Procissões da Quaresma começam Domingo em Mafra

 

Fotografia: CMMafra

 

Começam Domingo à tarde, em frente à Basílica do Palácio Nacional de Mafra, as tradicionais Procissões da Quaresma, organizadas pela Real e Venerável Irmandade do Santíssimo Sacramento de Mafra.

Esta é uma oportunidade para conhecer a vila mafrense através da Fé: as procissões quaresmais constituem um símbolo evocativo das tradições religiosas do período Barroco, constituindo um dos mais destacados exemplos do património imaterial do Concelho, mantendo as características que lhe foram conferidas no século XVIII.

Além de ter um dos mais importantes conjuntos patrimoniais do país (o Real Edifício, classificado Património Mundial da UNESCO), Mafra possui várias tradições sociais, culturais e religiosas, das quais se salientam as monumentais procissões da Quaresma, que, pela ligação à época áurea da sua história, são um testemunho do legado artístico e da grandiosidade alcançada no período Barroco e nos reinados de D. João V e D. José I.

Irão realizar-se um total de quatro procissões, com início na Basílica do Palácio Nacional

Simultaneamente, verifica-se a existência de um conjunto assinalável de património móvel associado a estas procissões, designadamente as imagens escultóricas executadas para os andores, da autoria de Manuel Dias (Procissão de Penitência da Ordem Terceira de São Francisco), Joaquim José de Barros Laborão (Procissão das Sete Dores de Nossa Senhora), destacando-se a imagem de Cristo Crucificado, atribuída ao genovês Anton Maragliano (Procissão de Penitência da Ordem Terceira de São Francisco), bem como muitas das vestes e alfaias utilizadas que remontam aos séculos XVIII e XIX.

Irão realizar-se um total de quatro procissões, com início na Basílica do Palácio Nacional e percurso por algumas das ruas adjacentes, entre os dias 8 de Março e 10 de Abril, com a saída marcada sempre para as 15:30, à excepção da última (Enterro do Senhor), que começará às 21 horas:

8 de Março – Missa e Procissão do Senhor dos Passos

Uma das mais antigas expressões de piedade da vila de Mafra, tendo surgido na antiga Colegiada de Santo André de Mafra, decerto desde o século XVII, a procissão realiza-se no segundo Domingo da Quaresma e é também conhecida por Procissão do Encontro, uma vez que era constituída por dois cortejos que se uniam a determinado momento do percurso. A procissão do Senhor dos Passos saía da Basílica do Real Edifício de Mafra e a de Nossa Senhora da Soledade tinha origem na Capela do Campo Santo, também no Real Edifício. Actualmente, a imagem do Senhor Jesus dos Passos parte da Basílica, fazendo-se o “encontro”, com a imagem da Senhora da Soledade, diante do Complexo Cultural Quinta da Raposa, seguindo a procissão para a Igreja de Santo André.

Procissões da Quaresma - ph. DR

Procissões da Quaresma – ph. DR

22 de Março – Missa e Procissão de Penitência da Ordem Terceira de S. Francisco (Terceiros)

Representando um dos últimos exemplares da magnificência característica do período barroco em Portugal, sendo a última expressão de piedade que se encontra inalterada desde a sua fundação, a primeira procissão foi realizada no dia 27 de março de 1740, sendo, por isso, a festividade religiosa que mais directamente se relaciona com a grandiosa obra de D. João V. Alusiva à história dos Franciscanos, contém imagens executadas pelo escultor Manuel Dias, na sua maioria revestidas das preciosas alfaias originais. A mais monumental das esculturas representa Cristo Crucificado, atribuída ao genovês Anton Maragliano e oferecida à Ordem Terceira de Mafra por Domenico Massa, carpinteiro responsável pela instalação dos carrilhões do Real Edifício de Mafra.

 

5 de Abril – Missa e Procissão das Sete Dores de Nossa Senhora (Burrinha)

A Irmandade de Nossa Senhora das Dores, instituída em 1779 na antiga Colegiada de Santo André de Mafra, promoveu a primeira procissão no ano de 1793. Realiza-se no Domingo de Ramos, por ser o Domingo seguinte à sexta-feira da Paixão em que se celebrava a Festa das Sete Dores de Nossa Senhora. O cortejo compõe-se de sete andores alusivos às sete dores da Mãe de Jesus e um oitavo com a imagem da Senhora das Dores, e dele fazem parte cerca de 50 imagens, atribuídas a Joaquim José de Barros Laborão, um dos últimos mestres da Escola de Escultura de Mafra. Suspensa em 1894, a procissão foi retomada apenas em 1954, por intervenção do então director do Palácio Nacional de Mafra, Armindo Ayres de Carvalho.

10 de Abril – Procissão do Enterro do Senhor

É imemorial o início da realização desta Procissão. Em 1773, a Ordem Terceira da Penitência de São Francisco procedeu ao pagamento de uma nova imagem de Nossa Senhora da Soledade, que é a que actualmente ainda processiona nas ruas da vila de Mafra. Esta é uma das mais solenes procissões, uma vez que assinala a morte de Jesus. O cortejo fúnebre, feito em silêncio, é apenas acompanhado pelos lamentos da Verónica e das Três Marias. Esta antiga tradição mafrense é acompanhada pelo Centurião, revestido com as suas vestes originais do século XVIII, figura típica da memória popular mafrense. Destacam-se, igualmente, os monumentais pálios do Senhor Morto e do Santo Lenho.