O Olhar de Francisco Seco

 

Fotografias: Francisco Seco/Associated Press

 

O fotojornalista espanhol Francisco Seco reside há cerca de quatro anos em Lisboa, cidade que lhe serve de base ao trabalho desenvolvido como freelancer de publicações de referência (os jornais El País e The New York Times) e correspondente da Associated Press (AP). Foi precisamente um trabalho para a agência noticiosa americana que o trouxe este ano à Ericeira com o objectivo de fotografar a única Reserva Mundial de Surf europeia. A missão acabou por se prolongar mais do que o planeado devido às condições meteorológicas adversas, mas o resultado final compensou a espera, com as fotografias a serem publicadas em diversos media internacionais e a merecerem destaque no site da AP. Na presente fotogaleria apresentamos fragmentos deste e doutros trabalhos de Francisco Seco, com o qual também conversámos sobre a Ericeira e a história por trás de uma imagem marcante.

 

Já conhecias a Ericeira antes deste trabalho?

Cheguei a Portugal em 2010. Eu já tinha ido à Ericeira de visita para comer bom peixe e conhecia a fama da Ericeira como surf spot antes de fazer o trabalho para a Associated Press. Por isso, e também porque surfei durante muitos anos e a Ericeira é uma das Reservas Mundiais de Surf, propus ao meu chefe fazer uma reportagem sobre a Ericeira.

 

Como surgiu e qual foi a base deste trabalho?

Sempre quis fazer uma reportagem sobre o surf e as ondas em Portugal. Muita gente fora de Portugal e que não tem nada a ver com o surf está a conhecer Portugal pelo surfista havaiano Garrett McNamara e a onda da Nazaré. E isso é importante para Portugal. Além de que a Ericeira é uma das Reservas Mundiais de Surf! Na minha agência levamos quase três anos a fazer muitos trabalhos sobre a crise financeira em Portugal, além do futebol, e achei que era o momento certo para fazer algo fresco e diferente. Em Portugal há muita coisa além da crise e dos pastéis de nata.

Em Portugal há muita coisa além da crise e dos pastéis de nata

E que impressões levaste da Ericeira, como pessoa e fotógrafo?

A impressão sobre a Ericeira foi inesquecível. Gosto muito da vila, do porto de pesca e da Reserva de Surf. Em termos de fotografia, a Ericeira é um lugar muito bom. A luz é muito boa. O porto de pesca é muito giro para fotografar e os pescadores foram muito engraçados comigo. Em termos de fotos de surf… basta ter sorte com as condições, que a natureza faz o resto (risos).

 

Este acabou por ser um trabalho demorado, por culpa de um Inverno muito rigoroso, mas uma semana mágica em Março acabou por safar a situação. Ficaste satisfeito com o produto final do trabalho e com o feedback?

Sim, o trabalho demorou mais de um mês. As boas condições não chegavam. Desde o início que o trabalho coincidiu com dias de muita chuva e com muito vento que estragava as ondas. Dias cinzentos e feios. Foi preciso estar atento aos sites de meteorologia e ligar aos meus contactos na Ericeira. Tive que fazer seis ou sete viagens desde Lisboa e houve dias em que voltei a casa sem nenhuma foto boa. Até que chegou essa semana mágica em Março. Tirei boas fotografias nos dias 10 e 11 de março. Na Segunda-Feira a onda dos Coxos estava com condições de filme, com o pessoal a curtir altos tubos e ondas muito compridas. Na Terça-Feira fotografei Pedra Branca, num dia glass também muito bom. Adorei. Quando estava a fotografar nesses dois dias achei que a espera tinha merecido a pena. Fiquei muito contente com o resultado. E os chefes também gostaram. A reportagem sobre a Ericeira foi um dos destaques da semana na minha agência.

 

Já tiveste a oportunidade de cobrir vários tipos de situações e de realizar umas quantas fotografias icónicas. Esta será a que mais se instalou na memória colectiva?

Eu acho que não tenho imagens icónicas. Acho que algumas estão melhores que outras, mas não icónicas. Lembro-me muito bem dessa fotografia, já a vi em graffitis por Lisboa. Foi feita durante um protesto no centro da capital. Depois de alguma confusão a polícia carregou contra uma manifestação que estava a decorrer com normalidade. Depois de fotografá-lo quis saber quem era o homem da fotografia. Tenho falado com ele depois. Um gajo muito porreiro e tranquilo.

Esta publicação também está disponível em | This article is also available in: Inglês