«Lembrem-se primeiro da Filarmónica»

 

Fotografia: CR Ericeira Produções

 

Poucos dias antes das eleições para a nova direcção da Associação Filarmónica Cultural da Ericeira, o seu anterior presidente ao longo de quatro anos, João Ganhoteiro Silva – que desta feita não se recandidatou –, concedeu uma entrevista ao site da FCE.

No âmbito da parceria com a Filarmónica, publicamos na AZUL esta conversa protagonizada pelo Técnico de Turismo e ex-músico da Banda nascido em 1997.

Com que idade entrou para a Banda? Que instrumento tocava?

Entrei para a Filarmónica com 15 anos, em Janeiro de 2013, relativamente tarde quando comparado com outros colegas. Entrei primeiro para o Coro, que existia na altura com a direção da Alexandra Neves Fortes, e poucas semanas depois estava na Escola de Música a aprender percussão. Como já tinha tocado órgão quando era mais novo, e já tinha bases de formação musical, depressa entrei para a Banda em Abril desse ano. Foi uma transição muito rápida e fácil, e até porque havia poucos percussionistas na altura a tocar na Banda, acabei por ter a maioria das minhas aulas nos ensaios, com o Tiago Ramos, a Rita Jorge e a Alexandra. Foram eles que me deram as bases. Mais tarde tive aulas com a Maria Campos, onde me foquei mais na Bateria do que nos outros instrumentos.

Pouco menos de um ano depois já era dos mais velhos do naipe (a Alexandra e a Maria saíram da banda, a Rita foi viver para os Açores) e acabei por receber e orientar os ensaios de muitos músicos mais novos. Em 2016 o maestro da altura desafiou-me a ir aprender Tuba, e por cerca de dois anos ainda alternava entre a Percussão e a Tuba, consoante as necessidades e o reportório. Em 2020 acabei por fazer uma pausa nos ensaios, de forma a conseguir conciliar com a vida profissional e académica e as exigências da Direção.

a Banda para mim é uma família

O que é para si a Banda?

A Banda para mim é uma família. Sempre foi e sempre será. Na altura em que entrei para a Filarmónica estava a passar uma fase complicada a nível pessoal, e senti que entrar no Coro, primeiro, e depois na Banda, me ajudou a ter um escape para além dos estudos. Cresci muito na Filarmónica, enquanto músico e enquanto pessoa, senti a evolução que tive no âmbito da comunicação e das relações interpessoais. Levo todos aqueles com quem me cruzei na minha memória e todos os ensinamentos que me transmitiram.

 

Há quanto tempo pertence aos órgãos sociais da AFCE?

A primeira ligação que tive aos órgãos foi como Coordenador da Comissão de Músicos, entre 2015 e 2017, com o Hugo Reis e o João Francisco Santos. Na altura éramos muito activos e dinâmicos e isso levou a uma aproximação com a Direcção da altura. Em 2017 fui convidado a entrar na direcção como responsável pelas Relações Públicas, Comunicação e Eventos e ainda na Coordenação da Escola de Música, com a Rita Jorge. Na altura o trabalho foi muito de sistematização, de organização, e de melhorar a forma como comunicávamos e utilizávamos as redes sociais.

 

Como e quando tomou a decisão de se candidatar a Presidente da Associação?

Não foi uma decisão fácil, e na altura foi muito conversa porque tinha apenas 20 anos. A Filarmónica estava numa crise de gestão, com muitas demissões da direcção da qual fazia parte, incluindo a minha. Não concordava com as decisões que estavam a ser tomadas, nomeadamente do ponto de vista financeiro. Foi ainda mais complicado porque estava com funções de tesoureiro, a acumular com as que já tinha antes. A Filarmónica estava, na altura, com um empréstimo no banco.

Eu achava na altura que, apesar de ter muitas das competências que seriam úteis a um Presidente, faltava ainda alguma “estaleca”. Como já ocupava uma posição de bastante visibilidade para o público, e estava a concluir a minha licenciatura relacionada com Gestão de Projetos e Eventos, acabei por, em muitas conversas com o Hugo Reis, a Rita Jorge e outros músicos e sócios, tomar a decisão de encabeçar a lista que já estava a ser preparada. Acabámos por ganhar as eleições por uma margem confortável, encontrando depois a instituição num lugar de maior fragilidade do que já encontrámos.

o momento alto foi quando conseguimos o financiamento para a criação de dois postos de trabalho

Que momento destaca nestes anos de Presidência?

São vários. Acho que as primeiras Festas de Santa Marta, logo em 2018, foram muito positivas, que tivemos de interromper por causa da pandemia. Trouxemos uma Banda para um encontro de filarmónicas e conseguimos ter bastante adesão do público. Depois outro grande momento foi quando concluímos o pagamento do empréstimo ao Banco, e as comemorações dos 170 anos da Banda Filarmónica, com um grande concerto no Jogo da Bola e um jantar na sede da Associação. Destaco ainda as parcerias com o Agrupamento de Escolas e as Atividades de Enriquecimento Curricular, que queríamos já há bastante tempo, e ainda as Oficinas de Verão, este ano. Penso que o momento alto foi quando conseguimos o financiamento do +CO3SO para a criação de dois postos de trabalho. São mais de 90 mil euros de financiamento durante três anos, que pagam a totalidade das despesas e que ajudam a capacitar a instituição e a libertar o trabalho administrativo da Direcção, podendo focar-se mais na gestão. Saliento ainda a melhoria das relações institucionais com autarquias e outras instituições, as comemorações do 171º aniversário da Banda com vídeos gravados em vários locais e, mais recentemente, o Concerto de Aniversário de 2021, com a Andrea Verdugo e a Márcia Trabulo, que foi também o retomar da actividade da associação.

lembrem-se primeiro da Filarmónica

Deixe uma mensagem para a futura presidência

Acima de tudo, e aquilo que penso que também me guiou durante estes quatro anos, é uma ideia de dois espetros, um temporal e um espacial. No espetro espacial e temporal, é importante lembrar o passado, a história, as pessoas que fizeram esta instituição e ser capaz de fazer uma análise dos altos e baixos da Associação, preparando melhor o futuro. Esse é o segundo vetor, olhar para a frente e pensar quais são os próximos passos, qual é o objetivo final, e qual é o caminho que se quer seguir. Um pensamento estratégico pode tornar mais complexo o processo de tomada de decisão, mas facilita na hora de ir para o terreno. Por último o presente, olhar para as pessoas que estão e que contribuem para o dia a dia.

Depois é também importante não descurar o exterior, a comunidade da Ericeira e o papel importante que a Filarmónica desempenha na democratização do acesso à cultura e à música, o papel social de inclusão e integração, da criação de laços para com a terra, e o trabalho em rede que pode ser desenvolvido pelas várias organizações do Concelho, e olhar para o ecossistema cultural e percebermos como podemos ajudar a que este seja mais complexo, dinâmico e com uma oferta mais variada. Podemos inovar muito nos programas culturais, com um olho na tradição.

Acima de tudo, façam o que fizerem, lembrem-se primeiro da Filarmónica, e eu estarei sempre na fila da frente a aplaudir o vosso trabalho.