Fotografia: DR
Impressão Digital
Miguel Ferreira Machado Dray
Nascido a 5 de Abril de 1970 em Lisboa
Licenciado em Informática a exercer funções de Consultor Comercial numa empresa de telecomunicações.
Quando é que começaste a surfar? Foi na Ericeira ou noutro sítio?
A minha primeira surfada foi no verão de 1982 na Ericeira: praia do Sul, no spot Cu de Galo, onde passava as minhas férias de Verão desde sempre. Na altura tinha 12 anos e lembro-me perfeitamente da sensação espectacular de andar em pé em cima de uma prancha de Surf. Nessa altura, já há vários anos que apanhava ondas num colchão que tinha em formato de um bodyboard “repimpa” e, portanto, considero que não foi muito difícil apanhar ondas e pôr-me logo em pé numa prancha de Surf. Em 1983 comprei a minha primeira prancha de Surf e em 1984 o meu primeiro fato de Surf.
Estar na água com estranhos na altura era uma raridade
Já havia muitas pessoas a surfar pela Ericeira quando começaste a apanhar ondas aqui?
Na Ericeira dos anos 80 não havia praticamente “crowd” nenhum na água, surfar com alguém na água era só nos spots principais. Estar na água com estranhos na altura era uma raridade.
Em que picos ou praias costumavam surfar mais?
Aos 14 anos já tinha mota e, portanto, desde muito cedo comecei a explorar a costa da Ericeira com o meu amigo Miguel Fortes. Na altura era muito frequente surfarmos três vezes por dia e, portanto, escolhíamos variadíssimos spots em função do swell, maré e crowd. Os spots pelos quais desde muito cedo ganhei um gosto especial foram os Coxos, Reef e Pedra Branca.
era muito frequente apanharmos ondas mágicas nos Coxos só com meia dúzia de amigos
Que memórias guardas desses tempos dourados?
A principal memória que tenho era de na altura surfarmos praticamente sozinhos sem qualquer “crowd”, era mesmo muito frequente apanharmos ondas mágicas nos Coxos só com meia dúzia de amigos. Na altura, para apanhar os Coxos só com amigos na água bastava estar lá ao pôr-do-sol para surfarmos várias horas sozinhos.
na comunidade de surf a idade ainda é um posto
Quais foram as maiores mudanças desde que começaste a surfar?
A industrialização do Surf nos anos 2000, com a massificação das pranchas de espuma “softboard” e com o aumento exponencial de viagens “low cost”, foi claramente a grande mudança que ocorreu nos últimos anos, e traduziu-se no enorme sucesso que é hoje a Ericeira como uma Surf City da Europa para o mundo do Surf. Como é óbvio, o “crowd” na água aumentou mesmo muito e, como tal, o reverso da medalha não é nada simpático para quem ainda queira surfar sozinho ou com meia dúzia de amigos.
Continuas a surfar? Com que regularidade? Procuras fugir do crowd?
Actualmente ainda faço surf com regularidade, ou outros desportos alternativos, como o golf e o Downwind “SurfSki”, neste caso para manter o sal no corpo e o físico preparado para os dias bons de surf. Sinceramente, o “crowd” é algo que todos os surfistas tentam evitar, mas a realidade é que na comunidade de surf a idade ainda é um posto, e como tal nos spots principais da Ericeira acabo por impacientemente esperar no “pico” pela minha vez para desfrutar do mar e das ondas.
quando foi criada a Reserva, o objectivo principal era a preservação da nossa costa e ondas
A essência do surf na Ericeira também mudou?
A essência do Surf adaptou-se a uma nova realidade. Considero que o principal aspecto que faz com que a essência no mundo do surf seja posta em prática é a massificação desmedida do Surf, com milhões de adeptos que se ficam por uma primeira experiência no Surf, mas que deixam uma pegada no mesmo – ou seja, acaba por ser uma tarefa inglória para a comunidade do Surf tentar explicar as regras básicas do surf quando 90% dos mesmo não dão continuidade à sua aprendizagem.
O que mudou após a consagração da Reserva Mundial de Surf, em 2011?
Na minha opinião, infelizmente, a Reserva Mundial de Surf é meramente um veículo de comunicação para angariação de turismo para o Concelho, promovendo a Ericeira como uma Surf City de excelência para a comunidade de Surf mundial. Na altura, quando foi criada a Reserva, o objectivo principal não era claramente a angariação de turismo, mas sim a preservação da nossa costa e ondas, através de uma gestão assertiva que ainda não acontece.