Fotografia: DR
Na sequência da Assembleia Geral da Real e Venerável Irmandade do Santíssimo Sacramento de Mafra, ocorrida Domingo, foi apresentado pela respectiva Mesa Administrativa o projecto seleccionado para a coroa que será realizada para a coroação canónica de carácter pontifício, com a qual Sua Santidade o Papa Francisco distinguiu a Imagem da Santíssima Virgem Maria no mistério da sua Soledade. Em Portugal, somente Nossa Senhora do Sameiro e Nossa Senhora de Fátima receberam este privilégio pontifício.
O projecto seleccionado, foi criado pelo artista Santiago Rodrigues Lopes, que se inspirou nos modelos de coroas atribuídos a João Frederico Ludovice, arquitecto do Real Edifício de Mafra. Foram incluídas nas cartelas representações das invocações simbólicas de Nossa Senhora, que surgem representadas no exterior do zimbório da basílica, e a cartela central reproduz o anagrama de Jesus e Maria, que se encontra na janela principal da nave da basílica. As estrelas e as grinaldas, acompanham os modelos reproduzidos nos relicários que temos nos altares. A coroa é rematada com um orbe em lápis-lazúli, e uma cruz que reproduz o modelo da coroa real portuguesa.
o conjunto de elementos sumptuários foi decisivo para a formulação do desenho
Santiago Rodrigues Lopes, o autor deste projecto, escreveu uma breve resenha descritiva da coroa da Santíssima Virgem no mistério da sua Soledade que se venera na Real Basílica de Mafra:
“Foi escolhida uma composição que, partindo de formas nitidamente barrocas, simplifica a ornamentação de cada uma das partes, em harmonia com a abordagem classicista dominante na ourivesaria italiana da segunda metade do século XVIII. Esta afiliação italianizante justifica-se pelo desejo de se adequar à própria escultura de Nossa Senhora da Soledade, bem como ao contexto formal e espacial da Real Basílica de Nossa Senhora e Santo António de Mafra, na qual está a mesma imagem exposta ao culto. Da mesma forma, o conjunto de elementos sumptuários desta origem, influenciados pelos modelos italianos que se conservam em Mafra, foi decisivo para a formulação do desenho.
Quanto ao desenvolvimento formal da proposta, a coroa eleva-se sobre um anel inferior de perfil côncavo com frisos em relevo, sobre o qual está disposta uma grinalda de folhas de louro enfeitadas com fitas cruzadas. Sobre este anel reconhecem-se seis módulos definidos por motivos em forma de “c”, pequenos enrolamentos de caráter vegetal, que enquadram seis cartelas ovais com atributos marianos, apresentando na frente uma figuração do anagrama de Jesus e Maria, que se observa no remate da nave da própria basílica. Do anel inferior partem seis tiaras imperiais, compostos por duas peças ornamentadas em baixo-relevo com elementos clássicos repetidos, sobre as quais se observam seis cartelas com figurações de atributos da Paixão de Cristo, os quais aludem à associação da escultura a este momento da Vida de Cristo e da Virgem. Cada uma destas seis tiaras imperiais termina-se num enrolamento, ornamentado com uma folha de acanto, suportando assim a base que sustenta uma orbe de lápis-lazúli, encimada por uma cruz de inspiração vegetal. Este último elemento, além de evidenciar uma estreita relação estética com o próprio projecto, alude também a um elemento icónico da Casa Real Portuguesa, a coroa realizada, em 1817, pelo ourives Inácio Luiz da Costa.
Destaca-se, sobre o dourado da peça, a aplicação de duas grinaldas em prata, surgindo uma, de carácter floral e maior volume, no primeiro corpo ou “cesto” da coroa, fixada e suspensa de cada uma das tiaras imperiais, e outra, de menor relevo, suspensa na parte superior destas. Esta aplicação de elementos de prata vê-se completada por uma série de pequenas composições florais dispostas sobre o remate superior das cartelas da parte inferior do corpo, e entre as quais se destacam as estrelas que centram a visão da coroa.”