Texto: Ana Catarina Baleia | Fotografia: postal.pt
Chegou a altura de refletir sobre o retrocesso com o qual nos deparamos actualmente na pandemia do novo Coronavírus, principalmente na Área Metropolitana de Lisboa.
Devemos começar por afirmar que sem saúde não há economia.
Sem pessoas mentalmente saudáveis não é possível retomar de forma coesa as actividades e compromissos que esta nova realidade exige.
Foi pedido aos portugueses que o desconfinamento fosse feito em consciência, cumprindo as regras do distanciamento social e da utilização de máscara.
os governantes têm a maior responsabilidade e capacidade de resposta perante esta crise sanitária
A consciência individual é fundamental para atingirmos os objectivos comuns e tem sido um apelo constante.
Ainda assim, teimamos enão ver o óbvio: não são apenas os jovens os responsáveis, não são apenas os idosos os responsáveis – somos todos nós enquanto sociedade.
As nossas crianças são o reflexo dos adultos que as rodeiam e, por isso, aqueles que devemos proteger e sensibilizar sem especial culpabilização.
É bom não esquecer que os governantes têm a maior responsabilidade e capacidade de resposta perante esta crise sanitária – e económica.
Se existem milhões para injectar nos bancos, deveria existir capital disponível para investir em transportes públicos, de forma a que os respectivos utentes pudessem circular de forma mais segura
Deveria existir capital para investir nas empresas a promover e melhorar a sua segurança sanitária, de forma a poderem organizar os seus colaboradores rotativamente, procedendo a rastreios constantes e promovendo uma maior segurança e controlo da pandemia.
Não são os bairros que têm culpa.
A culpa está em não haver uma intervenção social que ajude famílias alargadas onde todos trabalham em locais opostos, se juntam nas suas casas no fim do dia de trabalho trazendo com eles o medo e por vezes o vírus, porque em certas franjas existe uma linha muito ténue entre a possibilidade de se manterem seguros e a impossibilidade de colocarem comida na mesa.
Se existem milhões para injectar nos bancos, deveria existir capital disponível para investir em transportes públicos
Não podemos culpar gratuitamente, esquecendo a tolerância e pedagogia social que estes tempos nos pedem.
Se existem jovens que pisaram o risco? Existem. Se todas as outras faixas etárias não pisam o risco? Pisam, sim.
Ser jovem e não ser irreverente, ser jovem e não ter sede de viver é quase contra-natura.
As maiores festas de que a nossa comunicação social falou terão sido realmente organizadas por jovens?
Os jovens na casa dos 16/18 anos estão na maioria em preparação para os exames nacionais. E os jovens na faixa etária dos 20 aos 30 anos deviam estar nas suas actividade profissional, e se muitos não estão tal deve-se em boa medida ao desemprego e precariedade laboral que os atinge.
Culpabilizar os jovens serve apenas como distracção para muitos dos problemas realmente existentes.
Devemos dar o exemplo, sensibilizar e, acima de tudo, agir em conformidade para podermos transmitir os melhores comportamentos.
Enquanto cidadãos devemos auto-disciplinar as nossas acções. Não podemos ter uma acção binária, ou seja, assumir que tudo é sim ou não, preto ou branco.
Culpabilizar os jovens serve apenas como distracção para muitos dos problemas realmente existentes
Infelizmente vivemos em incerteza, e dentro dessa incerteza devemos procurar agir em segurança.
A Ericeira é uma freguesia no concelho de Mafra que, felizmente, tem sido um excelente exemplo. Cidadãos e empresários, perante a incerteza, têm optado por comportamentos preventivos. Assim podemos chegar de forma mais consensual a um esforço social em que todos devemos estar envolvidos.
Temos que educar os nossos, reeducar os nossos comportamentos, reeducar os nossos pensamentos e (muito importante) desenvolver uma consciência critica que nos permita distinguir o melhor caminho a seguir neste paralelo que vivemos entre saúde e economia, ou seja, compreender como retomar as actividades produtivas mantendo-nos seguros, exigindo essas condições – mas, ainda mais importante, exigir essas condições para quem não tenha a possibilidade de as exigir.
Não podemos perder a noção do próximo em tempos como estes e os jovens são o nosso futuro, tal como as nossas crianças. Sensibilizar, conversar, compreender e acompanhar é o papel que devemos desempenhar em vez de culpabilizar.
A coragem que os jagozes têm demonstrado é o (bom) exemplo de uma comunidade unida. E só assim podemos enfrentar o que ainda poderá estar para vir.