Ericeira é Reserva Mundial de Surf (há seis anos)

João Magoito André Cave. - ph. Ricardo Bravo

 

Fotografia: Ricardo Bravo

 

Comemorou-se ontem o 6º aniversário da Ericeira WSR. Após termos recuperado um artigo sobre os acontecimentos que marcaram a jornada da consagração, hoje republicamos uma peça em que se começam por explicar os contornos desta distinção para depois se passar a palavra a ilustres protagonistas locais e internacionais, que partilharam as suas perspectivas sobre a nova realidade. Este texto com autoria de Hugo Rocha Pereira foi publicado originalmente na Vert #106, edição impressa do Outono de 2011.

 

Como muitos já devem saber, fica na Ericeira a segunda Reserva Mundial de Surf. Numa faixa entre as praias da Empa e de São Lourenço estão sete maravilhas de características únicas (Pedra Branca, Reef, Ribeira d’Ilhas, Cave, Crazy Left, Coxos e São Lourenço) que fazem as delícias de bodyboarders nacionais e dos cinco continentes.

 

Afinal de contas, o que é uma Reserva Mundial de Surf? A organização não governamental Save The Waves Coalition criou este conceito que pretende promover e preservar ondas ou faixas costeiras de excelência para a prática dos desportos de ondas, demonstrando à comunidade internacional o seu valor em termos ambientais, sociais, culturais e económicos. Algo semelhante ao que UNESCO faz ao classificar locais do planeta como Património da Humanidade.

Só existem mais três Reservas Mundiais de Surf neste momento: Malibu e Santa Cruz, nos E.U.A., e Manly Beach, na Austrália.Para se receber este estatuto é necessário que uma candidatura seja apresentada pelas respectivas federações nacionais de surf, ONG’s do ambiente, municípios locais ou indivíduos. Posteriormente, o Conselho Visionário da World Surfing Reserves verifica se os quatro requisitos básicos para a aprovação (alta qualidade e consistência da onda ou faixa costeira; caracterísitcas ambientais da orla costeira circundante; riqueza da cultura de surf e História da zona; e forte apoio da comunidade local) se encontram reunidos e dá o seu veredicto sobre a pretensão.

Mike Stewart: “Não fixei todos os nomes das boas ondas que surfei na Ericeira, mas lembro-me que era uma espécie de parque de diversões aquático

O potencial que esta distinção encerra será determinado pelas acções tomadas em concreto. Miguel Barata, do Ericeira Surf Clube, considera que “As entidades públicas poderão implementar regras de ordenamento territorial na orla costeira e divulgar a região pelo mundo. Já os privados poderão aproveitar o balanço proporcionado pela vinda de mais turistas”. Esta é uma perspectiva subscrita, em boa medida, por Zsolt Lorincz, membro da S.O.S. – Salvem o Surf, para quem “O estatuto de Reserva irá contribuir para o desenvolvimento sustentável da região, alicerçado no surf e mais direccionado oara o turismo”.

Este assunto reclama, assim, um envolvimento activo da comunidade. E não só pelas vertentes desportiva e ambiental inerentes. Ainda não se realizou a cerimónia de consagração da Reserva da Ericeira, mas já cosnta que entre os seus Guardiões não se encontra qualquer bodyboarder.


OUTRAS POSSÍVEIS RESERVAS

Conforme assinalou Mike Stewart, “Este é um exemplo fantástico a ser seguido por outras cidades e países”, considerando que “A Praia do Norte (Nazaré) e Peniche também poderão ser Reservas de Surf”, opinião partilhada por Ben Player. Como é sabido, Portugal tem diversas zonas costeiras – de norte a sul, passando pelos arquipélagos da Madeira e Açores – e ondas que reúnem condições para alcançar facilmente esta distinção.

OUTROS BONS EXEMPLOS

As Reservas Mundiais de Surf não são a única forma de reconhecer a excelência das faixas costeiras. A costa de Torres Vedras, por exemplo, precisamente onde esta vossa revista está sediada, recebeu este ano várias distinções, das quais se destacam o título Quality Coast – galardão que reconhece todo o concelho como destino turístico litoral -, várias praias de Qualidade Ouro e com Bandeiras Azuis, símbolo não só das boas condições da água mas também de vigilância, acesso e higiene adequadas. De destacar que este Verão serão 271 as praias portuguesas com Bandeira Azul, o que é um número recorde.


JOÃO ANDRÉ – “Já apanhei mar clássico em todos estes picos, mas das sete ondas da Reserva as minhas preferidas são Crazy Left e Pedra Branca, por aguentarem um tamanho considerável e serem bem cavadas. No maior dia em que entrei na Pedra Branca estavam uns quatro metros a correr de sul. Apanhei altas ondas sozinho  durante duas horas”

MIKE STEWART – “Não fixei todos os nomes das boas ondas que surfei na Ericeira, mas lembro-me que era uma espécie de parque de diversões aquático (ver Vert 63), com diferentes picos surfáveis consoante as condições de maré. Muita dinâmica e diversidade numa área pequena”

FILIPE HENRIQUES – “Pedra Branca é a onda que me impressiona mais. É mágica, quando funciona deixa todos boquiabertos e tolos. São Lourenço também é muito especial, essencialmente porque não tem muito crowd. A onda dos Coxos nem precisa de palavras, aquela baía maravlhosa já me deixou feliz muitas vezes”

São Lourenço. - ph. José Guerra

São Lourenço. – ph. José Guerra