Texto: Filipa Teles Carvalho | Fotografia: DR
Muitos jovens, várias idades. Desde 1972 e durante uma década reuniram-se pessoas na Ericeira à volta da Música, Carpintaria, Alfabetização, entre outras actividades. A Filarmónica sobreviveu ao grupo que também já se “agrupou” no Facebook e que juntará alguns dos seus cerca de 200 membros num almoço marcado para o próximo Domingo, dia 11 de Junho. A AZUL entrevistou Rui Arsénio, um dos fundadores do Grupo Cultural Ericeira, que recorda aquilo que considera «uma verdadeira Academia de valores».
O que é o Grupo Cultural Ericeira?
É um núcleo amado por muitos. Foi um viveiro bom da minha geração e a essência do Grupo Cultural Ericeira (G.C.E.) foi sempre de puxar pelas aptidões de cada um de nós.
O que é que os membros podiam fazer no grupo, que actividades tinham ao seu dispor?
Tínhamos Alfabetização, Jornalismo, Música, Teatro, Desporto e chegámos a ter na nossa estrutura a Filarmónica Cultural Ericeira. Podíamos fazer de tudo e em tudo podíamos participar, desde que cada um de nós pudesse ser útil e empenhado em todas as iniciativas do G.C.E. Tomámos também a responsabilidade da manutenção, carpintarias, electricidade, pinturas e limpezas no salão paroquial.
Quando foi fundado e durante quanto tempo esteve activo?
Foi Fundado a 11 de Junho de 1972 e saiu em Diário da República a 31 de Março de 1977. Esteve activo durante uma década.
De que tipos de pessoas e idades era constituído este grupo? Que “quadro” poderia dele “pintar” para quem não o viveu?
Um misto de adolescentes e uma juventude já muito integrada na comunidade. Depois, não existia o estigma dos mais ricos e dos muito pobres ou divisões sobre o ser do Norte ou do Sul! Diria hoje que era uma verdadeira Academia de valores.
Que frutos deu este Grupo Cultural?
Deu engenheiros, doutores, músicos de qualidade superior, comerciais, directores, funcionários públicos, professores, bombeiros, polícias, marítimos, pescadores, empresários da Restauração e da Hotelaria, políticos, mães e pais – e muitos cidadãos com bom espírito de cidadania. Enfim, temos de tudo, entre muitas outras actividades. Mas, essencialmente, criámos mentes muito sãs.
Quantos membros, segundo sabe, estiveram ligados ao Grupo?
Segundo os últimos registos, à volta de duas centenas.
Faz falta incutir nas gerações vindouras o bom espírito de partilha do G.C.E.
Como descreveria a fundação do grupo, sendo um dos fundadores… Como é que foi, recorda-se?
Tudo começou com um encontro de amigos aos domingos, antes da missa do meio-dia, no Centro Social da Ericeira (creche); presença nas missas de Domingo com participação no coro da igreja. E apoio, como claque, aos domingos, nos jogos de seniores do G.D.U. Ericeirense.
O que significa, de forma mais prática e também mais simbólica ser um dos fundadores do Grupo?
Significa tão só que tive a felicidade de estar à hora certa, na data certa e no lugar certo, para viver essa experiência. Ser um dos fundadores foi, é e será sempre um enorme orgulho, carregado de humildade; ter feito parte do início de uma melodia de amor, paz, amizade e solidariedade.
Recorda-se de quem mais esteve envolvido na fundação e momentos fundamentais do Grupo, ou era movido pela participação de todos?
Recordo-me perfeitamente da maioria dos nomes dos fundadores mas, como deve calcular, seria deselegante anunciar nomes, pois correria o risco de me esquecer de alguém. A motivação veio sempre ao encontro da vontade de todos. Os mais velhos encarregavam-se de transmitir mais responsabilidade aos mais novos. Hoje, consigo ver ainda melhor o quão importante foi o apoio deles ao Grupo.
Momentos ou actividades mais relevantes da vida deste grupo, gostaria de salientar alguns?
Quanto aos momentos, todos!! Eu sou suspeito, sou muito mais da Música e estive no início da Alfabetização.
Porquê o «regresso dos heróis dos anos 80?»
Faz falta incutir nas gerações vindouras o bom espírito de partilha do G.C.E.
Não há Cultura no seio dos Jovens da Ericeira. Há… escuteiros.
Sabemos que está a ser preparado um almoço comemorativo? Quando?
Sim, é verdade! No próximo dia 11 de Junho.
Qual é o objectivo deste almoço?
Juntar os corpos, reunir o Grupo, apalpar as mentes em bom convívio e lançar o espírito do GCE.
Faz falta um “novo” Grupo Cultural na Ericeira? Julga que seria possível e desejável criar um novo grupo cultural tendo como base o “espírito” do antigo?
Claro que sim. O espírito que eu vivi com todos os meus amigos no Grupo Cultural Ericeira é um espírito transversal a tudo e a todos os tempos. Hoje, já não seria com certeza a ensinar as pessoas a ler e a escrever, mas por que não ensinar, quem não saiba, a lidar com este mundo das novas tecnologias ou mesmo saber movimentar as suas próprias contas bancárias numa simples caixa de Multibanco? Ou mesmo a mexer num computador para enviar um mero e-mail a um neto…!? Naquilo que diz respeito aos mais novos, penso na possibilidade de também aprenderem a fazer um pouco de tudo que os ajudasse a singrar nos difíceis percursos que se esperam para as suas vidas. Enfim, o molde é simples – é o da partilha de aptidões para que todos consigam aproveitar muito melhor as suas faculdades.
A Cultura – interesses espalhados pela juventude – está em falta na Ericeira do surf, dos bares e turistas, mas que teimosamente mantém algumas tradições, nomeadamente religiosas?
Não há Cultura no seio dos jovens da Ericeira. Há… escuteiros.
O que se espera deste almoço?
Um reencontro com muita paz, amor e alegria.