Texto: Hugo Rocha Pereira | Fotografias: AZUL
Inaugurada no dia 12 de Abril, a exposição bibliográfica “A Ericeira na Literatura e no Jornalismo” continua patente na Sala Atlântico do Parque de Santa Marta até ao dia 4 de Maio. A mostra, que resulta duma parceria entre o Instituto de Cultura Europeia e Atlântica (ICEA), o Centro de Literaturas e Culturas Lusófonas e Europeias da Universidade de Lisboa (CLEPUL) e a Tertúlia Letras Com(n)Vida (TLCV), faz uma viagem por épocas, géneros e proveniências literárias, sempre com a Ericeira como denominador comum. Falámos com José Constantino Costa, à direita na fotografia, e o representante do ICEA nesta iniciativa explicou o que se pode encontrar numa exposição com muitas histórias por contar e que pode ajudar jagozes e devotos da Ericeira a conhecer melhor esta vila. E o autor do livro “Ericeira: Uma Fotobiografia” aproveitou para apelar ao envolvimento de todos no enriquecimento deste projecto.
No trabalho de recolha partiram do livro de Sebastião Diniz, “Ericeira, um lugar na Literatura”, como base? Como acabaram por montar esta exposição?
O livro de Sebastião Diniz, “Ericeira, um lugar na Literatura”, foi o ponto de partida para a exposição. Depois, nas conversas com o Pedro Crisóstomo e com o José do Carmo Francisco (que foram inexcedíveis e cruciais para o sucesso desta iniciativa), apareceram outros nomes. Uma vez que o livro de Sebastião Diniz é de 1997, quem escreveu depois disso não pode aparecer, e foram muitos… Por outro lado, essa obra não aborda dois grupos que, na minha opinião são importantes: os escritores e poetas locais e os que não tendo escrito sobre a Ericeira, a utilizaram como fonte de inspiração.
Uns constituem o grupo dos inspirados e outros o dos nativos…
Exacto. Os inspirados e os nativos. Entre os inspirados está, por exemplo, José Saramago, que esteve aqui durante algum tempo, enquanto conhecia o Convento de Mafra, preparando o “Memorial do Convento” e que, diz-se, escreveu “O Evangelho Segundo Jesus Cristo” na Foz do Lizandro, em casa de gente amiga. O grupo dos nativos é o mais numeroso… Há quatro nomes que não posso deixar de referenciar, neste grupo: José Caré Júnior, Santos Gaspar, Joaquim Marrão e Helena d’Oliveira Santos.
E ainda há os jornais…
É o último módulo… Impossível listar todos os jornais e revistas… E são fundamentais para quem quer estudar a História da Ericeira, sobretudo o que se passou neste último Século. Na exposição, por uma questão de espaço disponível, está uma infinitésima parte… Desde a Panorama, com um artigo escrito em 1844, até ao actual O Ericeira.
Entre os inspirados está, por exemplo, José Saramago, que esteve aqui durante algum tempo
Como é que surgiu esta divisão em grupos ou módulos?
De uma forma diria que… natural. Comecei por pensar nestes dois grupos e depois foram surgindo os outros: os historiadores, os que abordaram o Rei da Ericeira [ndr: Mateus Álvares, o falso D. Sebastião]; os epistolares, que escreveram “cartas da Ericeira”, uma prática muito em voga em finais do século XIX, a que acrescentei um magnifico “postal da Ericeira”, enviado por Inês Pedrosa, em 2005; os clássicos: Eça de Queirós, Ramalho Ortigão, Henrique Lopes de Mendonça, Júlio César Machado e Pinheiro Chagas; os poetas e os modernos: Joaquim Lagoeiro, Fernando Venâncio, Miguel Sousa Tavares, Miguel Torga, entre outros.
Houve alguma descoberta surpreendente durante este processo de pesquisa e recolha?
Há dois autores que me surpreenderam: Miguel Torga, com um texto magnífico, e Júlio César Machado, que descreve um encontro que teve com Francisco José da Silva, o Ericeira, figura muito popular e também controversa da vila, de meados do século XIX. Também gosto muito dos testemunhos do João de Melo e do Alexandre Honrado, dois dos inspirados.
Como frisou na inauguração da exposição, pretende-se que este seja o ponto de partida para um trabalho mais vasto. Fale-nos do projecto “Ericeira: Olhares e Escritas”.
Há vontade, no ICEA, de que esta exposição seja o início de um projecto mais amplo que englobe não só a literatura (há certamente muitos mais nomes a acrescentar aos cinquenta e cinco que aqui estão) mas também a pintura, a música, o cinema… No fundo, as artes.
O que mais gostariam de ver concretizado nesse sentido?
Ainda não há certezas… Passará pela Internet, seguramente. Neste momento, o que ė quase certo é fazermos, com o apoio do CLEPUL, uma antologia com o material recolhido para a exposição. E, eventualmente, com outros autores que entretanto se descubram… Na conferência alguém referiu que faltavam os “estrangeiros”. É verdade, e esse pode ser mais um módulo. E aproveito para deixar um repto: quem souber de algum escritor ou poeta que tenha escrito sobre a Ericeira, ou que saiba que a Ericeira foi sua fonte de inspiração, contacte-me para jconstantinocosta@gmail.com. Quem sabe se não será mais um nome a acrescentar à nossa lista ou, como costuma dizer o Sr. Caré, mais um tijolo no muro da História da Ericeira.