Alerta: impactos das eólicas oceânicas nas aves podem ser especialmente graves na Ericeira e Viana do Castelo

 

Fotografia: David Will

 

A procura por fontes de energia renovável é uma prioridade global e Portugal não é excepção. Entre as opções de energia limpa em expansão no país estão as eólicas oceânicas, que prometem contribuir significativamente para a descarbonização da economia. No entanto, recentemente, a Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA) e a Fundação Oceano Azul alertaram para os possíveis impactos dessas estruturas nas aves marinhas, especialmente nas áreas da Ericeira e de Viana do Castelo, pedindo que sejam realizados estudos mais aprofundados antes que estes projectos avancem.

A Ericeira encontra-se entre as cinco áreas identificadas pelo Governo, espalhadas ao longo da costa continental para o desenvolvimento em larga escala da indústria de energias renováveis no mar.

a transição para uma matriz energética mais limpa não deve ser alcançada à custa da perda de biodiversidade

Para além da Ericeira, estão também incluídas as regiões de Viana do Castelo, Leixões, Figueira da Foz e Sines. No entanto, a SPEA e a Fundação Oceano Azul alertam especialmente para a sensibilidade das áreas da Ericeira e Viana do Castelo.

As energias renováveis, incluindo as eólicas oceânicas, desempenham um papel crucial na redução das emissões de gases de efeito de estufa e na luta contra as mudanças climáticas. No entanto, é importante lembrar que a transição para uma matriz energética mais limpa não deve ser alcançada à custa da perda de biodiversidade.

Segundo o estudo recente da SPEA, em colaboração com o Centro de Ecologia (cE3c) e apoiado pela Fundação Oceano Azul, destaca-se a importância de avaliar cuidadosamente os potenciais impactos das eólicas oceânicas nas aves marinhas e identificar as áreas mais adequadas para a instalação dessas estruturas.

Relativamente à Ericeira, as duas organizações destacam que a área proposta para a instalação das estruturas eólicas sobrepõe-se àquela estudada durante a Expedição Científica Oceano Azul Cascais Mafra Sintra em Outubro de 2022.

Esta expedição teve como objectivo recolher informações sobre os valores naturais da área, visando uma futura proposta para a criação da Área Marinha Protegida de Iniciativa Comunitária (AMPIC) de Cascais, Mafra e Sintra.

Esta região é anexa a duas Zonas de Protecção Especial e serve de habitat e zona de alimentação da população nidificante de cagarras nas ilhas Berlengas, tornando-a única em termos de biodiversidade.

área proposta para a instalação das estruturas eólicas sobrepõe-se àquela estudada durante a Expedição Científica Oceano Azul Cascais Mafra Sintra

Segundo as organizações, “as aves marinhas e costeiras são dos grupos de animais mais ameaçados do mundo devido a impactos humanos, como as capturas acidentais por artes de pesca e a poluição. São o grupo mais afectado pela expansão dos parques eólicos marinhos devido às colisões com as pás das turbinas ou ao efeito barreira criado pelos parques eólicos e sobretudo à perda de habitat que necessariamente acontecerá pela exploração de vastas áreas marinhas”.

Emanuel Gonçalves, coordenador científico e administrador da Fundação Oceano Azul, reforça a importância de abordar a expansão das eólicas offshore “com regras e conhecimento, para que a agenda da biodiversidade não se subordine à agenda da descarbonização”.

É ainda destacada, por Domingos Leitão, director executivo da SPEA, a necessidade de transparência no processo e de envolver a sociedade, uma vez que o espaço marítimo português e os seus recursos naturais são um património de todos os portugueses.

As organizações reconhecem a “ambição política” de avançar com o leilão das áreas definidas antes do final do ano, dada a urgência da transição energética. Ainda assim, é crucial que se reúna um amplo conhecimento técnico-científico antes do avanço destes projectos. O equilíbrio entre a procura por fontes de energia renovável e a protecção da biodiversidade deve ser cuidadosamente mantido, de forma a garantir um futuro sustentável para Portugal e para as aves marinhas e costeiras.

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