Fotografia: DR
Estreou recentemente em Portugal o documentário “Paula Rego, Histórias & Segredos”, sobre a vida e obra da maior pintora portuguesa viva. E a Ericeira tem um papel de destaque neste filme apresentado a 4 de Abril na Fundação Gulbenkian e que chegou dois dias depois às salas de cinema.
Na sinopse do filme pode ler-se que “No início da década de 1970, com a falência da empresa familiar, vende a quinta da Ericeira, onde morava, e radica-se em Londres com o marido e os três filhos: Victoria, Caroline e Nick Willing.” Originalmente propriedade dos avós da artista, a Quinta Figueiroa Rego, à entrada da Ericeira, foi durante vários anos (entre as décadas de 50 e 70 do Século XX) o centro da vida familiar e artística de Paula Rego e Victor Willing.
Em 2014, Nick Willing (o filho mais novo) sentou-se com a mãe, então com 80 anos, e ao longo de dois anos foi ouvindo o que ela tinha para contar. Com isso, realizou este filme. “Eram histórias que eu nunca tinha ouvido, que explicam muito da minha vida e da dela, de uma maneira que me fez entender várias das suas obras”, explica. “O meu filme não é sobre a artista, é sobre a pessoa”, sublinha. “O que acontece é que ela foi sempre artista primeiro, pessoa depois e mãe em terceiro. Eu queria descobrir a pessoa por trás da pintora.” Paula Rego, que “foi sempre um grande mistério”, abriu uma porta para o seu mundo e Nick aproveitou para fazer todas as perguntas que guardava.
Ao longo de 92 minutos, entramos num portal que dá acesso ao fascinante universo de Maria Paula Figueiroa Rego. Nascida em Lisboa a 26 de Janeiro de 1935, revelaria desde muito cedo um grande talento para as artes. Incentivada pelo pai, partiu para Londres, onde estudou na Slade School of Fine Art, onde conheceu o pintor Victor Willing (1928-1988), com quem viria a casar.
No início do trailer de “Histórias & Segredos”, ouvimos a seguinte confissão de Paula Rego: “Quando estou a pintar um quadro e tenho uma história que não sei onde situar em termos de ambiente, de cenário, regresso a um sítio que conheci em criança.” Basta assistir a este clip (e conhecer minimamente a Ericeira e a biografia de Paula Rego) para perceber que sítio será esse…
O crítico de cinema Jorge Mourinha considera que este documentário “levanta com extraordinária candura o véu sobre o modo como a arte não surge num vácuo, mas se alimenta e enriquece da vida pessoal de quem a faz.”
Em simultâneo à estreia do filme, Paula Rego inaugura a exposição “Histórias & Segredos”, que estará patente até 17 de Setembro na Casa das Histórias, em Cascais, com 80 obras suas e do marido, Vic Willing, algumas das quais inéditas em Portugal. Na mesma altura, a artista recebe Carta Branca da Cinemateca Portuguesa para programar um ciclo de dez filmes.
A pintora, distinguida em 2010 pela rainha Isabel II com o grau de Oficial da Ordem do Império Britânico pela sua contribuição para as artes, utilizou por diversas vezes a Ericeira como cenário para os seus quadros, como nos casos de “Remando da Ericeira” (inspirado no episódio da fuga de D. Manuel II, a partir da praia dos Pescadores, em 5 de Outubro de 1910) ou “Dança ao Luar”, situado no Forte de São Pedro de Milreu, entre as praias da Empa e de Ribeira d’Ilhas.