Texto: AZUL/Lusa | Fotografia: DR
Listados com um dos sete monumentos mais ameaçados da Europa pela organização Europa Nostra, que se dedica à salvaguarda de património, os carrilhões de Mafra deverão ser alvo de obras de recuperação já no início do próximo ano. A convicção é do director do Palácio Nacional de Mafra, Mário Pereira, após uma visita de especialistas internacionais em restauros de monumentos ligados à Europa Nostra e ao Instituto do Banco Europeu de Desenvolvimento.
O dirigente adiantou que o calendário aponta para a abertura do concurso para as obras no início do próximo ano, estando concluído o respectivo caderno de encargos, por parte da Direção-Geral do Património Cultural.
Após três dias de visitas e reuniões, iniciados na Terça-feira, os técnicos apontaram para uma intervenção a rondar os dois milhões de euros, um milhão por cada carrilhão e respectiva torre sineira.
“É um valor realista com o qual se pode concretizar o restauro, se não surgirem imprevistos”, disse Pedro Ponce de León, para quem a definição do valor de investimento requer uma “inspecção actualizada” dentro das torres, uma vez que o orçamento está a ser feito com base num diagnóstico exaustivo com “oito ou dez anos”.
Desde Maio que os carrilhões e sinos do Palácio Nacional de Mafra figuram entre os sete monumentos mais ameaçados da Europa, uma atribuição da Europa Nostra que veio alertar para a urgência das obras e mobilizar entidades públicas e privadas, a nível nacional e internacional, para se encontrar o financiamento necessário para uma rápida intervenção.
“É MUITO URGENTE ACTUAR”
A 30 de Outubro, especialistas internacionais ligados ao restauro de monumentos alertaram, mais uma vez, para a urgência de uma intervenção nos sinos e carrilhões do Palácio Nacional de Mafra.
“O estado dos sinos é muito precário, porque estão seguros por andaimes e o processo de deterioração é bastante visível. É preciso intervir o quanto antes porque, além de tudo o resto, se está a investir para manter os sinos suspensos e não caírem para o exterior. Quanto mais tarde a intervenção for levada a cabo, mais custos terá”, afirmou o especialista espanhol Pedro Ponce de Léon, membro do comité científico da organização Europa Nostra.
Para o especialista em restauro de monumentos, “é muito urgente actuar”, tendo em conta que se trata de um conjunto sineiro “excepcional e de importância única”, por ser o “mais completo e o menos alterado”, dos existentes.
Semelhante alerta é feito pelo engenheiro português João Appleton, especialista mundial em engenharia de estruturas, segundo o qual o estado daquele património “é muito preocupante”. Além da sua degradação, há um “risco efectivo” porque, se as estruturas de suporte colapsarem, “os sinos podem cair” na frente do palácio.
“Há sinos que se deslocaram e já estão a tocar noutros sinos”, alertou, adiantando que, além da degradação das estruturas de madeira, existem também “estruturas em ferro com níveis de corrosão elevados”.
Para o perito, os andaimes colocados para reforçar a segurança dos sinos “são medidas de protecção que não são suficientes”, colocando em causa se a solução foi estudada para “suster um eventual colapso”.
A agência Lusa procurou obter esclarecimentos junto do gabinete do secretário de Estado da Cultura e continua à espera de uma resposta.
Tal como a AZUL noticiou em finais de Maio, o restauro dos carrilhões está na agenda da secretaria da Cultura. Na altura, Jorge Barreto Xavier indicou o final do presente ano como o período de abertura do concurso para as obras, expectando-se que em 2017 a intervenção estivesse concluída. Paralelamente, a autarquia de Mafra, liderada pelo social-democrata Hélder Sousa Silva, garantiu que vai investir 200 mil euros na recuperação deste património.