Ajudar a Ucrânia a partir da Ericeira

 

Fotografia: AZUL

 

A invasão da Ucrânia por parte da Rússia tem gerado uma reacção generalizada de repúdio e solidariedade por parte da comunidade internacional. Esta guerra totalmente injustificada está a gerar muito sofrimento, o que suscita uma onda crescente de ajuda ao nível global. Além das medidas tomadas pelos países, a sociedade civil tem levado a cabo diversas acções para tentar ajudar  aqueles que são afectados por este conflito.

Portugal e a Ericeira não são excepção. Desde o início da semana que três cidadãs portuguesas de origem ucraniana têm vindo a recolher e a encaminhar para o seu país natal bens de primeira necessidade.

a Ericeira é uma vila pequena, mas com um coração muito grande

Svitlana Drozdova e as filhas Marta e Natalia Zubyk são as impulsionadoras desta acção humanitária que tem por base o atelier da costureira de 51 anos de idade nascida em Lugansk, anteriormente conhecida como Voroshilovgrad. Esta cidade localizada no Leste da Ucrânia, perto da fronteira com a Rússia na disputada região de Donbass, é atualmente a capital e centro administrativo da República Popular de Lugansk, Estado estabelecido em 2014 por separatistas pró-Rússia – uma entidade estatal não reconhecida pelas Nações Unidas.

É no número 2 da Travessa do Mercado, Ericeira, que são recebidos os produtos doados. “É difícil quantificar o que já angariámos no nosso ponto de recolha, mas podemos dizer que em três dias conseguimos levar sete carrinhas grandes, cheias de donativos, para Loures”, refere Svitlana antes de concretizar: “doaram roupa de Inverno de criança e adulto, cobertores, comida enlatada, comida para bebés, fraldas e bens de higiene feminina. Nem os patudos foram esquecidos. Também recebemos rações para cães e gatos.

O atelier de Svitlana, com a bandeira ucraniana na entrada.

As filhas de Svitlana, Marta Zubyk e Natalia Zubyk, nasceram em Lviv há 29 e 24 anos, respectivamente. Tanto elas como a mãe têm nacionalidade portuguesa e moram na Ericeira há 22 anos. São ambas assistentes de bordo e têm sido peças fundamentais nesta iniciativa, seja desempenhando tarefas no atelier ou recorrendo às redes sociais.

“Temos usado muito as redes sociais para partilhar a recolha de bens e têm existido muitas partilhas. Desde que começámos, todos os dias conseguimos levar donativos para Loures, de onde saem os camiões diretamente para a Polónia”, referem, antes de partilharem novos desenvolvimentos: “Conseguimos, em poucas horas, encontrar um alojamento temporário para um casal ucraniano com uma criança que veio de férias para Portugal e ficou sem meios para voltar para sua casa em Kiev.”

Marta, Svitlana e Natalia

“Recebemos donativos tanto de locais como da comunidade estrangeira. Os mais pequenos deixam palavras de apoio nos bolsos dos casacos que doam, para os meninos que os vão receber. Recebemos de todos palavras de apoio e força, que nos fazem continuar a ter esperança e a manter a cabeça erguida. Todos ajudam como podem e estamos muito agradecidas. É uma vila pequena, mas com um coração muito grande.”, terminam de forma emotiva.

Esta iniciativa nasceu assim que a Rússia invadiu a Ucrânia: “sabíamos que tínhamos que fazer algo para ajudar, mesmo distantes. Queremos ajudar o nosso povo e o país onde nascemos, que está a ficar destruído. Decidimos organizar uma recolha de donativos no nosso espaço comercial, por se localizar numa zona central na Ericeira, e estamos a colaborar com o projeto @ihelp_ukraine.pt, para a recolha e o envio de bens humanitários para a Polónia, junto à fronteira com a Ucrânia.”

Deste ponto de recolha na Ericeira têm saído diariamente carrinhas com donativos para um centro de recolha em Loures, de onde também diariamente saem camiões para a Polónia, um pouco à imagem do que tem sucedido por outros pontos de Portugal.

Svitlana, Marta e Natalia têm a família em Lviv (perto da Polónia), até agora uma cidade ainda não muito atacada, “mas não sabemos até quando. Temos falado diariamente com eles e por enquanto encontram-se em segurança, mas estão muito assustados. Uma amiga nossa aqui da Ericeira, também ela ucraniana, contou-nos que tem a sua família toda a morar numa cave”, o que dá nota da situação cada vez mais frágil dos cidadãos que resistem no seu país.

actualmente, o foco está na recolha de medicação, material de primeiros socorros e material/roupa militar

“Perguntam-nos muitas vezes por que os nossos familiares não fogem da Ucrânia, mas não é assim tão simples. Agora os homens entre os 18 e os 60 não podem sair do país, as mulheres não querem abandonar os seus maridos e os seus lares. Os familiares mais idosos não conseguem e alguém tem que ficar a cuidar deles”, partilham e concluem que “está muito difícil para sair da cidade, há filas nas fronteiras de 3/4 dias para conseguirem passar.”

As organizadoras deste movimento receberam recentemente informação de que, neste momento, já chegaram às fronteiras roupa e bens alimentares suficientes – assim, nesta altura estão a focar-se na recolha de medicação, material de primeiros socorros e material/roupa militar.

Alguns dos exemplos de bens necessários são os seguintes: medicamentos com receita médica, antibióticos, anti-inflamatórios, analgésicos para as dores, anti-gripe, Betadine, pomadas para queimaduras e feridas (Biafine, Bepanthene), água oxigenada, álcool, soro, compressas, ligaduras, pensos rápidos, algodão, tesouras, luvas e gelo artificial.

“Em relação à roupa militar, por exemplo coletes militares, sacos de cama, lanternas e pilhas. A página do Instagram @ihelp_ukraine.pt tem informação de todos os postos de recolha do país e publica a toda a hora informações atualizadas de materiais ainda em falta”, especificam em jeito de dica.

a Ucrânia agora somos todos nós

É possível entregar bens na Travessa do Mercado, nº 2, todos os dias das 10 às 20 horas. O contacto telefónico para esclarecer dúvidas é o seguinte: 965240581.

Mãe e filhas terminam a conversa em jeito de conclusão: “Queremos, mais uma vez, agradecer a todas as pessoas que estão a ajudar. A Ucrânia agora somos todos nós.” – a AZUL, a Ericeira, Portugal e o Mundo estão convosco!