Fotografia: DR
Carla Silva, de 47 anos de idade, é psicóloga e fundadora do projecto SerenaMente.
Encontra-se entre as pessoas da Ericeira que já foram contagiadas pelo novo Coronavírus, responsável pela doença Covid-19. Recuperada da doença, que no seu caso apresentou um quadro clínico ligeiro, respondeu às perguntas da AZUL sobre todo este processo pelo qual passou nos últimos tempos, destacando a “ansiedade” como o mais difícil de lidar durante os tempos em que esteve confinada em casa em convalescença.
Carla Silva (que optou por publicar o seu nome verdadeiro nesta entrevista) preferiu não ilustrar este artigo com fotografias suas por razões de privacidade relacionadas com um certo estigma social associado a esta doença. Agradecemos-lhe a disponibilidade e o exemplo de coragem.
Como tens estado desde que os testes realizados à Covid-19 deram negativo?
Tenho estado bem.
Recuando um pouco, tens ideia de como terás sido contagiada?
Apenas sei que foi na Ericeira, especificamente onde e como não sei.
o que me levou a realizar o teste foi a perda repentina do olfacto e do paladar
Pertences a algum dos grupos de risco? Consideras-te uma pessoa saudável?
Não pertenço a nenhum grupo de risco. Embora fume, considero-me uma pessoa saudável.
Durante o Estado de Emergência cumpriste o dever geral de recolhimento?
Cumpri na medida do possível. Não me foi possível totalmente porque a minha mãe adoeceu (não com o novo Coronavírus) e foi necessário dar-lhe apoio.
O que te levou a realizar o teste da Covid-19?
O que me levou a realizar o teste foi a perda repentina do olfacto e do paladar. Embora a Saúde 24 me tenha dito que não era necessário, achei por bem ficar em casa e realizar o teste. Os sintomas que tive foram: dores de cabeça fortes, perda de olfacto e paladar, algumas dores musculares e um ouvido tapado, que não sei se esteve relacionado com o Coronavírus ou não. Os diferentes sintomas foram surgindo progressivamente.
Como esteve a tua saúde durante o período em que estavas positiva, ou seja, com a doença Covid-19? Foi um processo estável ou houve alturas mais complicadas?
Foi um processo estável, na medida em que os sintomas foram ligeiros. Comecei com dores de cabeça fortes que apenas duraram dois dias, na altura associei à sinusite. Depois a perda de olfacto e paladar repentinas, o que passou após uns sete dias, depois algumas dores musculares perfeitamente suportáveis e o ouvido tapado.
Como encaraste e viveste esse período? O que foi mais complicado para ti?
Como os meus filhos estavam negativos, fiquei sozinha em casa. Inicialmente encarei muito bem, aproveitei esse tempo para mudar algumas coisas em minha casa, para relaxar, ler, meditar e fazer yoga. Contudo, quando comecei a ficar com o ouvido tapado era como se estivesse em mar alto, não conseguia ler nem fazer nada que me pudesse ocupar, nesta altura de facto o que foi mais difícil foi a ansiedade, pois não conseguia ocupar-me com nada e a informação que se ouve na televisão tem um peso bastante negativo. No entanto, nunca estive sozinha, pois o acompanhamento diário via telefone, por parte dos médicos de saúde pública, foi extremamente importante, foram bastante atenciosos, afáveis e profissionais. Os familiares e amigos sempre me apoiaram com telefonemas, compras de supermercado e com o que foi necessário: alguns iam-me deixar um café a casa, outros um bolo, pequenas coisas que nos fazem sentir acompanhados e gostados. Também a Junta de Freguesia da Ericeira, assim que fiz o pedido, apoiou-me de imediato ao fazer o recolhimento do lixo em minha casa, sempre com as devidas precauções. Na realidade, em todo este processo apenas dois dias foram complicados devido à ansiedade. Cumpri o meu dever, que era ficar em casa e não contagiar ninguém e não foi assim tão complicado.
Tento não sofrer por antecipação
Persistem dúvidas sobre a aquisição de imunidade por parte de quem já esteve doente com a Covid-19. Receias voltar a ser contagiada? Mudaste algo nos teus comportamentos e rotinas desde que recuperaste da doença?
Não penso se volto ou não a ser contagiada, tento focar-me no meu estado actual, que é sentir-me bem. Não mudei nada nas minhas rotinas desde que recuperei da doença. Uso a máscara quando entro nos estabelecimentos, lavo muitas vezes as mãos e evito sair ao fim-de-semana na Ericeira; se saio, tento andar pelas ruas com menos movimento.
Receias, embora tenhas tido uma manifestação ligeira da doença, vir a sofrer complicações de saúde no futuro, como se tem ouvido falar em alguns casos?
Tento não sofrer por antecipação, por isso foco-me mais na forma como me sinto agora neste momento – e neste momento não tenho sintomas e sinto-me bem.
Queres deixar alguma mensagem ou conselhos para quem ler esta entrevista?
Sim, tentar não sofrer por antecipação. Ter sempre presente que nunca estamos sozinhos e sempre temos o auxílio de alguém.