Fotografia: Surfin Bird
Acreditam em coincidências? Publicamos esta entrevista no dia seguinte à comemoração do primeiro aniversário de Cupcake Mafia, com um concerto de regresso à casa de partida na discoteca Ouriço. Falámos com o vocalista, o baixista e o DJ da banda, cuja formação inicial entretanto sofreu alterações, com a saída dos irmãos Domingues e a entrada do baterista Fred Stone (de Blasted Mechanism) e do guitarrista Miguel Simões: da origem da banda aos próximos passos, das influências musicais ao papel da Ericeira e do surf, eis uma oportunidade de ouro para ficar a conhecer melhor um quinteto multicultural e que se assume como boa metáfora para a Ericeira contemporânea.
Falem-nos sobre a génese da banda.
Nuno Cardoso: Conheci o Tó Maia há cerca de cinco anos por ser vizinho de armazém: ele tem as suas marcas de pranchas de surf Insane Surfboards e Ericeira Customs e eu a Wave Solutions Housings, marca de caixas estanques personalizadas [para câmaras fotográfica]. Durante todo este tempo sempre vi o Tó ocupar as suas horas livres a tocar uns acordes na guitarra e por vezes juntava-se a ele um amigo ou outro, sempre em formato de jam e com os instrumentos disponíveis. Um desses amigos é o Johan, que sempre que aparecia brindava-nos com concertos acústicos de músicas compostas por ele. Só a partir de ter visto o Johan é que começou a brincadeira de eu lhes dizer que deviam fazer uma banda e que se fosse preciso eu arranjaria concertos. A partir desse momento o Tó começou a montar uma pequena sala de ensaios no seu armazém e a brincadeira começou a tomar alguma relevância conforme se foram associando novos elementos ao projecto. Entretanto surgiu a hipótese da estreia dos Cupcake Mafia na Ericeira, durante o Ouriço Sunset em Julho de 2015, onde os NuBai Sound System, projecto do qual faço parte há cerca de treze anos, convidaram os Cupcake Mafia para actuar. O Florin, amigo de vários elementos da suposta banda, sugeriu fazermos uma jam no espaço da Skeleton Sea uns dias antes, em formato de ensaio, onde curiosamente conhecemos os talentosos irmãos Rodrigues, guitarra solo e bateria. No dia do concerto marcado para o Ouriço não havia ainda baterista nem guitarrista oficial e tivemos de improvisar. O João Gomes [baixista], por conhecer o Rafael e o Gabriel anteriormente, sugeriu-os para desenrascar e o ensaio foi feito meras horas antes da actuação. E a partir daí podemos dizer que oficialmente se formaram os Cupcake Mafia.
Johan Ekman: Ouve a nossa música “What the Fogo” Está lá tudo! (Bolas! Este som ainda não saiu).
We were caught, yeah, barbecue, jam session and lots of beers
Os desportos de deslize estão no vosso ADN?
Johan: E faço skate e snowboard há mais de 20 anos. O Tó Maia [guitarra ritmo] faz surf há muitos anos e já shapou um número incontável de pranchas. O ‘Nunito’ [Nuno Cardoso aka DJ Baboon] é um óptimo bodyboarder e fotógrafo. Na verdade, os únicos que não pareciam montar alguma coisa eram os irmãos Domingues, mas quando fomos ao seu estúdio caseiro para ensaiarmos encontrámos uma espécie de skate com umas fitas e rodas grandes que eles utilizavam na relva.
A fusão de estilos é umas das vossas características. Quais são as vossas principais influências musicais e como definiriam o vosso som?
Johan: No que toca à música, cresci com muitas influências. A minha mãe deu-me soul. Ela punha a tocar muitas coisas da Motown quando éramos mais novos. Ela adorava Stevie Wonder e Whitney Houston. Eu também tinha um primo mais velho que gostava muito de rock, e claro que isso também me influenciou! Mas quando fui para o 7º ano e fiz mais amigos fiquei completamente viciado em hip hop americano. Deixei-me levar pela forma de contar uma história ou transmitir uma mensagem, fazendo-a fluir na batida. Eu era um adolescente nos anos 90, altura em que a qualidade do hip hop era óptima. E quem não gosta de descontrair ao sol ao som de reggae?!
Qual é a influência da Ericeira na vossa música? E que relação mantêm com a vila?
Johan: Acho que há muito mais sol e praia nas minhas músicas desde que me mudei para cá, tanto no que toca às letras como às batidas. Eu adoro esta vila! Tenho viajado muito e, embora adore estar em climas ainda mais quentes, considero este lugar especial, sinto-me em casa aqui. Pude conhecer óptimas pessoas e fiz verdadeiros amigos aqui. Acho que vou ficar!
Vocês têm apenas um ano de vida, mas parece que já andam por aqui há mais tempo. Qual é o vosso background musical?
