Texto: Paulo Galvão | Fotografia: DR
O momento alto da carreira de Jorge Vadio terá lugar esta noite, com a sua estreia num concerto a solo no Coliseu dos Recreios, em Lisboa. O espectáculo será posteriormente editado em DVD. O músico de Mafra, em amena conversa com a AZUL, falou da sua carreira, da importância deste espectáculo e da relação de afecto que mantém com a Ericeira.
Como está a ser preparar pela primeira vez o teu próprio espectáculo no mítico Coliseu dos Recreios?
Já pisei o palco de várias salas emblemáticas do país, nomeadamente o Pavilhão Atlântico, agora MEO Arena, como convidado do Rui Veloso, mas nunca toquei no Coliseu. Vai ser gratificante tocar no palco onde vi actuar os meus artistas e bandas favoritos e portanto é o realizar de um sonho.
Estiveste envolvido em vários projectos como as “Almas do Convento”. Como é que tem sido o teu percurso desde essa altura e quando é que decidiste lançar-te a solo?
“Almas do Convento” foi sem dúvida um projecto que me marcou bastante. Fez- me crescer como músico e guardo no coração boas memórias desses tempos. Se todos os elementos da banda na altura quisessem os mesmos objectivos, não tenho a menor dúvida de que agora seríamos umas das maiores bandas de Portugal. Tenho saudades da guitarra eléctrica e do formato pop/rock/punk/drum and bass, sei lá… “Almas do Convento” era isso tudo. Decidi lançar-me a solo para não estar dependente de outros. Faço as coisas como quero e com a minha liberdade total nas decisões. O meu percurso tem sido cheio de obstáculos, mas são esses obstáculos que nos fazem crescer quando os ultrapassamos. Tem sido um percusso feliz, contento-me com pouco e faço o que gosto, que é o mais importante.
Jorge Palma é um dos convidados para o teu concerto desta sexta-Feira. Quem são os restantes e já agora porquê?
Sim, o Jorge Palma será o meu grande convidado. Já nos tínhamos cruzado em palco e em concertos, mas foi recentemente num festival no Luxemburgo que a nossa amizade ficou mais sólida, depois de termos passado vários dias juntos. Sempre que chegávamos ao hotel ficávamos até às oito da manhã a tocar temas de bandas e artistas que admiramos mutuamente, como o David Bowie , Lou Reed , Beatles… Parecíamos putos a trocar cromos. Era inevitável este convite porque ambos temos os mesmos gostos musicais e queríamos fazer algo em conjunto. O meu segundo convidado será o Tó Zé, o vocalista da banda Perfume, que abraça agora o projeto “O Homem dos 7 Instrumentos”. Angélica Caetano no Violino e Paulo Borges no piano – participaram ambos no meu novo álbum – e a atriz Silvia Filipe, que tem uma voz belíssima e que cantou nos meus dois primeiros álbuns, serão os restantes convidados. Vou estar acompanho pelos meu amigos de luta: João Mouzinho na bateria, Carlos Lopes no acordeão, Tiago Oliveira na Guitarra acústica, Artur Santos no baixo e Sabastian Xerife nas percussões.
Quais são as tuas influências em termos musicais?
Oiço quase de tudo, desde o punk ao electrónico, passando pelo fado. Vou beber muito ao folk rock e aos ritmos cubanos e brasileiros; sou um fã incondicional de David Bowie, David Byrne, Peter Hammil, Iggy Pop, Caetano Veloso, Suede, Pixies, The Cure, Joy Division, etc. Vitorino e Zeca Afonso são os meu cantores-autores portugueses de eleição, mas tento não ficar cego pelos meus gostos musicais, pois quero ter a minha própria identidade. Mas, no fundo, em cada canção está lá um pouco de tudo o que mencionei. Muito escondido, mas está.
Sempre que chegávamos ao hotel ficávamos até às oito da manhã a tocar temas de bandas e artistas que admiramos mutuamente como o David Bowie , Lou Reed , Beatles… Parecíamos putos a trocar cromos.
A tua juventude foi passada em Mafra. Como eram esses tempos? E esses tempos são também uma influência nas tuas composições?
A minha juventude foi sempre em torno da música. Nunca fui muito dedicado aos estudos. Era um baldas, infelizmente. Foi uma juventude rebelde e cheia de aventuras, algumas inacreditáveis. Não componho a pensar nesses tempos, porque as minhas composições são feitas de experiências vividas com quem me rodeia e de situações que me vão acontecendo no dia-a-dia nos tempos mais recentes .
A Ericeira é um paraíso e somos uns privilegiados por poder usufruir desse paraíso. Sempre que aí estou penso: que sorte ter nascido aqui.
No “Canta a Maria” há uma passagem que diz “E ela vai chegar à tasca do Jagoz”. Este sítio existia?
Sim, a Tasca do Jagoz existia em Mafra. A canção foi escrita depois de uma noite de vadiagem em que a manhã acabou por lá. Ia várias vezes à Tasca do Jagoz tomar o pequeno-almoço depois das minhas saídas nocturnas e a música nasceu ali.
Que relação tinhas ou tens com a Ericeira?
Sinto-me metade jagoz, pois toda a minha vida foi dividida entre Mafra e Ericeira. Para mim, as duas terras completam-se. A Ericeira é um paraíso e somos uns privilegiados por poder usufruir desse paraíso. Sempre que aí estou penso: que sorte ter nascido aqui.