Texto: Hugo Rocha Pereira | Fotografia: DR
Nas veias de Filipe Batalha, o sangue acelera na vertigem do Rock n’ Roll, que mais logo vai andar à solta pela Rua da Misericórdia, na Lebre Session inaugural de 2014. Nesta entrevista, o homem que hoje se apresenta a solo como Félix passa em revista o seu percurso musical (que tem os Melodraw como pedra-de-toque), lança algumas pistas para o concerto desta noite e ainda recorda um episódio ocorrido no mesmo palco com o animal de estimação mais famoso da Ericeira.
Fala-me do teu percurso musical.
Lembro-me perfeitamente do dia em que me apaixonei pelo Rock. Foi em 1992, tinha 7 anos. Fui ao meu sótão, que na altura era o quarto do meu irmão mais velho, e despertou-me grande curiosidade o gira-discos. Ora, anos 90, um sótão bastante frequentado por quatro irmãos teenagers e seus amigos e amigas, acho que conseguem imaginar algumas histórias… Essa manhã, sem ninguém lá estar, peguei no primeiro álbum que me apareceu à frente e ouvi-o todo. Era o primeiro álbum dos Doors. Desfrutei de cada segundo. Daí para a frente o gira-discos passou a ser um grande companheiro, assim como os Pixies, Led Zeppelin, Lou Reed, Pink Floyd, Thin Lizzy, Nirvana, entre muitos outros que estavam na prateleira. Começar a tocar guitarra foi um feliz acidente que me aconteceu em 2003. Quando tive um ano inteiro ao meu dispor – entre trabalho em part-time, tirar a carta de condução e concluir a disciplina de Fisica –, decidi que era a altura perfeita para aprender o meu instrumento preferido. Em 2006 começou Melodraw, a única banda de que fiz parte até hoje. Após muitas mudanças, foi em 2013 que encontrei a actual formação, com o Marco Armés na bateria, Miguel Simões na guitarra e o Emanuel Carmo no baixo. Gravámos o 1º EP, “Whip”, na minha garagem, com o nosso material e fomos também os responsáveis pela produção do disco, liderada pelo Miguel Simões. O EP foi lançado a 15 de Novembro de 2013 e podem ouvi-lo ou comprá-lo no nosso bandcamp.
Já pisaste o palco do Lebre como convidado noutras sessões – o que reservas para este concerto em nome próprio?
Esta vai ser a minha estreia a solo. Fico muito contente por ser no Lebre porque é um sitio que frequento assiduamente. O Lebre tem uma mística quase inexplicável, que acolhe o mais variado público underground da nossa zona. Poder dar Rock n’ Roll a essa gente é gratificante.
Uma pista: vou dedicar uma canção ao Boris!
Vais tocar completamente a solo ou vais contar com algum convidado?
Vou levar um set para tocar a solo. Se no fim algum cowboy se quiser juntar a mim para umas malhas, porque não?! A malta quer é festa!
Vais tocar temas originais, covers ou ambos? Podes deixar alguma pista?
Vou tocar ambos. A maior parte são covers das minhas bandas preferidas, alguns clássicos, outras mais alternativas. O importante é que soem bem em formato acústico, daí eu levar menos originais, que não funcionam tão bem neste formato. Uma pista: vou dedicar uma canção ao Boris!
Já que falas nisso, ficou célebre uma sessão do último Verão em que foste ‘atacado’ pelo Boris enquanto tocavas…
Esse episódio foi muito fixe! Quando aconteceu eu não estava a achar muita piada, mas as boas histórias são quase sempre assim. O Lebre à pinha, nós a tocar a Monsters in the Parasol, dos Queens of the Stone Age, e de repente aparece-me aquela criatura com uma raiva desmedida de mim, a querer fincar dente na minha perna. Como devem imaginar, tocar guitarra, cantar e fugir de um cão não é propriamente uma coisa agradável, mas pelas gargalhadas que ouvi, deve ser hilariante de ver. E o mais engraçado é que ele ainda me deu duas dentadas e a malta em vez de o apanhar só se ria. Felizmente não foi nada de grave, apenas arranhou. Mas a cerejinha no topo do bolo foi mesmo o ataque ter sido antes da última musica, I Wanna Be Your Dog. Aí tudo fez sentido. Os Stooges são uma banda de que gosto muito, principalmente os dois primeiros álbuns. Há ali uma energia muito especial. O Boris apenas me passou a energia que precisava para a tocar.