Nuno Cardoso: Eu tenho os NuBai Sound System. Que é um colectivo de DJs e MCs que já rodaram Portugal de Norte a Sul e até já contam com várias internacionalizações, por isso a música a nível profissional já faz parte da minha vida há muito tempo.
Johan: Eu comecei muito por baixo, no final dos anos 90, a fazer os meus concertos com uma crew de hip hop, a maioria dos quais pela minha cidade natal na costa norte da Suécia, e frequentei uma escola de produção musical quando entrou o novo milénio. Depois disso, mudei-me para Estocolmo, fiz alguns pequenos estágios na Warner Music e na Dr. Records, escrevi algumas músicas, participei noutras com um dos dos rappers mais importantes da Suécia, Nico, também conhecido por Nicotine, e criei a minha própria banda de dois elementos, Priyantha. E também fiz alguns sons com Phoetik, Vincent, JPS, Graduate, Hoova, Mojo, e trabalhei com alguns produtores, como Simon Tocclo (LiberianME), Rastah (Henrik Berhane) Peter Helsing e Johnny Holmgren (Fidelity Beats). A razão para me mudar para a Ericeira, em 2013, foi mesmo por andar de skate, sinceramente. Eu nem imaginava que viríamos a criar Cupcake Mafia e que a banda se tornasse o que é hoje em dia. Na minha opinião, acho que essa é a beleza da vida: quando dás uns passo fora da tua área de conforto coisas boas virão!
Vocês podem ser uma boa metáfora da Ericeira actual. Concordam?
Nuno Cardoso: Nós somos, exactamente, a melhor metáfora da Ericeira actual, pois representamos tudo o que a Ericeira vive no seu mais recente paradigma. Somos originários do melting pot no qual a Ericeira se transformou: visitantes de todo o Mundo, de todas as idades, um pouco como a nossa banda, com elementos de várias faixas etárias e de diferentes regiões e até países. Estilo de vida jovem e virada para a praia, como é óbvio, pois alguns elementos praticam surf e bodyboard.
Johan: Certamente, eu oiço pessoas a falar sobre nós nesses termos. Isso deixa-me orgulhoso.
Preferem o processo de criação, em ensaios e no estúdio, ou a partilha com o público nos concertos?
João Gomes: O processo criativo e de ensaios é bastante divertido e não nos abstemos dele de maneira nenhuma. Somos todos grandes amigos e os ensaios são “a nossa ida ao bar”. Já a partilha com o público permite mostrar aquilo que os Cupcake Mafia são, muito mais do que apenas música. Não creio que nenhuma destas coisas se sobreponha à outra, mas é claro que tocar ao vivo acaba sempre por nos levar a outros estados de diversão e de emoção e é, obviamente, para isso que trabalhamos nos ensaios. Mas é muito ingrato dizer que preferimos um ou outro. Sempre que a Mafia está junta está tudo bem. Família.
Johan: Essa é complicada de responder. Há algum power na escrita das letras, nas gravações e nos ensaios, mas nada se compara aos concertos ao vivo com um bom som e as pessoas extasiadas!
And here’s my Ericeira / I did pack my shit, now i’m living life!
Para quando a gravação e edição de um disco?
João Gomes: Estamos a fazer gravações de forma independente e sem pressas, pois não queremos que a “vibe” do nosso som se perca por causa de pressas. De qualquer das formas, na minha opinião começa a fazer cada vez mais sentido começarmos a pensar na gravação de um álbum, visto o feedback que estamos a ter por parte dum leque tão variado de público.
Johan: Estamos a trabalhar num EP. Já gravámos quatro músicas, entretanto. Temos material no bolso para mais do que um álbum.
Johan, és o principal letrista e compositor da banda. Ouvi dizer que és um autor bastante profícuo. Onde te inspiras mais?
Na vida, principalmente. Quando escrevo sobre determinadas situações por que passei escrevo a verdade. Mas por vezes também escrevo sobre situações fictícias. As minhas músicas relectem os meus pensamentos. Tenho algumas músicas tristes sobre más situações, tenho músicas sobre política também. Penso muito sobre o certo e o errado e como as coisas podiam correr melhor, localmente e no mundo. A minha mensagem principal, no fundo, é apreciar o que a vida nos dá, espalhar amor, lutar contra o ódio e fazer coisas que nos inspirem e nos façam ganhar energia. A maioria chamar-lhe-ia “seguir os teus sonhos”. É engraçado, como escritor, pensar de onde é que a inspiração vem. Às vezes, quando a escrita vem mais fuida, é como se as palavras fossem absorvidas pelo meu cérebro e eu tivesse que acompanhar com a caneta e escrevê-las antes que elas desapareçam da minha cabeça. Noutras vezes, tenho uma ideia clara do som que quero e luto para encontrar as palavras certas para expressá-lo.