“A Ericeira tem-me mudado por dentro…”

 

Texto e fotografia: Sónia Nunes

 

Gosto de pensar na forma como o lugar onde nascemos,
em que vivemos, ou que escolhemos… nos pode influenciar.

Penso muito nisto.

A Ericeira tem-me mudado por dentro…
entrou-me na pele, na alma, está em mim…
… para sempre.

Preciso dela.

Aqui me encontro. Respiro.
Me fortifico, me encho de esperança.

Existe por aqui uma aura de rebeldia, de liberdade…
uma força enorme e profunda reside neste lugar.

As gentes da Ericeira, os naturais daqui,
os que aqui cresceram e lidam com esta natureza
selvagem, agreste… e ao mesmo tempo tão encantadora.

Só podem ser pessoas fortes, resistentes… gente rija.
Gente de rosto marcado, com muitas vidas vividas numa só.
Gente que acredita, positiva, corajosa.

Sobretudo os mais antigos…
os que viviam da pesca, da vida dura do mar.

Certamente se viram de frente com a morte, muitas vezes.
Certamente renasceram, muitas outras…

Muitas vezes foram, sem saberem se voltavam.

Deixavam para trás o medo, o receio.
Iam sem pena de si próprios.

O caminho era um, em frente!
Para o mar.

E quem ficava para trás,
certamente também se vestia de temor…
mas sobretudo de coragem, de fé…

E voltar ao lugar cheio de alma de onde partiam…
tinha de ter um sabor doce, caloroso, de conforto.

Um sentimento de paz, de gratidão profunda.
O sentir de um dever cumprido.

De amor…

E é o amor, que nos segura na vida.

Que nos move, a cada dia.

E esta vila tem tanto amor,
tanto cuidado em si.

A Ericeira é uma menina bonita…
… para onde se quer sempre voltar.

Tudo aqui existe na medida certa.

Nos cativa o olhar.

E a sua alma selvagem, livre e corajosa
é assim temperada com a graça e delicadeza da vila….

Voltar à Ericeira…

… é voltar para mim!

São Sebastião - ph. Sónia Nunes