Texto: Hugo Rocha Pereira | Fotografia: Luís Delgado
Realizou-se Sábado, mais uma vez com enorme sucesso, a 4ª edição da S.A. Revival Party. Antes da festa que celebra o mítico espírito da discoteca Sociedade Anónima enquanto angaria fundos para os Bombeiros da Ericeira, lançámos algumas questões à organizadora, Carla Mestrinho. As respostas não chegaram em tempo útil para serem publicadas antes da comemoração, mas ainda assim consideramos que a entrevista contém sumo que interessa ser registado para memória futura. De seguida partilham-se as respostas que mantêm pertinência editorial no pós-revival, termo retro-futurista que assenta que nem uma luva neste contexto.
Chegou a trabalhar na Sociedade Anónima? Em que função?
Sim, como hôtesse: porta principal e porta VIP (cartões) e bengaleiro.
Descreva-me o ambiente que era vivido nessa discoteca.
Lisboa tinha pouca vida nocturna, pelo que a abertura da S.A. trouxe pessoas das zonas de Lisboa, Cascais, Sintra e do concelho de Mafra. Tínhamos cerca de 3000 pessoas por noite. O ambiente era diversificado mas seleccionado à porta e muito agradável. Além de três pistas com diferentes tipo de música, muitas vezes havia concertos com bandas ou artistas em foco no momento. Era a discoteca elite do momento.
Além de três pistas com diferentes tipo de música, muitas vezes havia concertos com bandas ou artistas em foco no momento.
Recorde uma noite inesquecível na S.A.
A actuação da Boys Band Excesso. Discoteca ao rubro e a loucura total.
Como conseguem transportar as pessoas para um tempo e um espaço tão específicos?
Já temos algum know-how adquirido nos eventos anteriores e vamos ouvindo opiniões de quem nos tem acompanhado nesta aventura. Nesta noite organizam-se cada vez mais jantares e as pessoas vão em grupo, pelo que nunca houve necessidade de organizar transporte próprio, até porque vem gente não só da Ericeira mas de outros pontos da região da Grande Lisboa e de fora. O que conta não é o espaço em que a festa é realizada mas sim a música que passa, a presença dos djs da S.A., o reencontro do antigo staff da S.A. e de amigos. Isso tem feito da festa um marco e um evento único e a repetir pois o ambiente é conseguido.
É muito gratificante sentir a solidariedade crescente em torno desta causa.
Conte-nos um pouco a história da S.A. Revival Party.
O primeiro ano foi na discoteca FDS: a loucura, novidade e enorme impacto. Tivemos 1496 pessoas, o que foi uma excelente alavanca, mas foi tudo mais rudimentar pois organizei tudo sozinha (contactar o antigo staff da S.A., fornecedores, local, branding, comunicação, etc) apenas num mês. Ainda não estava inserida nos órgãos sociais dos Bombeiros da Ericeira, mas quis fazer algo pela Associação, pois tenho desde há muito familiares na direcção daquela casa e acompanhei sempre a vida da mesma. Na noite da festa colaboraram várias pessoas (todos ex-staff SA) que foram fundamentais para o sucesso da mesma.
No segundo ano a discoteca estava arrendada e tivemos que optar por outro local. Um elemento dos órgãos sociais cedeu-nos um terreno para colocar uma tenda junto ao Largo dos Navegantes e avançámos, recorrendo à ajuda de bombeiros que também colaboraram nas festas e contribuíram para o sucesso das mesmas. Houve maior dificuldade em conseguir aliciar ex-staff SA pois é uma noite de muito trabalho e pouco divertimento e, depois de uma experiência, alguns preferiram ir como clientes, ajudando também mas de outra forma. Mas também fomos mais ambiciosos. Eu já fazia parte da Associação como órgão social e juntamente com outros elementos da direcção que também são ex-staff SA e outros que, não sendo, também colaboraram, fizemos um cartaz com várias festas temáticas para todo mês de Dezembro, até porque a instalação de uma tenda trouxe elevados custos que teríamos de fazer compensar com mais eventos. A agência de comunicação Laranja Zen juntou-se à All in One e tudo foi mais fácil.
No entanto, as baixas temperaturas do mês de Dezembro de 2014 não ajudaram. Tivemos cerca de 800 pessoas na noite Revival. Apesar de termos tido o cuidado de entregar cartas a pedir a colaboração da vizinhança, as queixas dos vizinhos devido ao ruído nessa noite levaram a que o horário tivesse de ser reduzido nas restantes festas desse mês para as duas da manhã e tivemos de rever o cartaz e reduzir o número de festas devido aos custos inerentes: som, tenda, wc’s portáteis, bares, etc. Mantivemos algumas noites temáticas e actividades para crianças durante o dia mas com pouco impacto, pois o frio era muito.
A salvação era a passagem-de-ano. Uma vez mais juntámos uma grande equipa de voluntários e fizemos o réveillon para conseguir liquidar os custos com fornecedores e saldar as contas. A estratégia resultou. Casa cheia, cerca de 1100 pessoas, o que permitiu compensar os custos e colocar o saldo em terreno positivo.
No ano passado regressámos à discoteca FDS para a terceira edição. Os moldes foram idênticos aos do 1º ano e correu muito bem. Cada vez mais gente envolvida, todos voluntários, quer ex-staff, direcção dos bombeiros e os próprios bombeiros.
O evento já tem visibilidade e este ano foram mais as entidades que disseram “sim” aos pedidos de apoio, o que se traduziu em menos custos em todos os aspectos. É muito gratificante sentir a solidariedade crescente em torno desta causa. A festa é organizada pela All In One com branding/comunicação da agência Laranja Zen. Centenas de horas cedidas gratuitamente por toda a equipa, para que se possa entregar o máximo de verbas possível à Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários da Vila da Ericeira. O staff que vai trabalhar na noite fá-lo de graça, incluindo os djs que deixam ir trabalhar noutros locais a receber cachet para ir para a festa de graça, e muitos vivem disso. No final da festa, e após fecho de contas, fazemos questão de difundir os valores angariados nas quatro edições.
É uma noite única no ano e que esperemos que se possa repetir por muitos mais.
Qual é a importância que este evento assume para os Bombeiros Voluntários da Ericeira?
É de relevo, pois trata-se de uma associação sem fins lucrativos e que se tem de pagar a si própria. Os apoios não são muitos e os custos com meios operacionais são elevadíssimos. A primeira preocupação é não deixar falhar os meios de socorro à população e, por isso, tem de haver alguma criatividade na angariação de fundos extra-serviços da Associação.
Como olha para o actual estado do edifício da Sociedade Anónima?
Com muita nostalgia. Foi uma grande casa que com grande pena vimos desaparecer. Deixou uma geração com muitas saudades e daí o gosto especial que dá organizar esta festa. Não só ajudar os bombeiros mas assistir ao reencontro do “velhos” amigos. É de facto uma noite única no ano e que esperemos que se possa repetir por muitos mais.