Obra: Rui Miguel Antunes
Cédula Criativa
Rui Miguel Antunes (em alguns círculos conhecido como ‘Devir’)
Nascido em Lisboa a 10 de Junho de 1973
Artista plástico
Site – fixacaoproibida
o processo de criação flui em devir
As “áreas criativas” a que me dedico constituem uma forma de vivência atenta no olhar, na escuta, no fazer de um caminho que se renova na integração de uma busca natural, inocente, honesta, muito bela e responsável.
Quais são as tuas principais influências e inspirações?
A pintura é fruto de uma constante influência e selecção e quase sempre revela o desconhecido, abrindo um espaço de aprendizagem e, nesse reflexo constante, a ardência da criação é validada num exercício de liberta investigação. Dai advém o enorme desafio de o realizar com método, de forma coerente e tangível para o observador. Sendo a surpresa e a revelação um vento constante, foi necessário ao longo dos anos maturar uma capacidade de foco, ir assumindo direcções, que aparentemente muito distintas e experimentais são, na verdade complementares. Assim, quando estou a trabalhar num projecto, atento, vou tentando compreender quais as portas de percepção que se abrem e me permitem avançar para a preparação da próxima obra. Como um organismo vivo, o processo de criação retroalimenta-se, vai-se compreendendo e integrando, cura-se e concretiza-se. Flui em devir. Dispersei um nada da pergunta sobre influências ou inspirações por ser, de facto, o processo em devir o que assegura e filtra o que tem influência e ascende a factor de inspiração ou não. Considerando toda e qualquer prática de criação, ganhei a capacidade de ver beleza, o esforço e a dedicação em cada parte, o que permite seguir interpretando a magia comunicante da realidade ao meu redor com ternura e compreensão. Mas, devido a essa permeabilidade, protejo-me em atelier tentando encontrar o essencial, a inocência, um espaço nuclear onde me reencontro num elemento de criação. A simples presença de um escrito, som ou livro, um objecto ou outro quadro, influenciam o resultado do trabalho, por isto a pintura é o culminar de limpeza, arrumação, preparação e alinhamento com a arquitectura do espaço, da sua vivência e história. Naturalmente, todos os mestres que vivem e investigaram com esse cuidar são integrados como influências e naturalmente inspiram.
Destaques do teu percurso criativo
Dada a intensidade e enquadramento de cada momento de criação em cada obra, tenho dificuldade em destacar ou compartimentar um ou outro projecto. Compreendo a urgência, a necessidade de ir de encontro a uma selecção. Contudo, no caminho, considero cada passo, cada opção responsável, as suas consequências, tons e matizes. Sendo muito intuitiva, auto didáctica e experimental, considero mesmo a minha prática um continuum em aprendizagem, uma soma de vivências que jardinaram e deram o fruto que se foi manifestando. Tudo e todos contaram, família e amigos, os peregrinos no caminho, os passeios na maré vazia, cada abraço, cada olhar sincero e a reflexão de cada observador atento, hoje e no futuro. O nascimento da minha filha Clara é um momento incontornável de imenso amor e alargamento da compreensão do que é isto de estar vivo, do que somos feitos em verdade e que legado estamos a entregar e em que futuro.
Em que projecto estás a trabalhar agora?
Decorre até hoje, dia 10 de Outubro, a segunda edição da 100×100. Um por um, consiste numa exposição colectiva de pintura onde foi extraordinario reunir o trabalho de 30 artistas numa celebração de liberdade criativa potenciada pelo volume colectivo e cujo impacto não deixa espaço para a indiferença. As galerias públicas da Casa de Cultura Jaime Lobo e Silva têm condições de excelência, o que não só potenciou o projecto 100×100 como reforçou o posicionamento de um bom trabalho que tem vindo a ser levado a cabo pela equipa da Cultura da CMMafra. Estou lá sempre que posso, acompanhando algumas visitas, analisando com tempo os quadros, de que gosto cada vez mais, e aproveitando para estudar e desenhar na companhia da diversidade. Gosto muito dos ecos silenciosos da galeria e aprendo com as dinâmicas de observação dos visitantes na presença dos quadros.
Objectivos a médio e longo prazo.
São tempos de navegação à vista, avançando com sensibilidade e firmeza. Por isto, aponto para o encerramento, compreensão e análise da 100×100 na Ericeira, tiro uns dias de férias e logo vemos. Entretanto, procuro um atelier, um espaço com luz onde possa trabalhar aqui no concelho, vou continuar disponível para dar as minhas formações de Pintura Livre com os mais pequenos e estou a preparar uns retiros para adultos muito em breve. Paralelamente, continuarei a ser um homem de palavra, desejo continuar a dançar, ser um bom amigo de quem bem me quer, irmão do meu irmão, manter-me saudável e lúcido, ser um dedicado companheiro da minha super companheira e estar efectivo na missão de ser “o melhor papá do mundo”. A longo prazo, continuo a trabalhar para uma exposição individual em Junho de 2023.