crise sanitária da nossa geração, geradora duma gravíssima crise económica de contornos ainda incalculáveis e sem fim à vista. Enquanto não houver uma vacina que permita o regresso ao “antigo normal” serão poucos os sectores de actividade isentos de prejuízos. Para esmiuçar este panorama entrevistámos a ACISM – Associação do Comércio, Indústria e Serviços do Concelho de Mafra. Ana Gomes Almeida, Técnica Administrativa desta associação sem fins lucrativos, de apoio aos empresários do concelho de Mafra, ajuda-nos a compreender a dimensão dramática destes tempos pautados pela incerteza no âmbito do nosso concelho.

 

Qual é o ponto de situação que a ACISM faz perante as actuais restrições do Estado de Emergência actualmente em vigor?

Na grande maioria, os nossos Associados estão efectivamente apreensivos com as novas restrições, uma vez que colocam em causa o decorrer normal dos seus negócios, tão normal quanto possível nesta fase. Fomos contactados por dezenas de associados, e até mesmo não associados, durante a semana passada, com dúvidas sobre como proceder e, claro, a mostrar a sua apreensão com a situação. É, sem dúvida, um momento crítico.

 

Como avaliam as medidas de apoio anunciadas pelo Governo?

As medidas anunciadas, a nosso ver, não serão de todo suficientes para reduzir o impacto nas actividades económicas. São necessários mais apoios, aos trabalhadores independentes e às empresas, e apoios de mais simples acesso e com regras menos apertadas.

 

O Governo fez recentemente um apelo às autarquias para apoiarem a restauração. Concordam com esta possibilidade?

Concordamos que as entidades públicas devem efectivamente apoiar a restauração, que é sem dúvida uma das actividades que mais tem sofrido nesta pandemia. São necessários apoios específicos à realidade de cada negócio e, neste caso, a possibilidade de as autarquias poderem apoiar é, sem dúvida, um aspecto muito positivo.

os nossos associados estão assustados e apreensivos pelo futuro dos seus negócios

A resiliência dos vossos associados tem sido colocada à prova desde Março – já existem muitos estabelecimentos encerrados e falências?

Sem dúvida alguma que os nossos associados, tal como todos os outros comerciantes e empresários no nosso país, têm sido postos à prova na sua capacidade de se reinventar, na sua capacidade de ultrapassar este período negro. Até esta data, felizmente, não verificámos ou não tivemos conhecimento de um número elevado de encerramentos ou falências. Do universo dos nossos associados, que é sobre o qual podemos falar e temos conhecimento, apenas tivemos notificação de menos de dez encerramentos de actividade em nome individual.

 

A situação pode considerar-se dramática?

A situação é por si só dramática, pese embora o nosso universo de associados seja em grande parte composto por pequenos comerciantes. Como é de esperar, os nossos associados estão assustados e apreensivos pelo futuro dos seus negócios.

 

A Ericeira depende muito do turismo, que este ano enfrenta quebras brutais – a situação é especialmente delicada nesta freguesia?

Sem dúvida que a Ericeira é a freguesia com mais actividade de restauração e turismo no nosso concelho e, por esse mesmo motivo, tem sido especialmente afectada por esta pandemia. A restauração tem registado quebras enormes, os alojamentos locais e outros estabelecimentos de turismo igualmente. Esperamos efectivamente que os apoios do Governo venham atenuar, tanto quanto possível, esta situação.

 

Temos conhecimento de que o Hotel Vila Galé Ericeira ficará encerrado até à Páscoa – existem outros encerramentos na hotelaria do concelho?

Nos nossos associados não verificamos encerramentos de estabelecimentos de hotelaria, salvo alguns alojamentos locais.

 

Os estabelecimentos de diversão nocturna (nomeadamente as discotecas) e os restaurantes têm sido especialmente atingidos desde o início da pandemia. Existem medidas que ainda possam salvar estes sectores?

Temos esperança que sejam criadas mais medidas pelo Governo, que sejam mais específicas e com regras menos apertadas. Estas actividades precisam urgentemente de apoios financeiros, para que possam manter a sua actividade minimamente normal.

 

Os consumidores têm sido sensíveis à necessidade de fazer as suas compras no comércio local?

Acreditamos que sim. Como sabem, temos desde Março uma plataforma de divulgação do comércio local, designada “Iniciativa Pegue e Leve” Começou por ser uma página de Facebook, entretanto Instagram, e colocámos no nosso novo site uma área específica para esse efeito. É de extrema importância a divulgação dos nossos estabelecimentos, do nosso comércio e dos nossos serviços. Quanto mais divulgarmos, mais potenciamos a aquisição de bens e serviços no comércio e serviço local e é sem dúvida uma parte importantíssima, e à qual temos dedicado bastante esforço desde o inicio da pandemia. Fomos também parceiros da Câmara Municipal de Mafra (CMM), na criação do Projecto Mafra Mais, com a criação do Cartão e Loja M, para promoção do Comércio Local – desde já pedimos aos comerciantes que continuem a fazer o seu registo no Portal de Serviços da CMM.

a passagem de ano será ainda mais complicada que o Natal

O Natal ainda pode ser uma oportunidade para mitigar os prejuízos deste ano ou é o clima de ameaça que impera?

Os associados acreditam que este ano irá haver quebra no consumo, uma vez que todos os portugueses se encontram igualmente assustados e apreensivos com o futuro. Ainda assim, apelamos mais uma vez ao consumo no nosso comércio local, para que consigamos atenuar esta situação. O comércio local precisa de todos nós e todos nós precisamos do comércio local.

 

A passagem de ano 2020-21 também será para riscar das hipóteses de negócio?

A passagem de ano será uma altura talvez ainda mais complicada que o Natal, uma vez que essencialmente a restauração e similares apostam muito nesta época festiva. Tendo em conta as regras de distanciamento social e o ponto de situação da pandemia, não será fácil recuperar algum negócio nesta fase.

 

Gostariam de deixar algum apelo às autoridades competentes?

Gostaríamos, acima de tudo, e como Associação de carácter particular que procura apoiar os seus Associados, apelar às entidades competentes e com capacidade para que sejam criados mais mecanismos de apoio financeiro, benefícios em impostos, obrigações e taxas, uma vez que nesta fase qualquer ajuda é de extrema importância para manter a nossa economia a funcionar. Queremos também deixar uma palavra de apreço e conforto aos nossos associados, que se têm reinventado nos seus negócios e não têm baixado os braços face a toda esta situação, e não podemos deixar de dizer que nos manteremos sempre em contacto e disponíveis para ajudar.