Texto: Ricardo Miguel Vieira | Fotografia: Desenho a Luz
Já lá vão 11 anos desde o nascimento dos NuBai Soundsystem, um dos primeiros colectivos do género em Portugal, e o momento aproxima-se para o trio composto por Nuno ‘Nunito’ Cardoso, Miguel “Gigi” Oliveira e Tiago Campos se estrear ao vivo no Sumol Summer Fest. À AZUL, o selecta ‘Nunito’, 34 anos, que vive na Ericeira, tal como o jagoz de gema ‘Gigi’, fez a antecipação da performance no festival de Verão da Ericeira e explicou como o mar e as ondas influenciam fortemente as suas escolhas musicais. O também Engenheiro de Materiais, mestre por detrás do projecto Wave Solutions Water Housings, empresa de fabrico de caixas estanques para máquinas fotográficas e câmeras de filmar, ainda adiantou que as Hardcore Monday’s, na discoteca Ouriço, estão para regressar.
À 6ª edição foram finalmente convidados para o Sumol Summer Fest. Como se sentem e que expectativas têm para o festival?
A nossa relação com a Ericeira é muito forte, aliás dois dos três elementos que compõem os NuBai residem aqui. É um sentimento de realização e de reconhecimento por podermos pisar o palco de um festival que vimos nascer à porta de casa. E, a bem dizer, é mesmo a nossa cara, pois representa as sonoridades com as quais nos identificamos.
Vocês já actuaram no Sapo Surf Bits Festival em 2006, na Ericeira. O que mudou nos NuBai ao vivo desde essa festa?
Em 2006 foi uma surpresa tocar para cerca de duas mil pessoas num espaço natural que hoje já não existe. Só aí já podem verificar uma grande mudança a nível geográfico na Ericeira, pela qual temos um enorme carinho e que faz parte da nossa história. Relativamente aos NuBai, mudaram os elementos, pois o Miguel [Oliveira] juntou-se ao colectivo só em 2010 e, entretanto, por motivos pessoais e profissionais, saíram outros. Em termos técnicos trocámos o vinil para tocar com computadores e CDJ’s. A nossa amplitude musical também se alterou e somos um pouco mais eclécticos que nessa altura e também mais experientes neste tipo de situações.
Têm alguma coisa especial preparada para o Sumol Summer Fest?
Estamos a preparar um set que vai deixar muita gente de queixo caído, do género: “Eles perderam a cabeça de vez”. Mas isso foi sempre algo que nos caracterizou e destacou dos demais, um nível de excentricidade mais elevado (risos).
Qual foi o festival em que mais curtiram actuar? Porquê?
Sem dúvida o Creamfields, em 2007. Três horas de actuação perante mais de 10 mil pessoas é algo inesquecível, há toda uma energia contagiante e indescritível.
Vocês já actuaram em diversos festivais em Portugal e na Europa, mas sempre foram mais conhecidos por animarem as noites em discotecas e bares. Em que difere a vossa preparação para uma noite e para um festival?
Uma noite na discoteca é o que chamamos um actuação de clubbing, sentes o público como se fosse uma espécie de corrente e deixas-te ir com ela, improvisando conforme a actuação decorre. Num festival não há tanta margem para improviso, tens de ter tudo bem planeado, pois o palco é grande e tens de o saber preencher, providenciando animação non-stop a um mar de gente.
E em que ambiente preferem actuar?
Não podemos dizer que temos um ambiente favorito, pois gostamos de todos por diferentes razões. Mas assim uma festa de praia, calor, com umas boas colunas e bom ambiente dá 20-0 a qualquer outro cenário.
Uma festa de praia, com calor, com umas boas colunas e bom ambiente dá 20-0 a qualquer outro cenário.
Vocês estão muito associados a noites com ambiente lascivo. Isso faz parte da vossa cultura?
Não diria da nossa cultura, mas sim da cultura musical dos sons que passamos. A sexualidade é muito promovida nas músicas e facilmente uma noite deriva para os deboches que referes. É tudo maior de idade e cada um sabe de si, eu penso que a música provoca efeitos diferentes a cada indivíduo e deixamos a liberdade de expressão tomar conta.
