Texto: Hugo Rocha Pereira
Fotografia: Francisco Santos
A ideia-base para esta conversa surgiu numa surfada em que o entrevistado estava a voar nas ondas da praia da Empa como se tivesse molas a ligá-lo à prancha: Filipe Jervis é, sem margem para dúvidas, um dos maiores especialistas portugueses em aéreos e este tema específico (abordagem técnica e referências) deu o mote para ficamos a conhecer melhor um surfista da Linha do Estoril que desenvolveu uma forte relação com a Ericeira por motivos pessoais e profissionais. A vila onde o mar é mais azul e poderoso acabou mesmo por ser o tópico dominante nas perguntas e respostas, em que se abordaram rituais, ondas e surfistas preferidos, mas também projectos actuais e gostos musicais.
Fala-nos da tua relação com a Ericeira e as suas ondas.
A Ericeira tem um peso muito grande na minha vida. Quando comecei a treinar com o Paulo do Bairro ele apresentou-me às ondas da Ericeira e foi a melhor coisa que me podia ter acontecido! Conheci todos os locais dos spots, perdi muito o medo das ondas e isso tornou-me num surfista de ondas boas e de consequência. Hoje em dia, se está bom na Ericeira, é para lá que vou e sinto-me em casa e à vontade com as ondas.
Seres patrocinado pela Ericeira Surf & Skate há vários anos reforçou os teus laços com a vila?
O facto de ser patrocinado pela Ericeira Surf & Skate fez com que tivesse que frequentar bastantes mais vezes a Ericeira. Reuniões e meetings faziam e ainda fazem com que vá à Ericeira e aproveite o facto de lá estar para surfar.
A minha principal referência nos aéreos é o Chippa Wilson
Serás o surfista português que vejo sacar mais e melhores aéreos em Pedra Branca. O que torna esta onda tão boa para voar?
A onda não é assim tão fácil para dar aéreos como parece. É sem dúvida das melhores ondas para treinar aéreos porque tem ondas com rampas incríveis, mas não é fácil porque há certas ondas em que a secção é muito buraco, o que torna difícil aterrar, e há certas ondas em que a secção faz com que o surfista passe para trás da onda.
Explica-nos um pouco a tua abordagem nos aéreos.
Os aéreos fazem parte da maneira como eu surfo. Todos os dias procuro evoluir nesse sentido, dar aéreos mais altos e com rotações mais rápidas, mas infelizmente as condições nem sempre o permitem. Há secções que pedem aéreos e em milésimos de segundo tenho que decidir que aéreo vou fazer: um slob normal, aéreo reverse, agarrar no rail, não agarrar no rail. É muita informação ao mesmo tempo, mas no momento em que chego ao lip já sei o que vou fazer e, se tudo correr bem, sai um aéreo como esperava.
Quem são as tuas principais referências nos aéreos e no surf em geral?
A minha principal referência nos aéreos é o free surfer Chippa Wilson. Conheci-o na Austrália no primeiro ano em que lá fui, ainda ele não era conhecido internacionalmente, e desde o momento em que o conheci foquei-me na maneira como ele aborda os aéreos e passou automaticamente a ser uma referência. A nível de aéreos tenho mais: Matt Meola, Dane Reynolds, John John Florence. Como surfista, Julian Wilson e Mick Fanning.
Já tens recorrido a esta arma em algumas situações, como na etapa da Liga Moche realizada na Caparica, quando eliminaste o ‘Saca’ nos quartos-de-final man on man. Este é cada vez mais um trunfo importante para um competidor?
É um trunfo importantíssimo na competição hoje em dia, mas é um trunfo bastante arriscado porque há uma maior possibilidade de caíres e não passares, enquanto que se fizeres uma onda com duas manobras sólidas podes ter a mesma nota e menos probabilidade de cair. Acho que é uma arma que deve fazer parte do arsenal de todos os surfistas, apesar do power surf ainda ter muito peso.
Quais são os teus objectivos, a nível pessoal e profissional, para este ano?
Este ano estou literalmente a aproveitar a vida. Apanhar as melhores ondas possíveis, evoluir como surfista. A nível competitivo não tenho qualquer tipo de objectivo, quero divertir-me, provar que sou bom surfista o suficiente para eliminar alguns nomes. Felizmente, não tenho pressão competitiva, ninguém espera nada de mim, nem eu próprio. Não sou um ‘Kikas’ [Frederico Morais] ou um Vasco [Ribeiro], que têm toda a gente à espera que se qualifiquem para o WCT (eu sou um desses, espero mesmo que entrem), por isso quero-me divertir. Comecei este ano a trabalhar com a Chilli Surfboards e estou a adorar, é um desafio novo na minha vida e é uma honra estar ligado a uma marca como esta. Estou também a acabar um curso de Marketing, Relações Publicas e Eventos, o que me vai dar uma base para o futuro. Tenho ainda uns projectos em cima da mesa, que me vão dar algum trabalho mas bom retorno. E, por fim, estou a filmar há mais de um ano e meio aquele que vai ser o meu melhor vídeo de surf de sempre. Vou começar a organizar as filmagens e a editar. Estou bastante entusiasmado com este vídeo!!
Do que gostas mais na Ericeira?
Como qualquer surfista, não há nada como tomar o pequeno-almoço no Pão da Vila. Gosto do ambiente de surf que se vive na Ericeira, tudo gira à volta do surf, é incrível. E adoro o Pescador, em Ribamar. Não há nada melhor que sair duma sessão épica nos Coxos e almoçar uns panados no Pescador.
Não há nada melhor que sair duma sessão épica nos Coxos e almoçar uns panados no Pescador
Quais são as tuas ondas preferidas na Ericeira? E fora dela?
Pedra Branca está em primeiro lugar, provavelmente por ser goofy. Depois tenho que referir as Pontes que, apesar de fazerem parte dos Coxos, quando está bom prefiro até mais do que a onda dos Coxos. A única que me falta surfar é a Cave, esse dia ainda está para vir. Fora da Ericeira, tenho que referir o L-Point, a onda que me viu crescer como surfista, e os Supertubos, porque é incrível.
Quem são os teus surfistas preferidos da Ericeira?
Aprendi a surfar na Ericeira com o Paulo do Bairro e isso deu-me uma grande perspectiva dos surfistas da Ericeira. Tenho que referir o Miguel Fortes, o José Gregorio e o Tomás Fernandes.
E quais são os surfistas da Ericeira a quem apontas um futuro mais brilhante?
Talvez o Tomás Fernandes seja a grande esperança da Ericeira. Apesar de neste momento estar a viver em Cascais é um surfista da Ericeira. É um surfista incrível e tem um grande futuro pela frente.
És fã de hip hop. Este género musical influencia o teu surf de alguma forma?
O hip hop faz parte da minha vida. Dá-me pica para surfar, faz-me pensar na vida quando tenho que pensar na vida, ajuda-me em momentos mais difíceis e está comigo nos momentos felizes da minha vida. As letras do hip hop fazem-me pensar muito e fazem-me meter os pés na terra e perceber que sou um sortudo por tudo aquilo que tenho na minha vida.