Texto: Paulo Galvão | Fotografia: José Guerra
A poucos dias de tomar posse como novo Presidente da Junta de Freguesia da Ericeira, Filipe Abreu dá a sua primeira entrevista. Apresenta-se a quem ainda não o conhece, fala de ideias-chave e projectos para os próximos quatro anos – estabelecendo sempre como prioridade a melhoria da qualidade de vida dos cidadãos –, sem deixar de tecer algumas críticas ao anterior executivo.
Quem é o novo presidente da Junta de Freguesia da Ericeira?
O novo presidente da Junta de Freguesia conheceu a Ericeira com dois anos de idade, tendo nela crescido e criado as suas raízes. Foi também aqui que constituiu família e que os seus filhos cresceram. Hoje, com 61 anos de idade e considerando a sua experiência autárquica municipal durante dezasseis anos, propõe-se gerir os destinos da freguesia com a equipa que escolheu, para lhe dar uma expressão de maior qualidade de vida, a todos os níveis.
Que benefícios decorrem de tanto a Câmara de Mafra como a Junta de Freguesia da Ericeira serem PSD?
O bom entendimento e a confiança que existem entre os autarcas responsáveis constituem pontos de partida para o desenvolvimento de uma profícua colaboração institucional.
E, já agora, que relação tem com Hélder Sousa Silva? Considera que a Ericeira poderá beneficiar por ter um presidente de Câmara mais sensível às questões da nossa terra?
A relação que tenho com o Hélder Sousa Silva, agora presidente da Câmara Municipal, é de amizade e partilha de muitas das preocupações que temos quanto ao que há a fazer agora no Concelho de Mafra e, em particular, na Freguesia da Ericeira.
Um mandato autárquico tem quatro anos de trabalho diário permanente.
Esses benefícios podem também significar mais dinheiro? Vai pedir uma dotação orçamental mais forte para a Ericeira?
Todos sabemos que, pela crise que o país atravessa, as disponibilidades financeiras são diminutas, pelo que não está no nosso propósito pedir um reforço de verbas a protocolar com a Câmara Municipal, mas sim manter as que foram consignadas em anteriores mandatos e efectuar a sua devida rentabilização. Em abono da verdade, diga-se que, embora tenha sido propalado que, durante os últimos quatro anos, se verificou um decréscimo significativo nas verbas disponibilizadas pelo município à freguesia da Ericeira em relação a anteriores mandatos, tal é uma perfeita falácia. O que não houve foi capacidade ou vontade de executar as tarefas a que essas verbas se destinavam. Um mandato autárquico tem quatro anos de trabalho diário permanente, não uns quantos meses no início e outros tantos antes das eleições.
Quais são efetivamente as competências da Junta de Freguesia?
As competências da Junta de Freguesia são as que estão consignadas na lei. Porém, quando há uma preocupação permanente com o bem-estar das pessoas, é possível ir além. A melhoria da qualidade de vida dos cidadãos (uma matéria a que os eleitos locais estão obrigados, permanentemente, a dar resposta) não poderá ficar “amarrada” só à gestão orçamental.
Nesta conjuntura de crise financeira será necessária muita imaginação para gerir o orçamento da Junta?
É certo que são necessárias verbas para gerir “casa” desta natureza, mas é precisamente no termo “imaginação”, usado na pergunta, que estará a chave para a resolução de muitos dos problemas que se nos deparam na área de toda a freguesia. Não me canso, nem me cansarei de repetir, que a freguesia são todos os lugares que a compõem e não apenas o núcleo da vila que se encontra entre a EN-247 e a costa atlântica, embora este exija um maior cuidado sob o ponto de vista turístico.
Tem alguma medida mais urgente que ache necessário ser tomada no início do seu mandato?
Ao estado a que algumas coisas chegaram, todas as medidas são de iniciação urgente. Contudo, as de imediata resolução são a dignificação do cemitério paroquial, que está com um aspecto de total desprezo, e o reforço da acção social, pois há cada vez mais pessoas a precisar de ajuda. Queremos voltar a proporcionar o cuidado permanente de limpeza e higiene urbana, que se veio a degradar ao longo dos últimos anos e se encontra num desleixo incompreensível, bem como abrir os sanitários públicos. As nossas preocupações passam, também, pela melhoria das condições de circulação e segurança do tráfego pedonal e rodoviário, estando incluídas nestas, necessariamente, as relativas ao estacionamento.
E para os próximos quatro anos, há alguma obra de maior monta que gostasse de ver concretizada?
