Turismo e educação esgrimem argumentos sobre a retirada de “Memorial do Convento” do ensino secundário

Palácio de Mafra. - ph. António Almeida

 

Fotografia: António Almeida

 

A proposta para retirar a obra “Memorial do Convento” do programa da disciplina de Português, a partir do ano lectivo de 2015/2016, reúne o apoio de figuras e especialistas com ligação à obra de Saramago, mas desagrada à autarquia de Mafra. A conclusão retira-se de um artigo publicado pelo diário i ontem, dia em que se celebraram os 15 anos da atribuição do Prémio Nobel da Literatura a José Saramago.

Uma das vozes que está a favor da retirada da obra do ensino secundário é Pilar del Río. A viúva do escritor e presidente do conselho da administração da Fundação José Saramago diz ter sentido “alegria” quando soube que “Memorial do Convento” poderia ser substituído por “O Ano da Morte de Ricardo Reis”. Para Pilar del Río, tal medida não significa o esquecimento da obra mais emblemática da carreira de José Saramago. “‘Memorial do Convento’ é um livro que já está instalado no imaginário dos portugueses. (…) Não há perigo de que fique ignorado”, explicou num artigo de opinião no i.

Carlos Reis, professor catedrático da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra e especialista na obra de Saramago, também está a favor da substituição da obra que tem o Convento de Mafra como pano de fundo. “O ‘Memorial do Convento’ apresenta, a meu ver, dificuldades de leitura” e “exige uma maturidade de leitura que o adolescente do ensino secundário, provavelmente, ainda não tem”, defendeu.

Contra a retirada da obra do ensino do Português está a Câmara Municipal de Mafra, que reúne o apoio da Associação de Professores de Português. Para a autarquia, a introdução da obra no programa da disciplina em 2002 permitiu que Mafra ganhasse relevo turístico e cultural. Para sublinhar os proveitos económicos e culturais da presença da obra no ensino nacional, a câmara relembrou que, só em 2012, 64 mil alunos de 600 escolas visitaram o Palácio Nacional de Mafra e que a obra de José Saramago ajudou o palácio a figurar na lista de “bens passíveis de classificação como Património Mundial” da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO).

A proposta para a alteração do programa do ano lectivo 2015/2016 da disciplina de Português – onde consta a substituição de “Memorial do Convento” por “O Ano da Morte de Ricardo Reis” ou “História do Cerco a Lisboa” – esteve em consulta pública até dia 4. Contudo, a decisão (que agora passa por um grupo de trabalho constituído por quatro professores universitários) não deverá ser tomada antes do período natalício. “É evidente que vamos ter em consideração os argumentos da Câmara de Mafra, como teremos igualmente em conta todas as outras questões que foram apresentadas nos pareceres enviados durante o período de consulta pública”, disse ao i Helena Buescu, coordenadora do grupo.