Fotografia: Rodrigo Cabrita / Wort
No início deste mês, o jornal luxemburguês Wort lançou um artigo dividido em quatro partes, em formato de entrevista, protagonizado por Gerard Hoss e a filha, Catarina Hoss, onde os dois falam da relação entre Luxemburgo e Portugal e da sua paixão por este país, inclusivé da sua relação com a Ericeira, no âmbito de uma série de reportagens intitulada “Luxemburgueses felizes em Portugal”.
Qualquer jagoz conhece Gerard Hoss como o proprietário do bar Roude Léiw Club (Leão Vermelho) e dos restaurantes Luxembourg, mas mais que apenas um mestre da restauração, conhecido por fazer uma casa acolhedora e que recebe todos com enorme simpatia, Gerard faz questão de mostrar a paixão que tem pela Ericeira, bem visível desde logo na decoração dos seus estabelecimentos, misturando vários elementos da vila portuguesa e da sua terra natal.
Eu tenho dois corações, um que bate pelo Luxemburgo e outro que bate por Portugal
“Eu tenho dois corações, um que bate pelo Luxemburgo e outro que bate por Portugal”, assume o luxemburguês, contando várias histórias acumuladas ao longo de 48 anos de relação com a Ericeira – era aqui que passava as férias de Verão, quase todos os anos, com a mulher, portuguesa, e os dois filhos.
Para Gerard, algumas das razões para se ter mudado definitivamente para a vila jagoza foram o clima e a descontração local, contrastando, segundo o próprio, com a “disciplina séria dos luxemburgueses. Embora essa decisão de mudança tenha ocorrido devido aos problemas de saúde da sogra e ao cansaço da sua carreira num lugar de chefia de uma empresa internacional, esta foi uma escolha da qual nunca se arrependeu.
“Olhe só para este mar e este Sol. Janeiro e Fevereiro foram meses já de calor e de bom tempo. Quem troca isto pelo clima do Luxemburgo?”. Questiona Gerarad, completando o seu pensamento enquanto contempla o mar com a filha Catarina, que tal como os pais também se mudou com a família para a Ericeira.
“É maravilhoso poder viver junto ao mar, vir com as minhas filhas à praia depois da escola e toda esta liberdade que aqui sentimos”, confirma Catarina, nascida em Portugal e que aos seis meses de vida foi viver para o Luxemburgo.
A luso-luxemburguesa partilhou com o jornal Wort que “o impulso para a mudança chegou devido a uma desilusão profissional na vida desta antiga funcionária do departamento jurídico num instituto público, no Luxemburgo, a que se aliou o facto de a filha mais velha poder começar a escola primária já em Portugal. E aqui está, ‘feliz’, como define a caminhar pela praia descalça, numa manhã de Sol em Maio”.
Se adivinhasse a vida que temos agora aqui nesta vila, tinha vindo mais cedo para Portugal
Durante a entrevista, Catarina (que actualmente trabalha como consultora imobiliária) conta ao Wort que os luxemburgueses estão cada vez a comprar mais casas em locais como a Ericeira, Lisboa, Cascais e Santa Cruz, com o objectivo de passar férias. Uma procura por qualidade de vida, boas condições atmosféricas ou, talvez, pelo surf, fazem desta vila piscatória um local para dividir o tempo entre o país natal e Portugal.
“Se adivinhasse a vida que temos agora aqui nesta vila, tinha vindo mais cedo para Portugal. Não estou nada arrependida e não penso em regressar ao Luxemburgo”, salienta Catarina Hoss, que diz adorar o “mix de nacionalidades” que a Ericeira apresenta entre os seus habitantes na actualidade.
Já Gerard, ou “Geraldo” ou o “luxemburguês”, como costuma ser carinhosamente abordado pela comunidade local, continua a contar, com um sorriso estampado na cara, todas as vivências pelas quais passou e os capítulos que ainda está a escrever nesta terra: fala sobre o que o levou a abrir o seu primeiro restaurante e como ficou conhecido como o “kebab da Ericeira”, “culpando” o filho, que lhe deu a conhecer a especialidade turca numa das suas viagens.
Como nem tudo é um mar de rosas, o luxemburguês não conteve as palavras e deu a conhecer a sua opinião sobre aquilo que falta na Ericeira, nomeadamente a “visão futura”.
“Esta vila tem riquezas enormes, uma forte identidade e muito potencial. Tem características únicas e poderia ser um Monte Carlo português. A identidade está a desaparecer com o fecho, por exemplo, das tascas e restaurantes tradicionais porque os donos não conseguiram vencer a crise da pandemia, e não se investe em infra-estruturas de qualidade para o turismo e até para os habitantes. A prometida marina nunca foi construída, não há um casino e a vila está a transformar-se num dormitório”, frisa, sublinhando que “não se está a apostar no desenvolvimento sob o risco de a Ericeira deixar de ser atractiva no futuro”.
“O que será então dos nossos filhos e netos? Não estamos a construir nada para lhes deixar”, diz em tom desiludido. Esta paixão pela vila já lhe valeu até alguns convites para se candidatar a cargos na Junta de Freguesia, que recusou, partilhando as suas ideias como comentador na Rádio do Concelho de Mafra.
Problemas à parte, tanto a filha como o pai estão muito felizes a viver na Ericeira e não pensam regressar a Luxemburgo.
É possível ler a entrevista original completa aqui.
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