Entrevista: Ricardo Miguel Vieira
Fotografia: DR
O cartaz da 2ª edição do festival Rimas e Batidas, que assinala o primeiro aniversário da revista online, é exclusivamente dedicado ao hip-hop e, em particular, a uma figura histórica do género: J Dilla. O influente produtor e rapper de Detroit que faleceu há 10 anos, vítima de uma variante rara de Lúpus, será homenageado por uma série de artistas portugueses que se movimentam nas abordagens estéticas do clássico boom bap e do hip-hop orientado por coordenadas electrónicas. Ambos os diálogos são transversais à obra e visão futurista deste filho da motor city norte-americana.
A evocação da memória de James Yancey não se circunscreve, contudo, à festa que se realiza hoje e amanhã no Musicbox, em Lisboa. Até à véspera da inauguração do festival decorreu no site da revista online fundada pelo jornalista Rui Miguel Abreu um leilão de uma obra de arte em tributo a J Dilla com assinatura do street artist Vhils. O montante adquirido no leilão será doado à Associação de Doentes de Lúpus.
A AZUL trocou umas breves palavras com o director da publicação – há vários a viver na Ericeira – sobre as expectativas para o festival e o balanço do primeiro ano de vida do Rimas e Batidas.
O projecto online do Rimas e Batidas está prestes a celebrar o primeiro aniversário. Que balanço fazes desta aventura editorial?
O balanço é claramente positivo, antes de mais porque conseguimos estabelecer de forma plena a nossa visão: se hoje somos procurados por agentes e artistas de hip-hop, das múltiplas vertentes da electrónica, de sonoridades mais experimentais e alternativas e até mais comerciais, é porque o nosso propósito editorial foi bem entendido. Temos crescido nas redes, temos feito coisas – o festival, curadoria no Mexefest, as noites Dentro da Caixa [no Musicbox a cada dois meses]. Acredito que estamos a fazer a diferença e que temos uma proposta editorial muito singular.
Para quem ainda não conhece o projecto, qual é a ideia por trás da webmagazine Rimas e Batidas?
Somos uma revista digital que tenta reflectir essa condição ao pensar em várias dimensões de media em simultâneo: temos texto e fotografia; ilustração e vídeo; e, claro, som. Debruçamo-nos sobre hip-hop e electrónica, com sentido crítico e selectivo. Não queremos ir a todas, mas o que procuramos não se define por ser under ou overground. Importa a qualidade, antes de mais nada.
O primeiro aniversário celebra-se precisamente num dos dois dias da 2ª edição do Festival Rimas e Batidas. O que é que este evento trará de novo em relação à edição inaugural do ano passado?
Para esta edição redefinimos o foco: a programação é claramente hip-hop. O que não significa que edições futuras não possam ser mais techno ou mais afro ou o que nos apetecer. Além disso, agora estamos no Musicbox, ao invés do São Jorge, e temos um cartaz de dois dias em vez de três.
que os concertos sejam fantásticos e que as pessoas apareçam em força
Que importância tem para o projecto – e até para o panorama musical nacional – a realização do festival Rimas e Batidas?
A importância terá que ser o público e os próprios artistas a atribui-la. Penso que estamos a lançar uma semente que, se todos regarem, poderá crescer.
Associado à iniciativa deste ano está o leilão de uma peça de arte em homenagem ao produtor de Detroit J Dilla que é assinada pelo street artist português Vihls. Como é que surgiu esta colaboração e como está a correr a iniciativa?
Não foi preciso convencer o Vhils, ele agarrou a ideia desde o primeiro momento. No início pensámos atribuir os fundos à fundação J Dilla, mas depois de pensar melhor pareceu-me mais lógico entregá-los a uma instituição nacional, que tem ainda assim uma clara ligação a Dilla, já que combate os efeitos da mesma doença que o vitimou. Para já está a correr bem, já se ultrapassou a base pedida, mas os últimos dias vão ser os mais importantes.
O que esperam alcançar nesta 2ª edição do festival?
As expectativas são as naturais de um fã desta música: que os concertos sejam fantásticos e que as pessoas apareçam em força e que deixemos a fasquia o mais elevada possível para uma próxima edição. A certeza é a de que esta aventura vai continuar!