Memórias do Surf Jagoz: Pedro ‘Kikas’ Tavares

 

Fotografia: Kiko Neves

 

Impressão Digital

Pedro Tavares, mais conhecido como “Kikas”

Nascido a 5 de Fevereiro de 1976 em casa, na Rua dos Prazeres, nº 15, Ericeira

Chefe de Armazém

Quando é que começaste a surfar? Foi na Ericeira ou noutro sítio?

Comecei a surfar mesmo no Verão de 1989 nas praias da vila da Ericeira. Antes disso ainda houve tempo para repimpas [ndr: colchões], pranchas de esferovite e uma Suntalon amarela.

 

Quantas pessoas surfavam pela Ericeira quando começaste a apanhar ondas?

Nessa altura poucas ou nenhumas pessoas faziam surf na Ericeira, a minha entrada no surf ficou a cargo das primeiras gerações do surf jagoz. Lembro-me dos mais velhos: o Álvaro ‘Cigano’ e o Fonzie, depois o grupo em que eu estava inserido – Team Moita – com o pessoal do Norte (o meu irmão Vitor ‘Vitinha’, João Almeida ‘Pixas’, Helder Reis ‘Bogas’, o Joaquim ‘Pipio´ e mais pessoas). Eu era a “mascote” que ficava na praia a brincar com canas e pedras. E havia também o team Barafunda, onde estava o pessoal da zona Sul da vila.

 

Em que picos ou praias costumavam surfar mais?

Praia do Algodio, Praia dos Pescadores, Praia de São Sebastião e Praia do Sul.

esses sim eram os tempos dourados

Que memórias guardas desses tempos dourados?

A ausência de crowd e a alegria de partilhar os picos e as ondas só com os amigos. Lembro-me das investidas a pé a São Julião: se não estava bom, voltava-se a pé para Ribeira d’ilhas; o bom era o almoço feito com salsichas e carcaças na fogueira. E sem ninguém na água, esses sim eram os tempos dourados. As ondas a quebrar sem ninguém.

 

Quais foram as maiores mudanças desde que começaste a surfar?

Houve mudanças boas e más, nem tudo pode ser mau. Mau, como toda a gente sabe, é o excesso de pessoas dentro água em todo o mundo, não é só na Ericeira. Bom foi a evolução dos materiais, a evolução do surf em si e o forecast [ndr: previsão das condições meteorológicas e de ondulação].

Continuas a surfar? Com que regularidade? Procuras fugir do crowd?

Sempre que posso estou dentro água. A essência do surf passa por apanhar as melhores e sem ninguém.

 

A essência do surf na Ericeira também mudou?

Para o verdadeiro surfista a essência do surf não mudou, mas há muitos “pára-quedistas” a aproveitarem-se do negócio do surf e que nem um “bottom-turn” sabem fazer. Isso é a realidade em tudo na vida: cada macaco no seu galho.

A essência do surf passa por apanhar as melhores ondas sem ninguém

O que mudou após a consagração da Reserva Mundial de Surf, em 2011?

Na minha opinião pessoal a Ericeira é tudo menos uma Reserva – para mim o nome Reserva Mundial de Surf só serve mesmo para chamar mais turismo. A construção continua a olhos vistos em Portugal, só não vê quem não quer, a protecção da nossa costa e das nossas ondas não acontece.