Já lá vão mais de dez anos desde o vosso aparecimento e são hoje um dos mais sólidos projectos de soundsystem em Portugal. Quando os NuBai nasceram imaginaram atingir esta dimensão?
Damos por nós a pensar como é possível terem passados já 11 anos! Foi, está a ser e de certo continuará a ser uma viagem incrível. Sempre fomos apologistas de que isto seria algo que faríamos sempre por gosto e que, na melhor das hipóteses teríamos oportunidade de percorrer o mundo com este projecto, e até agora o carinho que os nossos amigos e seguidores têm por nós justifica todo o esforço e dedicação ao longo destes anos todos.
Como um dos pioneiro na cena soundsystem em Portugal, como é que vêem a evolução do conceito no nosso país?
Vai de vento em popa. Quando começámos eram para aí apenas três grupos semelhantes em Portugal, hoje existem perto de 100. Os números são uma evidência clara da evolução que referes.
Há algum soundsystem a que devemos estar atentos?
Tantos! Por diversas razões, pois esta cultura tem diversas variantes. Big Badda Boom, campeões nacionais de sound clash e da Europa em 2012; Spit Fyah, Fyah Box, Kooyah e por aí fora. Como disse, todos por diversas razões, mais relacionadas com a atitude, conceito e originalidade.
O que é que um som tem de ter para figurar na vossa colecção? Como é que se processa a pesquisa e selecção de sons?
Normalmente nós os três damos um input sonoro individual à nossa colecção conforme novos temas vão saindo e estamos sempre atentos às novas tendências. Posteriormente vamos ouvindo o que cada um traz para a mesa e separamos o trigo do joio. Relativamente à pesquisa, é muito baseada na internet hoje em dia, onde temos vários contactos com editoras e produtores e recebemos numa base diária dezenas de músicas que analisamos.
Dois de vocês vivem na Ericeira. O que acham da cultura reggae na vila?
A cultura tem vindo a crescer gradualmente de há uns anos para cá, desde o tempo que pouco ou nada se ouvia nestas bandas até à realização de festas com grupos musicais e sound systems. O público foi começando a ser educado nestas sonoridades. Apareceram mais tarde os SG Sound (antigo soundsystem do Miguel Oliveira) e posteriormente os Boom Machine, que são sounds locais e também fizeram o seu trabalho de divulgação musical nesta área, o que habitua e ajuda na aceitação por parte de mais público que fica exposto a estas sonoridades.
Estamos a preparar as condições necessárias para realizar a primeira edição do Ericeira Jamaican Day
De que forma a Ericeira se reflecte nas músicas que passam?
A Ericeira como destino premium de surf é reflectida constantemente nas músicas e actuações, pois nunca dissociamos as nossas vidas pessoais e lifestyle dos NuBai. Toda a energia que vem das nossas actuações é originária da nossa ligação com o mar, a praia, as ondas e o ambiente tropical associado a estas músicas e a festas de praia.
Quando regressam as Hardcore Mondays no Ouriço?
Brevemente teremos novidades. Estamos ainda em negociações para fechar as datas da 4ª edição consecutiva das Hardcore Monday’s. De referir que esta é a maior e mais longa residência reggae no país no período de Verão.
Digam lá três sons que caracterizem a Ericeira e porquê.
Mavado – Neva Believe, pois temos uma versão com letra em português 100% jagoza que é cantada fervorosamente sempre que esta música passa; Mr. Vegas – Long time, é um hino jagoz; e TOK – Gi Gi Winner, pois a casa pega fogo quando esta música toca.
E um som para seduzir uma bifa?
Centenas deles! O mais fácil é Gyptian – Hold Yuh.
Planos para o futuro?
Estamos a preparar as condições necessárias para realizar a primeira edição do Ericeira Jamaican Day. Será um dia dedicado às sonoridade e costumes jamaicanos, como bebidas e comida, de forma a propagar ainda mais a cultura soundsystem que tanto amamos e dar a oportunidade ao público em geral de a melhor conhecer melhor em todas as suas variantes.