Consagração da Reserva Mundial de Surf da Ericeira

 

Fotografia: DR e Vert

 

Celebra-se hoje o 6º aniversário da Reserva Mundial de Surf da Ericeira, consagrada a 14 de Outubro de 2011. Para assinalar a importância desta data que, mais do que uma efeméride, deve afirmar-se cada vez mais como ferramenta para a defesa (sobretudo) e divulgação das ondas e características naturais desta região, fomos aos arquivos jornalísticos: recuperámos o artigo de Hugo Rocha Pereira sobre a cerimónia em que se atribuiu este galardão (e responsabilidade) à Ericeira enquanto comunidade. Este texto foi publicado originalmente na Vert, a 15 de Outubro de 2011.

 

De acordo com o dicionário, uma das possíveis definições para a palavra “consagração” é “Ato de tornar sagrada alguma coisa, dedicando-a ao culto divino, a Deus”. Se encararmos as ondas como templos de culto e o bodyboard como religião, poderemos compreender melhor o que se passou ontem na Ericeira. Após a apresentação da candidatura a Reserva Mundial de Surf, que conduziu à respetiva aprovação em fevereiro deste ano, chegou o dia 14 de Outubro, data marcada para a cerimónia de consagração.

Poderia ser uma manhã igual às outras em Ribeira d’Ilhas, onde ainda de noite já muitos aguardavam os primeiros raios de sol para entrar na água; mas ontem havia um objetivo extra em relação ao ato de deslizar nas ondas: prestar homenagem ao conjunto de sete maravilhas que compõem a primeira Reserva Mundial de Surf europeia e apenas a segunda a nível global. E é sempre especial ver bodyboarders e surfistas unidos por algo maior do que a vontade de apanhar ondas, parando de remar para se juntarem em círculo, numa sentida homenagem às suas companheiras aquáticas. Por incrível que pareça, durante esses minutos não entraram ondas na chamada “sala de visitas” do surf nacional, com a lua, bem redonda, a abençoar a ocasião solene.

Mais do que uma meta, esta data implica um ponto de partida para melhor se promover e – sobretudo – preservar estas ondas de caraterísticas e qualidade ímpares, tal como foi reconhecido por diversos intervenientes na cerimónia mais (ou menos) formal que teve lugar, um pouco mais tarde, no Parque de Santa Marta.

Antes da apresentação do booklet “Ericeira, Reserva Mundial de Surf”, procedeu-se à entrega, por parte de Will Henry (fundador da Save The Waves Coalition, a “mãe” das Reservas Mundiais de Surf) da placa comemorativa ao trio de instituições que desempenhará o papel de Stewardship Council: a Câmara Municipal de Mafra, o Ericeira Surf Clube (ESC) e a Associação dos Amigos da Baía dos Coxos.

Fica, porém, uma nota negativa. Entre as personalidades nomeadas como Guardiões da Reserva (a quem caberá zelar pela salvaguarda dos valores ambientais subjacentes) não figura qualquer bodyboarder, o que na perspetiva de Miguel Barata, Presidente da Assembleia Geral do ESC, “é inexplicável, até porque algumas das ondas da Reserva são surfadas principalmente por bodyboarders, já para não falar da tradição que este desporto tem na Ericeira. Esta nomeação foi realizada um pouco à revelia dos bodyboarders, o que até fez com que na cerimónia realizada dentro de água apenas tenham participado dois bodyboarders (nota: além de Miguel Barata, marcou presença Paulo Costa, Presidente da Associação Portuguesa de Bodyboard), porque muitos dos outros estavam em protesto. Uma Reserva Mundial de Surf não se restringe ao surf, abrange todos os desportos de ondas.”