Nuno Nobre: “O Endògenos é uma inovadora experiência das regiões de Portugal”

Projecto Endògenos Nuno Nobre. - ph. DR

 

Fotografia: DR

 

Nuno Nobre é um empreendedor ligado à área agro-alimentar que acaba de lançar o projecto Endògenos, que visa revitalizar e revalorizar os produtos endógenos portugueses. O objectivo passa por explorar o potencial gastronómico destes produtos e levá-los às mesas dos restaurantes e hotéis portugueses, recuperando valores antigos do nosso país que, segundo Nuno Nobre, não captam a atenção da maioria dos portugueses. A próxima edição é dedicada a um produto bem jagoz: o ouriço-do-mar, iguaria que o empreendedor garante que “é como as ondas do mar a rebentarem na nossa boca”.

 

Nascimento do Endògenos

A minha experiência como empreendedor, nomeadamente na área agro-alimentar, e a experiência como cozinheiro profissional do chef António Alexandre foi o estímulo para a criação do Endògenos. O contacto e valorização das iniciativas locais de produção agrícola e a envolvência junto das regiões que produzem e preservam os produtos endógenos levou-nos a pensar criar e desenvolver este projeto interpretativo e com um enorme carácter experimental, desde a produção à transformação de produtos endógenos provenientes do mar e terra que depois chegam aos nossos pratos em restaurantes, hotéis ou outros espaços alimentares.

 

Projecto Endògenos

O Endògenos é uma nova interpretação de experiências gastronómicas com o objetivo de preservar, dignificar e valorizar os produtos endógenos portugueses. O Endògenos é uma inovadora experiência interpretativa das regiões de Portugal, através das viagens enogastronómicas “Milhas de Sabores”. Os programas integrados destas viagens partem à descoberta das origens, sabores, cultura, recursos e produtos turísticos, património e gastronomia endógena local, em parceria com a Touch Travel Viajar com Arte.

 

Objectivos

Durante 2014, o Endògenos vai desafiar vários chefs e profissionais de cozinha a elaborarem degustações únicas em regiões nacionais a partir de produtos endógenos provenientes da terra e mar, os quais estão esquecidos ou são pouco explorados.
A ideia é revalorizar os produtos endógenos, criando um receituário único e acessível e encorajando a continuidade do trabalho dos produtores e agentes locais. Mais tarde, queremos publicar um livro que expresse todo o carácter pedagógico e experiencial do  Endògenos e as suas viagens enogastronómicas “Milhas de Sabores”. O Endògenos prevê também a criação e implementação de workshops, conferências, degustações temáticas de produtos, entre outros eventos agregadores de pessoas com interesses comuns.

O Endògenos é uma nova interpretação de experiências gastronómicas com o objetivo de preservar, dignificar e valorizar os produtos endógenos portugueses.

Reacção do público

A reacção tem sido muito boa e as pessoas ficam curiosas de saber mais sobre os produtos, regiões e dicas sobre a sua produção e confecção. As edições são exclusivas e por convite, mas a adesão é grande, o que nos leva a pensar que o projecto é pertinente e existe espaço para ele na industria alimentar, assim como no fomento de novas interpretações gastronómicas com estes produtos, que quase não existem ou que têm baixa procura pelos cosumidores.

 

Importância dos endógenos

A importância é extrema porque devemos preservar e dignificar produtos que outrora foram utilizados e dignificados na nossa cozinha e que hoje, muitos deles, já nem se produzem. Este fenómeno deve-se ao aparecimento de novos produtos e hábitos contemporâneos de consumo, em paralelo com a descaracterização da oferta por parte dos grandes agentes de distribuição, que conferem uma forte política baseada em preço, muitas vezes em alternativa à qualidade e tradição de vários produtos endógenos nacionais. A importação de produtos do exterior contribui para que os nossos produtores não consigam escoar os seus produtos para as nossas plataformas, sendo obrigados a recorrer à exportação ou outras formas de distribuição em canais alternativos.

 

Endógenos e os portugueses

Os portugueses, de forma geral, não prestam muita atenção aos produtos endógenos. Começam a aparecer várias iniciativas com o objetivo de distinguir e trazer de volta muitos produtos que enriquecem a nossa cadeia de alimentação. Há cada vez mais uma maior consciencialização para lembrar e utilizar os produtos endógenos na confecção gastronómica e nas nossas próprias casas.

Devemos preservar e dignificar produtos que outrora foram utilizados e dignificados na nossa cozinha e que hoje, muitos deles, já nem se produzem.

Ouriço-do-mar

O ouriço-do-mar é um produto de excelência, vincado com um forte sabor a mar. Na gíria diz-se que “é como as ondas do mar a rebentarem na nossa boca”. Este produto tem vindo a desaparecer devido aos fenómenos normais atmosféricos, assim como à diminuição de espécies na nossa costa. Ainda existem focos destes produtos na costa, mas já existem casos dos espanhóis estarem a apanhar e levar para o seu país. O licenciamento para a preservação e apanha não é claro mas as grandes indústrias transformadoras, como Espanha, Japão entre outras, estão a valorizar este produto e nós devemos fazer o mesmo.

 

Ericeira e os endógenos

Na Ericeira existe uma riqueza de produtos endógenos provenientes do mar, tais como as bruxas/cavacos, os percebes e o polvo, para além do peixe. Na terra existe uma variedade considerável de produtos endógenos com características únicas que se comportam bem ao serem produzidos no clima particular da região da Ericeira.

Depois do medronheiro e do ouriço-do-mar, estes são os próximos produtos e paragens nacionais que o projecto Endògenos vai explorar:

Março – Edição dedicada às Algas de Peniche (CM Peniche)
Abril – Edição dedicada ao Carapau Seco (CM Nazaré)
Outubro – Edição dedicada ao Marmelo (CM Odivelas) em desenvolvimento.

Convite Endògenos Ouriço-do-Mar. - ph. DR