Texto: Ana Margarida Simões (Economista) | Fotografia: José Guerra
Em termos meteorológicos, o Inverno é a mais fria das quatro estações do ano, alongando-se desde o seu solstício até ao equinócio da Primavera. Porém, à escala local, o que é o Inverno? No que à Ericeira diz respeito, pode dizer-se que é uma das duas estações do ano. Sim, não me enganei: escrevi mesmo “duas estações”.
Como é sabido, a Ericeira, que chegou a ser um dos mais importantes portos de pesca do país no séc. XIX, é hoje um dos destinos turísticos mais populares de Portugal. Cada vez mais procurada por portugueses e estrangeiros, sobretudo surfistas, devido às excelentes condições para a prática da modalidade, a Ericeira ainda é muito dependente do turismo sazonal, logo sujeita às condições climatéricas.
Quando chega o final de Setembro, a Ericeira começa, lentamente, a entrar num estado de arrefecimento das actividades económicas e sociais. O vento do quadrante leste já não é quente; o influxo de turistas quebra; há vagas de estacionamento nas ruas e parques mais concorridos; diminuem as indicações de “Reservado” nas mesas dos restaurantes; as praias estão desimpedidas; e os estabelecimentos comerciais, quais lugares assolados pelos humores de Inverno, têm menos clientela.
Ora, é nesta altura que, todos os anos, a pergunta paira no ar, sem que haja, ainda, uma resposta absoluta ou científica para o problema: como sobreviver economicamente ao Inverno da Ericeira? A questão é antiga e está gasta de tanto saltitar de boca-em-boca entre os jagozes. Até pode parecer simples tecer um manual de sobrevivência empresarial para épocas de menor facturação, mas desengane-se quem assim pensa. Mais do que uma mera extrapolação da actividade em anos passados, deve-se planear, planear… e planear.
Uma boa gestão empresarial exige um planeamento adequado. Quantos dos empresários ericeirenses conseguem responder a questões como “qual é a missão da minha empresa”, “qual é o meu mercado alvo”, “ao fim de quanto tempo atinjo o break-even point*”, “qual é o meu lucro” e “como aumentar as minhas receitas”?
Embora básicas, estas questões assumem uma elevada importância e até deviam começar a ser respondidas antes de se iniciar qualquer negócio, pois a falta de soluções para estas interrogações poderá conduzir ao insucesso da empresa. Na verdade, a simples existência de uma empresa pressupõe que ela tenha um mercado, um produto ou serviço a oferecer e, claro, meios de produzir e transformar a sua actividade em lucros e novos investimentos; e estas são algumas das características que definem a identidade de uma empresa.
As empresas nascem, evoluem e, por vezes, morrem. Durante a sua vida, uma empresa luta para sobreviver e prosperar, o que impõe constantes adaptações e mudanças. Para sobreviver num mundo instável e num cenário de duas épocas de faturação, as empresas devem assumir capacidade de adaptação e inovação. E este Inverno não foge à regra.
Leia a conclusão deste artigo em breve, aqui na AZUL.
*Break-even point é uma expressão inglesa que designa um ponto de equilíbrio entre as despesas e receitas de uma empresa. Este é o ponto a partir do qual os resultados da empresa são positivos, indicando lucro. Este conceito é utilizado para se perceber qual o mínimo de vendas que a empresa precisa de gerar para se tornar auto-sustentável.