Quanto a obras, escasseando as verbas, enumeramos duas como imprescindíveis e que terão que ser realizadas pela Câmara Municipal, que está em perfeita sintonia connosco quanto à sua necessidade: a beneficiação da entrada na vila pelo lado da EN-116, no entroncamento com a EN-247; e o arranjo e reformulação do estacionamento no Largo dos Condes da Ericeira. Outra das nossas preocupações é o Porto de Pesca e as suas condições operacionais. Faremos tudo o que estiver ao nosso alcance para que a pesca profissional subsista, paralelamente à desportiva. Em suma, será um mandato de poucas obras, mas de maior proximidade e colaboração com as pessoas e associações, procurando criar sinergias que beneficiem e interliguem os vários agentes da nossa comunidade. É tempo de priorizarmos, através do trabalho conjunto, o desenvolvimento harmonioso da freguesia, pondo de lado um certo espírito, ainda reinante, centrado na gestão unipessoal da “quinta” de cada um.
A Ericeira só sobrevive com turismo e tudo o que lhe está relacionado.
Neste verão houve algumas pessoas que consideraram desadequada alguma da animação contratada para actuar no palco montado na Praça da República (Jogo da Bola), sobretudo comerciantes, que se queixavam do volume de som dos concertos e da qualidade dos mesmos. Quem é que programa este tipo de animação?
Uma coisa é certa: para alguns que vêem a Ericeira só como um local de residência, não reconhecendo nela um local privilegiado para o turismo, direi que a freguesia só sobrevive com turismo e com tudo o que lhe está relacionado, nomeadamente com o atrativo da sua vida nocturna, que no Verão passado adquiriu um novo estatuto com o apelidado “Bairro Alto da Ericeira”, que obviamente terá que ter regras bem definidas, mas em nosso entender será para continuar. No que concerne à animação que habitualmente se vem realizando na Praça da República, esta era realizada e/ou patrocinada, em tempos, quer pela Junta de Freguesia, quer pela Junta de Turismo. Desde que esta última entidade foi extinta, passou a ser realizada directamente pela Câmara Municipal e, algumas vezes, pela Junta de Freguesia.
Há possibilidade de mudar alguma coisa?
Achamos que, a continuar a haver animação naquele local, deverá ser promovida em colaboração pelas duas autarquias, de tipologia adequada às características do mesmo e nunca deixando um palco montado, todo o Verão, no meio da Praça da República, que é um espaço de convívio e ex-libris da vila. Para certo tipo de espectáculos mais ruidosos, teremos que equacionar, também, a procura de locais alternativos.
Os funcionários da Junta começaram a cumprir agora um horário de quarenta horas semanais. Algo mais mudará consigo na presidência?
As mudanças na gestão da Junta por mim presidida passam, necessariamente, por reequacionar as funções do pessoal, disciplinando e reorientando os seus procedimentos. Durante a campanha eleitoral, alguém espalhou a notícia de que se eu ganhasse as eleições iria despedir muita gente. Nunca tal foi sequer ponderado, embora entenda que são necessárias alterações na gestão do pessoal, pois é sabido que, nos últimos anos, esta tem andado um pouco à deriva. Outra das matérias que terá de ser revista é a gestão e utilização das viaturas, já que, pelo que tenho observado, a prática que tem sido seguida poderá não ter sido a mais correcta.
Pretendemos que a Ericeira seja vista e sentida como expoente da qualidade de vida.
A Ericeira não deveria voltar a ser concelho, pela importância que tem no panorama nacional e até fora de Portugal?
Sou muito claro e objectivo quanto a essa matéria: a Ericeira tem a importância que tem pelas suas características, pelas suas gentes e, principalmente, pelo cuidado que todos, autarcas e população, lhe queiramos dedicar, e não pelo facto de poder ser administrativamente classificada como concelho. Foi um sonho que alguns acalentaram durante algum tempo, mas é um sonho irrealizável, agora até pela reforma administrativa que, há pouco tempo, conduziu à redução do número de freguesias e se prepara para, no futuro, diminuir o número de concelhos.
Como é que quer a Ericeira daqui a quatro anos?
Mais do que querer que os eleitores se revejam plenamente na escolha que fizeram, pois é um sinal de que não gorámos as suas expectativas, pretendemos que a Ericeira seja vista e sentida como expoente da qualidade de vida, um local agradável para viver e visitar – aquele sítio “à beira-mar plantado” que é referência para o turismo, nas vertentes do lazer, da cultura, da gastronomia e do desporto, com uma incidência cada vez mais forte na prática do surf e nas suas competições.