Valores solidários da sociedade portuguesa diminuem entre ricos e instruídos

Lisboa. - ph. Francisco Fenandes

 

Fotografia: Francisco Fernandes

 

Quanto mais instruídos e ricos forem os portugueses, menor importância atribuem à justiça, solidariedade e valores democráticos. É esta a conclusão do estudo Literacia social: os valores como fundamento de competência, realizado pela Universidade Católica e o Instituto Luso-Ilírio para o Desenvolvimento Humano e apresentado ontem em Mafra numa conferência sobre literacia social.

O trabalho de investigação avalia os valores da sociedade portuguesa entre os anos 1999 e 2009, demonstrando existir menos solidariedade quanto mais ricas e letradas forem as pessoas. Para o autor do estudo, Lourenço Xavier de Carvalho, o problema está no ambiente escolar que já não educa a sociedade para os valores humanos. “Quanto mais avançamos nos níveis de instrução, do 1º ciclo até ao ensino superior, a importância da justiça ou da solidariedade vai baixando progressivamente. São os mais instruídos e os mais ricos que desvalorizam a justiça e a solidariedade”, afirmou ao jornal Público.

Segundo um questionário efectuado junto da sociedade portuguesa, 86,5% das pessoas com o 1º ciclo consideram importante ajudar os outros. Este valor decresce à medida que os portugueses são mais instruídos: das pessoas com o 2º ciclo, 83,4% responde afirmativamente; 73,4% dos que têm o 3º ciclo; 76,2% dos que possuem o secundário; 59,2% entre os licenciados; e 53,1% nos portugueses com o grau de mestres ou doutorados.

“Continuamos a educar para o domínio material, para o domínio técnico, queremos formar profissionais competentes, que dominem bem as técnicas de cada área, e os currículos são cada vez mais técnicos. Mas na realidade não é isso que faz as pessoas mais ou menos felizes. É a dimensão humana, relacional, que está cada vez mais afastada dos currículos”, frisa, defendendo que “as prioridades do sistema educativo estão completamente erradas”, explicou Lourenço Xavier Carvalho ao Público.

O estudo também compara os níveis de felicidade entre os portugueses de baixos rendimentos e os mais ricos, concluindo que um indíviduo que aufere quatro mil euros mensais é tão infeliz quanto um português que receba o ordenado mínimo nacional.