“As pessoas começam a perceber a importância da Reserva Mundial de Surf”

Hélder Sousa Silva. - ph. José Guerra

 

Texto: Hugo Rocha Pereira | Fotografia: José Guerra

 

Depois de, na primeira parte da entrevista com o novo Presidente da Câmara Municipal de Mafra, termos falado sobre renovação política e o potencial de desenvolvimento do concelho, é hora de apontarmos baterias à Ericeira. Fala-se da importância do turismo e do surf, seja no plano económico, desportivo ou ambiental, bem como de outros temas igualmente importantes para a nossa terra: começando no ex-libris que é o Parque de Santa Marta – onde, de resto, teve lugar esta conversa – e terminando na pesca, que faz parte do ADN jagoz.

 

Estamos no Parque de Santa Marta, onde foram investidos milhões de euros em obras de requalificação, mas o espaço ficou mais pobre em vários aspectos. O que se pode fazer para melhorar este ex-libris da Ericeira?

Parece-me que o obstáculo a que a fruição do parque de Santa Marta possa ser maior tem a ver com as barreiras arquitectónicas colocadas nas diversas entradas. E penso que tal constitui uma barreira essencialmente psicológica. As portas de ligação ao exterior vão ficar abertas no futuro, de forma a que as pessoas não sintam qualquer barreira artificial entre a rua e o parque, que deve ser uma extensão do largo de Santa Marta e do muro do passeio das Furnas, o que irá criar uma atractividade e uma mobilidade completamente diferentes daquelas que hoje existem. As âncoras de atracção do parque também podem ser revistas para aumentar a motivação para vir até cá: falo dos campos de ténis, do anfiteatro e da Sala Atlântico.

 

Nos últimos dez anos operou-se uma mudança profunda naquilo que é a percepção do destino Ericeira relacionado com o surf.

A Ericeira terá um papel de relevo no mandato de Hélder Sousa Silva.

A Ericeira terá um papel de relevo no mandato de Hélder Sousa Silva.

Surf

A economia do surf e o turismo são motores importantes para a Ericeira e para o concelho de Mafra?

O investimento que foi feito na área do surf será crucial para a consolidação do destino Ericeira como destino mundial de surf. As pessoas começam a perceber a importância do estatuto de Reserva Mundial de Surf quando vêm os hostels, surfhouses e alojamentos locais receber turistas que compraram o pacote juntamente com a escola de surf numa agência internacional que vende a Ericeira como destino. Nos últimos dez anos operou-se uma mudança profunda naquilo que é a percepção do destino Ericeira relacionado com o surf.

 

Foi um dos principais impulsionadores da Reserva Mundial de Surf, que se tem revelado um excelente veículo de promoção, mas ainda não se terão sentido efeitos em termos ambientais. A Reserva não deveria ser protegida por via legislativa?

Eu considero que a legislação existe, embora não seja suficiente. Propus que no próximo Plano de Ordenamento da Orla costeira, que vai ser revisto dentro em breve, apareça um zonamento para a área da Reserva e que nesse zonamento possam ser vertidas as principais restrições e obrigações para os vários parceiros que utilizam aquele espaço.

 

Ter um WCT entre a Ericeira, Peniche e Carcavelos seria algo muito interessante e todos ganharíamos com isso.

 

A Ericeira está actualmente arredada do circuito de provas internacionais de surf Seria importante recuperar estas provas? 

É muito importante! Aliás, já existem contactos preliminares em avançado estado de concretização para em 2014 termos uma prova do circuito de qualificação WQS (de 6 estrelas, em princípio) na Ericeira. Já existe sponsor para a mesma e a câmara voltará a ser parceira activa no patrocínio dessa prova. E também já estabeleci contactos para que a Ericeira faça parte da Triple Crown em 2014 ou 2015, havendo lançado o desafio de o WCT também poder passar pela Ericeira. Ter um WCT entre a Ericeira, Peniche e Carcavelos seria algo muito interessante e todos ganharíamos com isso.

 

Por que é que nada se encontra ainda a funcionar no equipamento construído em Ribeira d’Ilhas, que devia ter sido inaugurado antes do início da época balnear?

Segundo a informação que tenho, o que se passa em Ribeira é muito simples. O licenciamento foi concedido pela Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional e pela Agência Portuguesa do Ambiente. Acontece que a obra feita difere, nalguns pormenores, da obra inicialmente autorizada no Plano de Pormenor: um deles é a escadaria de acesso à praia e outro julgo que tem a ver com as pontes que estão sobre a ribeira, que eram para ser todas em madeira, existindo uma base em betão. Como o terreno faz parte da Reserva Ecológica Nacional, a Administração Central decidiu não dar a licença e obrigar a que a câmara faça algumas alterações ao projecto, que terão de ser validadas para a licença definitiva ser atribuída.

 

Quem vem para a Ericeira no verão tem que compreender que a Ericeira precisa de actividade nocturna.

 

Diversão nocturna

Como conciliar as aspirações dos bares e turismo no centro da vila com o direito ao descanso?
Não há lei nenhuma que prevaleça sobre o bom senso e essas situações resolvem-se com bom senso. Temos tido um bom exemplo daquilo que tem acontecido às quartas- feiras e ao fim-de-semana na rua 5 de outubro. Tem havido comércio e diversão mas também tem havido respeito. É evidente que quem vem para a Ericeira no verão tem que compreender que a Ericeira precisa de actividade nocturna. Os próprios turistas devem levar da Ericeira a imagem de uma vila alegre, que sabe receber e com bom ambiente nocturno, para além da gastronomia e das boas ondas.

 

É possível abrir uma nova discoteca na Ericeira?
Eu julgo que sim, até é desejável que tal aconteça. Quando era vereador, tudo fiz para ajudar à abertura da discoteca FDS, que entretanto fechou. Faz todo o sentido que a Ericeira tenha alternativas à única discoteca, que é o Ouriço. Os próprios proprietários do Ouriço já me têm dito que vêem a abertura de outras discotecas com bons olhos. Se depender de mim, não dificultarei o licenciamento.

 

A câmara não consegue ajudar os pescadores a capturar mais peixe, mas pode ajudá-los a terem uma actividade bem remunerada.

 

Pesca

Quais são as suas principais preocupações e prioridades no sector da pesca?
O nosso programa realça o eixo da maritimidade, que inclui não só a pesca profissional como a marítima e turística, lúdica, artesanal e a aquacultura, de que não se fala muito mas existe cá. A Ericeira sempre foi conhecida como local onde se pode comer marisco de excelente qualidade, e muito desse marisco é criado ou mantido em viveiros no mar. Este é um sector que devemos potenciar. Por outro lado, estamos na fase de rentabilizar o investimento feito no molhe. A rampa de acesso para os barcos entrarem e saírem do mar está danificada. Já ca vieram os engenheiros e espero que dentro em breve seja reparada. Para terminar, a câmara não consegue ajudar os pescadores a capturar mais peixe, mas pode ajudá-los a terem uma actividade bem remunerada. Isso pode acontecer intervindo nas lotas e vendagens, seguindo o modelo de venda directa que já existe no Norte, junto a Viana do Castelo: os pescadores podem, em lota, vender directamente aos consumidores. Tenho como objectivo que todos os restaurantes da Ericeira possam vender peixe fresco da nossa costa, que é uma marca de qualidade.

 

Hélder Sousa Silva num dos ex-líbris da Ericeira.

Hélder Sousa Silva num dos ex-líbris da Ericeira.

Leia a primeira parte da entrevista aqui.